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A primeira vez que Daichi viu Sugawara em alguns anos foi na porta de um estádio, no meio de uma multidão, e ele estava tão lindo quanto na última vez em que se viram. Até mais.

Talvez Sugawara parecesse mais bonito por estar revigorado – tinha nos braços alguns braceletes coloridos, e deu-se o trabalho de cachear ligeiramente os cabelos, configurando um rostinho de Príncipe Encantado – diferente da última vez em que Daichi o viu.

Porque na última vez, ele deu as costas enquanto Suga chorava o coração que ele tinha partido. Esse ainda era seu maior arrependimento.

Olha, ele devia estar cuidando do trânsito, mas o que fazer se a multidão na calçada era maior apelo aos olhos que as estradas vazias àquela hora da manhã? Ele olhou para os dois lados, como era digno – tinha mais medo dos colegas policiais flagrando-o faltando serviço do que da possibilidade de ser atropelado – e, escondendo o quepe atrás do corpo, andou com cautela até ele.

- Suga?

Em toda a honestidade, Sugawara pareceu mais assustado em reconhecer quem o chamava do que em ser chamado tão repentinamente de fato, e Daichi estaria mentindo se dissesse que não tinha se magoado com isso.

- Ah... Daichi! – Ele cumprimentou, e só o nome na voz dele era música para os ouvidos de Daichi. – Que... Surpresa.

- É, faz um tempo, né? Eu só... 'Tava passando aqui e vi você, e achei que... Podia puxar assunto.

- E o uniforme de polícia é só fruto do acaso? – Sugawara questionou, em ar de provocação, e Daichi afastou o assunto como a uma mosca. Lá no fundo, ele adorava quando Suga brincava com ele assim, sem um pingo de misericórdia ou decência. Ainda adorava.

- Eu 'tô em turno, mas sem serviço, fazer o quê. Então, uhm... Você fez faculdade?

- Fiz, Pedagogia. E você passou no concurso que tanto queria – Sugawara afirmou, olhando de novo para o uniforme completo e perfeitamente vestido de Daichi. (Daichi se perguntou se ele estaria notando, também, a diferença entre a construção muscular do Daichi de alguns anos atrás, ou se isso seria pedir demais dele.) – Eu 'tô feliz por você.

Daichi sorriu de volta, sem saber o que responder – era uma habilidade terrivelmente nata de Sugawara, realmente, deixar Daichi sem palavras.

- Como anda a Yui?

Terrivelmente nata. Por algum motivo, ver Sugawara perguntando de Yui com tanta naturalidade era como uma facada no peito. Podia muito bem ser a intenção dele, deixar Daichi desconfortável e mostrar que estava amargurado com o novo relacionamento do seu primeiro namorado.

Mesmo que fizessem quase seis anos desde a última vez que eles se viram. Claro. O super maduro, bola-pra-frente, Sugawara Koushi, amargurado pelo mesmo término a seis anos. Talvez Daichi tivesse bebido antes do turno ou batido a cabeça em algum lugar e simplesmente esquecido disso.

- Ela... Anda bem. Abriu um salão de beleza.

- Que ótimo! Então... Diz que eu mandei lembranças.

- Hm— mhm, claro, eu digo.

Sugawara voltou sua atenção para o estádio, ainda esperando que as portas abrissem e ele pudesse oferecer seu apoio a Hinata na temporada nova, e também esperando que Daichi sumisse de vista. Daichi, que não nasceu ontem, sabia que ele tentava brutalmente encerrar o assunto e se recusava terminantemente a permitir que a primeira conversa dele com seu primeiro amor, depois de anos, terminasse com tanta amargura.

Sugawara ficou sem paciência.

- O que você quer, Daichi?

- Eu... Vi você aqui e queria conversar. Só isso.

- Nós já conversamos. Você não 'tá trabalhando?

- Eu só- eu... Sinto muito, Suga.

- Sente muito pelo quê?

Daichi se engasgou na possibilidade de palavras. Agora que repensava e recordava tudo, tinha tantas coisas pelas quais queria se desculpar – mas Sugawara, de nariz empinado e braços cruzados, não parecia nem um pouco disposto a ouvir. Muito menos a perdoar.

- Não quer fazer uma cena em público, de novo? – Sugawara cortou, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. – Eu não sei o que você 'tá tentando fazer. Já fazem quase seis anos. A sua vida não parou quando você me largou, claramente, e a minha também não.

As portas do estádio finalmente se abriram e a multidão começou a escorrer por elas. Sugawara deu uma última olhada para Daichi por cima do ombro – tão ácida que doía o coração.

- Com licença, eu tenho mais o que fazer, oficial.

E sumiu junto com a multidão, para dentro do estádio, e de novo... Com a sua vida que não se convergia mais com a de Daichi.

Okay. Isso tudo foi um erro. Tudo – e, quando Daichi pensa melhor, talvez seu erro tenha começado seis anos antes, quando ele deixou seu amado só e no escuro por medo de enfrentar o mundo, por uma covardia inconsequente que, embora ele não possuísse mais, induziu-o a erros que ele não podia corrigir.

Ou assim parecia. Suga era teimoso, mas não era absoluto, Daichi sabia. A insistência poderia, talvez – talvez – reconquistá-lo.

O pensamento de reconquistar Sugawara e reatar seu primeiro amor aqueceu seu coração mais do que deveria, e ele se perguntou como contaria tudo isso a Yui quando voltasse para casa.

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora