#13.

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Cheio de adrenalina e alegria como estava, Sugawara nem se assustou quando alguém o cutucou no meio dos aplausos finais depois outro jogo brilhante de Hinata – seu estômago esperou para gelar completamente quando ele se virou e reconheceu Daichi, com um sorriso infantilmente meigo e sem a farda de policial.

- Bom ver você aqui – Daichi cumprimentou, como se não percebesse que só sua aparição sumiu com toda e qualquer alegria de Sugawara. Bom ver você aqui, infelizmente você não vai poder dizer o mesmo de mim.

- É... Oi, Sawamura.

No instante que a menor comoção se deu no plano da quadra, à menor indicação de que os jogadores estavam liberados para rever os amigos na arquibancada, Sugawara tentou sumir na multidão e despistar Daichi de vez – honestamente, a última coisa que ele precisava era ter um ex-namorado tentando arduamente voltar à sua vida bem quando tudo entrava nos eixos de novo.

Mas Daichi era mais inteligente do que se pensaria – e muito mais ágil do que Sugawara se lembrava. Antes que ele pudesse sumir em meio às massas, Daichi o segurou pelo pulso, como se sua resistência fosse mero peso pena e não o soltou de novo até o resto das pessoas nas arquibancadas se espalharem pelo enorme ginásio. Não tinha nem a desculpa de disfarçar a fuga agora.

- Uhm... Com licença? Eu gostaria de ver o Hinata – Sugawara pediu, com toda a intenção de ser passivo-agressivo, com toda a intenção de tirar Daichi de sua cola.

- Claro, você pode ir ver o Hinata, dar os parabéns pelo jogo maravilhoso e tudo o mais, tenho certeza que ele vai ficar mais do que feliz em ver você. Mas eu posso conversar com você por um minuto só antes disso?

Sugawara cruzou os braços, mas pensou antes de dar seu "não" – olhou de esguelha para onde a cabeleira ruiva de Hinata era impossível de não ver, cercado de fãs de todas as idades, das comemorações dos colegas de time, uma hora com a cabeça embaixo do braço impossivelmente musculoso de Bokuto, e na outra, correndo de encontro a alguém... Aquele era Kageyama – e os dois estavam se beijando?

Sugawara fez um mero aceno para dar a Daichi seu minuto. Hinata se viraria por um minuto sem ele.

- Okay, obrigado. Eu... 'Tô profundamente arrependido do que eu fiz com você.

Sugawara quase riu – cheio de escárnio, claro, mas optou por ter o mínimo de decência humana.

- Arrependido do quê, exatamente?

- De ter deixado você pra ficar com a Yui. Eu seriamente me arrependo.

- E agora você quer voltar pra mim?

Olha, Sugawara tinha dito aquilo como uma piada, porque não era possível que uma das pessoas mais maduras que Suga já conheceu achasse que terminar um relacionamento para entrar em outro, permanecer cinco anos no segundo relacionamento e voltar ao primeiro quando tudo desse errado fosse, além de plenamente possível, aceitável e correto. Mas o silêncio constrangido de Daichi dizia exatamente o que ele temia.

Era isso que Daichi queria. Tinha se arrependido de se relacionar com Yui e queria reatar com Suga. Cinco anos depois.

Os dois ficaram em silêncio por um segundo, Sugawara processando o absurdo do que ouvia e Sawamura calculando silenciosamente onde tinha feito, o que poderia fazer, o que poderia corrigir.

- Você deve achar que eu sou idiota.

- Suga—

- Não tem outra explicação plausível – Sugawara continuou, propositalmente ignorando a interrupção. – Você terminou comigo para ficar com outra pessoa, com a Yui. Tudo bem, eu respeitei sua decisão naquela época, e ainda respeito! Agora... Você não pode esperar voltar cinco anos depois e descobrir que, magicamente, nada mudou.

- Suga... – Sugawara, na verdade, estava mais do que disposto a deixar Daichi se defender. Tornaria essa discussão justa, correta, imparcial, como devia ser. Mas ele sequer tinha palavras para se defender, só ficava lá fazendo cara de cachorro perdido e fingindo que tinha o que dizer, afinal.

Suga descruzou os braços. Não tinha nem forças para debater uma baboseira dessas agora.

- A sua vida seguiu sem mim enquanto ela ainda estava interligada com a minha, Daichi. Eu respeitei isso. E a minha seguiu em frente depois que você saiu dela, e eu não quero te implorar pra respeitar.

Sugawara conseguia entender, intimamente, racionalmente, como já tinha amado Daichi um dia. Se Daichi ainda o amava, ou se estava tentando se convencer de que ainda o amava, escapava completamente de sua capacidade de razão e de seus interesses ao todo.

- Você vai falar mais alguma coisa?

- Eu... Tenho pelo menos uma chance de conquistar você de volta?

Cachorro!

Sugawara respirou fundo, incrivelmente fundo. Graças a Deus o trabalho no jardim de infância o ajudou a trabalhar com paciência com todo e qualquer absurdo que o cercasse, porque se não fosse por isso...

- Se você conseguir provar pra mim que não é tão babaca quanto você pareceu agora, talvez. 'Tô aberto às possibilidades.

Sugawara se surpreendeu em ver que nem ele tinha certeza se estava sendo irônico. Decidiu não dedicar mais um segundo de seu precioso tempo e de sua paciência quase esgotada a isso – Daichi já tinha gasto seu minuto e mais um pouco. Testou a veracidade da palavra dela – afastou-se aos poucos, ele ficou no lugar, e okay, ele vai me deixar ir embora mesmo, e Sugawara escapou para a quadra o mais rápido possível.

Sawamura, enquanto isso, ainda pesava as últimas palavras dela. Estou aberto a possibilidades – isso era um sim? Um não? Um talvez, que era possivelmente a pior das respostas? Pelo menos uma coisa ele deixou clara – impossível não era!

A verdade absoluta é que Daichi é terrível em se expressar com palavras.

A ambiguidade, querendo ou não, era sua parceira de discurso grande parte do tempo. Isso causou tantas discussões entre ele e a agora ex-namorada que dava dor de cabeça só de pensar – ela "exigia" que ele expressasse o que sentia por ela sempre que ela quisesse, do jeito que ela quisesse, e Daichi se desdobrava em cinquenta para não piorar o humor dela. As vezes em que conseguiu deixá-la mais tranquila foram poucas no começo, e menos ainda com o passar dos anos.

...Daichi sentia falta de ter um parceiro, um confidente de verdade, ao invés de alguém que dependia dele emocionalmente. Ela parecia ter perdido toda e qualquer noção de independência depois de tempo o suficiente no relacionamento. Era decepcionante, era estressante, Daichi tinha certeza de que não foi com aquilo que ele concordou quando a pediu para ser sua namorada anos antes, e seu barco de volta para casa se afastava do porto com narizes empinados e palavras ácidas.

Você deve achar que eu sou idiota.

...Daichi ainda era terrível em se expressar com palavras. Era pior ainda quando o amor estava envolvido.

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora