#19.

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Quando Kiyoko acordou ao lado da namorada por outra manhã, beijou suas pálpebras adormecidas e se preparou para o que prometia ser simplesmente outro dia comum de sua nova vida.

Não era tão comum assim porque ela estava de férias involuntárias – Tanaka tinha ligado na noite anterior só para avisar que fecharia a loja no dia seguinte, depois de ter ouvido que uns protestantes fariam uma passeata naquela avenida. Algo sobre um projeto de lei que foi prometido pelo ministro três anos antes e ainda não foi aprovado.

Assim, Kiyoko se levantou cedo, o sol carregado através das janelas agraciando seu passeio pelo loft sofisticadíssimo em que Yachi morava, ainda não acostumada a tanta elegância; só na caminhada propositalmente demorada até a cozinha, três dos quatro gatos da loira vieram esfregar as cabeças em sua perna e miar alto, pedindo por qualquer coisa. Quem dizia que gatos eram "tão independentes" nunca viu Miki subir nos ombros da dona enquanto ela trabalhava só por estar entediada.

A cozinha sempre tinha o cheiro deliciosamente fresco das ervas que Yachi cultivava em uma parede paralela à entrada, cheia de potinhos com os temperos mais variados: manjericão, hortelã, alguns tipos de pimenta, todos na qualidade mais admirável. Os únicos que não gostavam desse forte frescor natural, claro, eram os gatos.

Da geladeira, ela pegou um punhado de ovos e prontificou-se a fazer um café da manhã salgado, seguindo com seu plano silencioso de tirar Yachi de seu inconsciente vício pelos doces que ela esgueirava a todas as refeições; quando o cheiro dos mexidos começou a se alastrar pela casa, Yachi apareceu ainda de pijamas, coçando os olhos, seguindo instintivamente até o abraço da namorada.

Quando Yachi primeiro abraçou a namorada, afundando o rosto em seu ombro, e foi abraçada de volta com um braço só, nenhuma das duas disse uma só palavra; assim era a intimidade delas, calorosa e confortante, sem precisarem de mais que um toque para aproveitarem a companhia uma da outra.

Kiyoko largou a espátula e desligou o fogo quando começou a sentir um incomum enjoo com o cheiro dos ovos, mas não prestou muita atenção a isso – como poderia, com Yachi desperta o suficiente para erguer o corpo e paparicar seu pescoço com beijos?

- Bom dia – Ela cumprimentou enfim, em meio a risos provocados pelas cócegas do carinho tão singelo. Hitoka murmurou algo parecido com o repetir do cumprimento, ainda grogue, e só se soltou do aperto de Kiyoko para alcançar a cafeteira, sumindo na despensa para procurar os grãos que precisava, murmurando baixinho a melodia de alguma música que ocupava sua mente.

Kiyoko só a viu sair e sorriu sozinha; no que passou os ovos mexidos para um prato, de novo sentiu o enjoo, mas o ignorou de propósito. Já chegava a temporada das viroses e ataques de rinite, bronquite, sinusite e tudo o mais, mesmo... Não ficaria surpresa se tivesse que tirar um atestado em breve. Imaginou-se de cama e Yachi cuidando dela dia e noite, e algo sobre a ternura dessa cena fez seu coração bater mais forte, com aquela força estelar que ela associava à namorada desde que se conheceram.

Yachi voltou, afinal, com um pacote enorme de grãos de café na mão, e parou no caminho para beijar Kiyoko antes de uma se dirigir ao canto da cozinha todo dedicado às prensas e moedores que Yachi trazia das viagens e a outra para a sala de jantar, na mesa redonda que servia as duas e aos gatos com maestria em conforto.

- Você não vai trabalhar hoje, meu bem?

- Ryuu fechou a loja por hoje por causa daquela passeata. O ministro prometeu um projeto de lei e ele não chega na Câmara há uns... Três anos.

- Ah, eu ouvi. É um direito de proteção ambiental de algum tipo, eu acho... Entendo porque estão bravos. Se ninguém fizer pressão no governo, o governo não faz nada.

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora