#18.

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Quando dois aviões desceram no Japão ao mesmo tempo, um vindo da América Latina e outro diretamente de Roma, desconsiderando a conexão em Petersburgo, Nishinoya se distraiu encarando Azumane descer do desembarque com sua bagagem antes mesmo de todos os passageiros descerem atrás dele.

Tinha a confiável mochila amarrada às costas, ainda intacta por pura reza, então não precisava nem se preocupar com o despache de malas. Poderia ficar ali o dia todo, vendo Azumane andar pelo aeroporto, falando no telefone, maduro e elegante e um puto partido de um homem como ele nunca imaginou que seu namorado complicado de ensino médio pudesse ser.

Ele nem tinha o visto ainda. Claro que não podia saber que os dois aviões chegariam ao mesmo tempo – dificilmente poderia esperar ver Noya de novo naquele ano, com o jeito que as coisas foram entre eles. Quando o sucesso de ambas as carreiras (ou da ausência de uma) significava viagens, viagens, viagens o tempo todo, a distância virava o novo padrão de estabilidade.

...Noya gastou alguns minutos de seu tempo encarando Azumane, falando seriamente ao telefone, sem nem olhar em sua direção. Nada tinha do jeito acabado e sonolento de quem viaja por horas a fio, ou eram só os olhos de Noya mesmo... Poderia muito bem estar esperando que uma limousine o buscasse diretamente dentro do aeroporto e o levasse direto para seu novo loft sofisticado no topo de algum morro, onde o pôr-do-Sol batia em todas as janelas com aquela luz laranja dos filmes.

E ele nem olhou na direção de Noya.

Seria loucura demais atravessar a sessão de desembarque e se jogar nos braços dele para um beijo agora? Seria, definitivamente – mas como era aquele ditado sobre aeroportos que viam mais beijos verdadeiros do que muitas igrejas?

Azumane baixou o telefone do ouvido, soltou um suspiro cansado e saiu na direção dos portões de desembarque – Nishinoya virou as costas no último minuto, de repente rezando para não ser reconhecido, porque lhe faltariam as mil palavras para explicar o beijo depois. Nem sabia dizer quando foi a última vez que esteve no mesmo cômodo que Azumane por mais que um punhado de horas, e ainda se garantia em pensar nele como um namorado. Um namorado a loooonga distância. Que punha tanto sentimento na voz ao falar com ele pelo telefone quanto devia pôr para essas pessoas importantes da indústria da moda com quem falava o dia todo, Coco Chanel, Christian Dior, e quem o caralho mais o fosse.

Não estaria se precipitando em assumir que ainda tinham qualquer coisa? Que Asahi não tinha esquecido, em algum momento ao longo de sete anos, que sequer estivera compromissado com um garoto fútil e completamente descuidado com como vivia?

Antes que pudesse continuar e se deprimir ainda mais com a silhueta alta e imponente de Azumane se distanciando, Noya sentiu um esbarrão no ombro – teve que erguer o olhar para procurar com quem caçar briga, claro, e a única coisa que o impediu foi reconhecer o rosto de quem estava prestes a pedir desculpa. Desistiu completamente ao ver que o reconhecimento era mútuo.

- ...Desculpa, nós nos conhecemos?

- Acho que sim. Você jogou pro Seijoh no ensino médio? Capitão do time de vôlei?

- É, sou eu mesmo! – Oikawa Tooru confessou, e julgando a memória confiável e detalhista de Nishinoya, as únicas diferenças nele eram que tinha crescido para os lados (ele tinha músculos ou bigornas inteiras nos ombros? Pelo amor de Deus), um bronzeado estonteante e um jeito maduro de galã ainda mais atraente do que seu antigo jeito de aluno perfeitinho de quem todas as garotas gostavam. – Mas eu não lembro de você, desculpa.

- Eu fui líbero da Karasuno.

- Líbero da... Nossa, é mesmo! Não ouço esse nome a tanto tempo. Como anda o Tampinha? Ele não virou profissional?

- O Shoyo? Difícil dizer, eu fiquei fora por... Um bom tempo.

Por falta de assunto pertinente, os olhos de Nishinoya caíram para tudo que o Oikawa Tooru portava – uma jaqueta esportiva com uma enorme bandeira argentina no peito era o detalhe mais gritante nele.

- Então você voltou da Argentina?

- É! Trabalhei em um time lá por um tempo, me convocaram para as Olímpiadas, mas eu fiquei um pouco mais do que devia... Parece que nasci pra falar espanhol!

- Bacana! Bacana mesmo. Eu fiz um mochilão pela América Central, acho que meu espanhol vai ser um tanto diferente do seu...

Nishinoya não poderia fazer mais óbvio que tentava fugir do assunto, que tentava fugir do aeroporto e voltar ao que poderia chamar de casa o mais rápido possível, mas felizmente Oikawa não postergou o assunto. Reconheceu alguém na imensidão fria e industrial do aeroporto e, diferente de Nishinoya, sentiu uma queimação de boas-vindas a quem nunca tinha deixado seu coração ou pensamentos, em nenhum momento.

- Bom ver você de novo, mas meu carona já chegou – Foi tudo que ele disse, distanciando-se do encontro sortudo para lançar-se em seu carona, o amigo a quem ele confiaria a própria vida. – Iwa-chan!

- Bom ver você de novo, 'Kawa.

Iwaizumi apertou Oikawa de volta o máximo que se permitiu, esquecendo-se com o saudosismo da distância como era manter uma amizade com ele; era simplesmente bom ter o calor dele por perto de novo, por quem quer que seu coração batesse dessa vez. Tinha se acostumado, sério.

- Então você sai da Argentina, mas traz a Argentina com você?

- Na verdade, eu trouxe um pouquinho do Brasil comigo – Oikawa corrigiu, e Iwaizumi só deu um aceno compreensivo, como quem diz "tá bom, se você 'tá dizendo." – Dei uma passeada por esse outro lado da fronteira, e encontrei o Tampinha—lembra dele? Que tinha aquele ataque rápido doido com o Tobio-chan?

- Claro que lembro. Ele assombrou meu último ano de ensino médio.

Pensar que eu poderia perder você pra sempre pro seu próprio feliz também se assombrou.

- Então! Ele me disse que ia ficar por lá uns dois anos, adivinha, pra jogar mais vôlei. Ele não fala uma palavra de espanhol, mas a língua dos brasileiros é tão linda que eu fiquei morrendo de vontade de aprender! Você acha que se eu ligar, ele me ensina?

- Acho que se você ligar, ele vai dizer que 'tá esperando um pedido de casamento – Iwaizumi provocou, testando ainda a apuração de Oikawa pela boa e velha fofoca. E sua cara de curiosidade só podia ser descrita como impagável.

- Quê? É sério? De quem?!

- Adivinha.

- Ai, eu não faço ideia! Eu não lembro de quase mais ninguém daquele colégio deles!

- Qual é, você mesmo apostou neles no começo. Disse que ele tinha o cara comendo na palma da mão dele...

Enquanto Oikawa pensava com muito mais afinco do que devia (tomar Sol na costa brasileira tinha danificado tanto assim seu cérebro?), Iwaizumi não pôde deixar de notar que nenhum dois fez o menor esforço para romper o abraço caloroso de boas-vindas. Nem ele tinha sonhado tirar os braços dos arredores de Tooru, nem ele tinha cogitado se afastar à distância normal entre amigos...

Iwaizumi tomou a iniciativa de restaurar o que eles tinham de normal, o que nunca mudaria entre eles: serem só amigos, enquanto Oikawa buscava o ápice da tranquilidade e equilíbrio em sua vida, como era guiado a fazer por seu estranho santo, e Iwaizumi dando-o todo o espaço que poderia querer. Espaço para serem só amigos.

Espaço para nunca fazer nada a respeito da paixão que nutria por ele desde que os dois se entendiam por gente, porque não seria ele a arruinar o equilíbrio na vida de Tooru, jamais.

- O Kageyama me contou que 'tá namorando o Tampinha, e quer pedir a mão dele o mais rápido possível. Se eu tenho que dizer, aquele "sim" 'tá garantido a anos.

- O Tobio-chan? Com o Tampinha?! Por que é que eu não vi isso antes?

Iwaizumi lançou um braço ao redor de seu ombro. Oikawa podia resistir aos prazeres em nome de sua religião: não bebia, não fumava, era quase um puritano. Iwaizumi já não era tão resistente.

- Claro que viu, você mesmo disse que eles ainda ficavam juntos...

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora