#7.

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Duas pessoas não estavam presentes no bar naquela noite quente e barulhenta. Dessas duas pessoas, uma delas se preparava para desistir de uma vida perfeitamente confortável e admirável quando vista de fora em nome do amor, tanto a si própria quanto a outra pessoa.

- Você... Disse que queria conversar?

Kiyoko concordou com um aceno, muda – sabia que Ryuu devia estar tão nervoso quanto ela, se não mais. Ela não era do tipo que pedia para conversar; se alguma coisa incomodava, ela mudava, e Ryuu só sabia quando estava feito.

Mas isso dependia dele, também. Dependia da confiança dele nela e, de acordo com Sugawara, no quanto ele a amava mais do que ao relacionamento que tinha com ela.

- ...Quando a Yachi voltou pra cidade... – Kiyoko começou, sentada na cama que os dois dividiam às vezes, os ombros encolhidos no corpo e a cabeça baixa encarando as próprias mãos. Tanaka estava sentado ao lado dela, tentando e falhando em encontrar seus olhos; ele, porém, apertou suas mãos e ela sentiu uma onda de conforto. – Não. Desculpa, me deixa começar de novo, porque essa história é... Mais velha.

- Pode falar. Eu vou ouvir tudo que você tem pra dizer.

Kiyoko mordeu o lábio com um sorriso nervoso, e engoliu a vontade de chorar. Qualquer mulher teria sorte em ter um homem como ele em suas vidas, ainda mais como Kiyoko o tinha – atado ao mindinho. Mas isso era... Para o bem dos dois. Ele merecia uma mulher que pudesse amá-lo melhor, que pudesse se deitar com ele sem ver outro rosto no escuro de seus olhos.

- Quando eu 'tava no último ano do ensino médio... Eu me apaixonei por uma garota.

Kiyoko queria não ter visto como Tanaka arregalou os olhos. É, é chocante, eu sei – é assustador até pra mim.

- Ela foi o meu primeiro amor. Sinto muito em mentir e dizer que foi você – Kiyoko continuou, apertando as mãos juntas, encolhendo-se ainda mais como se pudesse diminuir o fardo de sua existência. – Eu menti... Eu sinto muito.

- Tudo bem, tudo bem! Eu perdoo você. Continua.

...Nos poucos anos em que estiveram juntos, Kiyoko nunca chorou na frente de Ryuunosuke. Não tinha motivos – sua família tinha orgulho dela, ela tinha um bom emprego na loja, um parceiro amável e tudo o mais. Ela só percebia agora que, embora estivesse satisfeita com isso sua vida toda, não estava feliz. Tinha orgulho de sua vida, mas não no sentido de amar como vivia.

Ela durou todos esses dias em uma vida perfeitamente confortável e perfeitamente vazia. E partia o próprio coração ao libertar-se.

As primeiras lágrimas caíram dos olhos de Kiyoko, uma de cada lado, sem a menor pressa, e Ryuunosuke não soube o que fazer além de apertar as mãos dela com mais força. Ele também sabia que ela nunca tinha chorado na frente dele, e sabia que tinha um motivo muito maior do que ele.

- ...Ela era a garota mais doce do mundo. Ela nunca soube, mas eu venerava tudo que ela fazia, adorava cada passo e sentia que cada vez que ela respirava perto de mim era uma... Benção. Ela inteira era uma benção na minha vida. E aí eu me formei, e segui a minha vida por medo de abrir mão de tudo por uma garota, e ela seguiu a vida dela... E o caminho dela foi pra longe do meu. Até ela voltar à cidade e parar aqui na loja. E... No tempo que levou pra ela parar e conversar e comprar um par de tênis, eu só consegui pensar que ainda a amava. Ainda a amo.

O coração de Kiyoko poderia muito bem ter saído por sua língua no meio da enxurrada de confissões, porque ela mal o sentia mais no peito – não sentia nem o nervosismo ou o pavor que esperava sentir. Só se sentia... Leve. Livre.

- ...Isso tudo é sobre a Yachi?

Kiyoko não levantou a cabeça. Concordou com um aceno, um murmúrio. E caiu no choro, com soluços violentos.

Falar assim sobre uma garota parecia um sonho, uma coisa distante – dar um nome e um rosto que os dois conheciam à história tornava tudo terrivelmente real. Era real demais, ela já tinha contado tudo, e Ryuu sabia que ela estava disposta a largar mão da vida perfeita que construiu a ferro e fogo para fugir com uma garota que amou com 17 anos.

E uma garota que ainda amava. E uma garota que carregava um criadouro de borboletas no jeito meigo de ser, e que transferia esse criadouro para o interior de Kiyoko, onde ninguém mais alcançava, com um sorriso, uma palavra doce, um brilho nos olhos cor de melado. Uma garota que fazia ela se sentir viva – melhor, que a dava vontade de viver.

Kiyoko respirou fundo e parou de chorar. Ou melhor, as lágrimas pararam de vir. Ryuu abraçava a lateral de seu corpo, já que ela se encolhia em si mesma e não abria espaço para mais nada, nem ninguém. Ela se perguntou se Yachi caberia no meio de seus braços, até quando ela se encolhia, e sentiu de novo que traía o amor que Ryuu nutriu por ela durante todo tempo, traía todas as coisas que conquistou com a ajuda dele.

- Eu sei que é... Confuso. Turbulento. Mas... Eu não posso fazer isso com você, eu não posso usar você pra ter a vida que eu quero só porque é... Mais seguro. Mais confortável. Eu não posso privar você de estar com alguém que ama porque eu tenho medo de... De...

- De ser vista com outra mulher – Ryuu adivinhou, falando baixo como se tivesse medo de errar o que assumia. Kiyoko respirou fundo, um nó doloroso se formava em sua garganta, e ela se viu muda para concordar. Mesmo assim, acenou que sim. – Olha... Obrigado por confiar em mim e contar tudo isso, em primeiro lugar.

Kiyoko sorriu sozinha, seu peito doendo por mais motivos do que podia contar. Ela realmente não merecia um homem como Ryuu.

- Se você ama a Yacchan, fique com ela. Onde você estiver mais feliz é onde eu quero que você esteja. Pode continuar trabalhando aqui na loja comigo, pode contratar ela também, não faz diferença! Antes de ser minha parceira, você foi minha amiga, e eu quero o que for melhor pra você. Eu não guardo rancor nenhum, eu juro.

Era a terceira vez que Kiyoko caía no choro depois das lágrimas pararem de cair – dessa vez, ela abraçou Ryuu com força, como se dependesse disso. Em parte, dependia. Ter esse apoio incondicional, saber que era amada até mesmo quando ia embora, era tão... Era um alívio tão grande que Kiyoko não tinha o que fazer a não ser chorar.

Ryuu a abraçou de volta, suavemente, e apoiou o queixo no topo de sua cabeça – não era a primeira vez que ele fazia, mas era a primeira vez que Kiyoko apreciava o ato tanto quanto ele. Era o carinho de um melhor amigo, de um confidente, de um amor que transcendia todas as concepções de romance. Ela murmurou algumas dessas palavras em tom aliviado e elogioso, tão embrenhadas em soluços que tornaram-se ininteligíveis...

...Mas, de algum jeito, Tanaka sabia. Ele simplesmente sabia.



[n. a.: AAAAAAAAAAI PAPAI DELÍCIA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO

postando a esse hora pelo simples fato de: estava fora de casa até agora, acreditem se quiser. e na parte da manhã, quando eu estava de fato em casa, faltou luz. é.

volto no domingo que vem!! se o segundo ano do ensino médio não me matar até lá. se cuidem, meus amorecos, tio luka ama vcs!! <3]

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora