- Obrigado por me receber tão tarde, Yui – Daichi agradeceu que Michimiya o convidou para sentar-se à sua sala, decorada em tons claros tão harmoniosos que eram um colírio aos olhos.
- Não por isso, Daichi! Você é sempre bem-vindo aqui, você sabe... – Yui continuou, olhando nos olhos dele através de seus cílios, coisa que fazia cada vez mais desde que parou de usar sandálias com saltos dentro de casa. Ela de repente se virou para a cozinha, desistindo de segurar suas mãos por algum instinto indefinido... – Eu vou fazer o jantar!
- Não precisa, Yui, eu nem posso ficar por muito tempo... É sério, eu não quero incomodar.
- Me deixa pelo menos te fazer um chá, então.
Enquanto falava, Michimiya apoiou as palmas na bancada de granito da cozinha, a camisola translúcida demonstrando com clareza tudo que era bom sobre ela, os cabelos que ela deixava crescer haviam alguns anos caindo sobre os ombros com um charme inocente exclusivo dela. Era um colírio para os olhos tão bom quanto a casa, talvez até melhor, com aqueles lábios rosados...
...E qualquer pessoa no mundo reconheceria isso. Qualquer pessoa menos Daichi, a quem ela se entregava sem hesitação, e que tinha uma imagem completamente diferente na cabeça.
- Um chá seria ótimo – Daichi cedeu, tirando o quepe estúpido do uniforme e sentando-se no sofá bege como se fosse só uma visita, como se Michimiya não estivesse contando os segundos para quando ele pedisse sua mão.
Michimiya só deu um aceno, esperando outra palavra dele – nada. Ele suspirou pesadamente, como fazia quando tinha algo duro para contá-la. Ele fez isso quando ele foi mandado para outra cidade a trabalho pela primeira vez, quando contou que seus pais queriam conhecê-la formalmente (eles eram tão rígidos! A casa inteira era tão fria e sem vida! Como podiam ter criado alguém tão maravilhoso quanto Daichi?), e agora... O que seria?
Mas Michimiya não ouviu uma palavra dele. Apertou o fecho do roupão transparente sobre o corpo, virou-se para o outro lado da bancada e tirou a chaleira de um armário baixo.
Daichi continuou sem dizer nada até Michimiya pôr a chaleira no fogão, fogo baixo, a água chiando baixinho do lado de dentro do metal.
- Então... Eu reencontrei um amigo meu. Da nossa época, acho que você vai lembrar dele.
Ah, então é isso! Michimiya suspirou de alívio, o som abafado pela chaleira, mais barulhenta e chata a cada segundo; ela aumentou o fogo um pouco, querendo encurtar as tensões do namorado o mais rápido possível. Claro, ele sempre ficava nervoso em reencontrar pessoas que conheceu anos antes, quando ainda não era o homem admirável, maduro e lindo que é hoje...
- Ah, um amigo! Que ótimo, Dai. Eu não me lembro muito dos meninos do seu antigo time – Michimiya disfarçou, encarando seu reflexo no brilho da chaleira; tinha que ter um rosto impassível e animado quando fosse lhe servir, e guardar a animação para mais tarde, quando ele se permitisse ser convencido a dormir na casa dela... – Só daqueles calouros, os dois que ainda jogam como profissionais. Um deles estava nas Olímpiadas uns anos atrás, né?
- Sim, sim, Kageyama jogou nas Olimpíadas no Rio. Mas... Não é nenhum deles, não.
Michimiya só deu um aceno com a cabeça, concentrada na chaleira. Bobinha como Daichi devia achar que ela era, ela sempre corria o risco de queimar ou estragar essas coisas, corria o constante risco de arruinar tudo se não estivesse sempre olhando para algum lugar que não era o rosto dele...
- Não me lembro de mais ninguém. Desculpa, meu bem, você sabe como eu sou com nomes.
- Tudo bem! É o Sugawara.
A chaleira começou a chiar em um volume ensurdecedor, e Michimiya estaria no mesmo volume se pudesse gritar o tanto quanto queria.
Claro que ela se lembrava de Sugawara. Koushi.
O ex-namorado.
Michimiya desligou o fogo, vendo sua expressão falsamente alegre sumir. Sem retorno e sem conserto. A chaleira ficou quieta, enfim, e Daichi ainda não tinha dito outra palavra.
- Ah, claro, o Sugawara. Como eu pude me esquecer dele? – Michimiya deu seu máximo para responder, e rezou para que não tivesse soado tão ácida quanto ouviu a si mesma ser.
Se ele ainda era só um amigo, Yui não tinha com o que se preocupar. Certo?
Certo?
- É, nós nos encontramos por um acaso esses dias, fomos ao mesmo jogo do Hinata... O outro calouro de quem você se lembra.
Michimiya continuou acenando com a cabeça, seus pensamentos barulhentos substituindo a chaleira de minutos antes, agora sendo derramada em duas xícaras. Nem mesmo o cheiro de jasmim podia anestesiá-la. Não podia nem ajudar.
Nada podia.
- Eu 'tava pensando em chamar ele pra tomar um café lá em casa, talvez, pôr as conversas em dia...
- Eu posso ir junto? – Michimiya perguntou, e talvez sua cara parecesse séria demais para o agrado de Daichi, que pareceu confuso antes de Michimiya se lembrar de sorrir. – Os amigos do meu amor são meus amigos, também!
- Ah. Claro! Fica à vontade, Yui. Isso é muito legal da sua parte.
Michimiya finalmente adiantou-se à mesinha de centro, com as duas xícaras cheirosas e fumegantes em uma bandeja, e sentou-se ao lado dele no sofá para dois que ela caridosamente chamava de assento do amor, e não só porque eles já tinham feito amor inúmeras vezes nesse mesmo assento...
Ela se sentou ao lado dele, enfim, e seus braços esbarraram um no outro. Ela sentiu aquela corrente elétrica deliciosa que percorria seu corpo inteiro toda vez que eles se tocavam, e esperou que ele passasse o braço ao redor da sua cintura.
E ele não fez nada. Nunca fazia. Mas tudo bem, Yui se contentaria em sonhar.
...Ela se lembrou, então, das suas intenções de convencê-lo a dormir ali, a dormir com ela, e inventou na ponta da língua que o quarto estava uma bagunça, se ele percebesse e perguntasse qualquer coisa. Ele teria que implorar para tocá-la hoje, se quisesse que ela mantivesse suas intenções.
Mas ele não fez nada além de baixar a xícara, já vazia, e finalmente abraçá-la pela lateral de seu corpo. Seu toque parecia frio. Michimiya ficou rígida, gélida, sob o aperto dele, porque não era mais o que ela queria.
Queria que ele mostrasse que a queria, que a amava, que era tão louco por ela quanto ela era por ele. E daí que ela era "exigente demais", como a mãe dele vivia dizendo por mensagens, e como ele insistia em não negar? Ela era exigente demais porque entregava demais à relação para não receber quase nada em troca. Abria o decote e as pernas para receber um abraço pela metade.
E agora que o ex-namorado voltava à jogada? Fosse como amigo ou quaisquer outros caralhos que o fosse, Michimiya não seria jogada de escanteio.
Daichi a escolheria. Em algum momento, ela pararia de contar os segundos até ele pedir sua mão e mostrar-se realmente apaixonado por ela.
Ele não teria nem outra escolha.
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Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Fanfiction" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...