#27.

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- ...Você tem certeza que quer fazer isso?

O maior problema de Atsumu não era a perspectiva de ir à terapia pela primeira vez na vida, tendo crescido em uma casa onde o que não era resolvido pela conversa era resolvido no punho com seu irmão ou no divórcio de seus pais. Era a cara de impossível tranquilidade de Kiyoomi em trazer seus problemas de relacionamento a uma especialista, que descobriria hoje como os cérebros dos dois funcionavam.

- Claro que tenho. Fui eu quem dei a ideia de virmos até aqui – Sakusa o lembrou, tirando as mãos do bolso para tocar na campainha, não sem antes ajeitar a máscara no rosto. – E você?

Apesar da tranquilidade transbordando por todos os lados de Kiyoomi, talvez até um estranho alívio fosse perceptível ali no meio, Atsumu sabia que ele tinha que estar nervoso também. E não seria ele quem iria contra Kiyoomi em um passo tão significativo para o relacionamento dos dois.

Não era só sobre fazer Atsumu abrir os olhos aos próprios defeitos e a todas as vezes em que machucara Kiyoomi. Kiyoomi queria estar com Atsumu mais do que tudo. Só queria que parasse de sofrer por isso.

- Eu 'tô bem.

A terapeuta apareceu no segundo seguinte à primeira mentira de Atsumu – mechas rosa-choque se misturavam à raiz morena, os óculos de fundo-de-garrafa enaltecendo enormemente os olhos claros. Se não fosse pelas rugas de expressão por todo o rosto, não daria a impressão de ter mais que 25 anos. Ela recebeu os dois com um sorriso, sem uma palavra, e abriu espaço para entrarem em seu consultório.

O lugar era... Aconchegante, para ser gentil. Exigia respeito e, forçadamente, exalava tranquilidade: as formas coloridas em tonalidades escuras pintadas nas paredes, em padrões que tornava fácil a distração, os porta-retratos virados nas estantes, no meio de livros e mais livros. A terapeuta, doutora Sarumichi, sentou-se em uma poltrona e indicou o divã para os dois dividirem, mais confortável do que Atsumu achou que seria.

A postura de Sakusa não era nada menos que perfeita; Atsumu deixou o cotovelo encontrar o joelho, coluna dobrada como um C. Não conseguia tirar os olhos de Sakusa – e não no bom sentido. Por mais que a doutora perante eles parecesse uma tia tranquila que te faz perder o medo da vida adulta, como ele podia estar tão calmo?

- É a primeira vez em um bom tempo que eu tenho pacientes tão pontuais – A doutora imediatamente ressaltou, olhando entre os dois por um tempo; sua voz era doce e madura, e talvez ela tivesse nascido para a profissão que tinha, porque Atsumu relaxou um pouco sem perceber. – O que traz vocês até aqui?

- Um colega de trabalho nosso me sugeriu a terapia em casal depois de um... Infortúnio – Sakusa explicou, vendo que a língua de Atsumu continuaria amarrada por um tempo. O centímetro de distância entre os dois no mesmo sofá parecia uma sentença de morte. – Ele também 'tá se formando em Psicologia, então os conselhos dele nesse quesito tem outro peso pra mim...

- Então vocês dois trabalham no mesmo ambiente?

- Sim, trabalhamos no mesmo time. Somos atletas – Sakusa explicou, sucintamente.

- Jogadores de vôlei – Atsumu adicionou, portando o título com muito mais orgulho do que Sakusa, supunha. – Eu sou levantador e ele é um dos centrais.

A terapeuta tomou um minuto para anotar coisas em seu bloco de notas, e Atsumu encarou fixamente as mãos de Sakusa sobre seu colo. Só tinha um centímetro desconfortável separando o seu corpo do dele. Ainda assim... Talvez fosse melhor deixar como estava, como Kiyoomi queria que as coisas fossem.

Seria pior se ele procurasse a mão de Kiyoomi e ele o negasse. O benefício da dúvida já parecia uma bênção.

- Eu sei muito pouco de vôlei, me perdoem, mas... Eu entendo que suas posições são complementares?

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora