- Então você finalmente decidiu ligar?
- Se eu posso ser honesto, eu 'tava esperando você ligar primeiro.
Hinata se jogou no sofá de casa, já divertindo-se com os segundos de ligação que prometiam fazer sua manhã; segurou um riso com a perspectiva dele e de Kageyama, como dois idiotas dançando um ao redor do outro, esperando que um deles ligasse primeiro.
Se bem que eles já eram idiotas dançando um ao redor do outro há muito mais tempo. De repente, o pensamento não era tão engraçado assim.
- Eu não sabia quando seria uma boa hora – Kageyama continuou, e Hinata fez um sonzinho de concordância. – Eu lembrei que você disse que não tinha aula nas terças, então eu pensei que...
- Você lembrou dos meus horários? Eu só cuspi eles pra você, não achei que você fosse lembrar.
- Eu presto atenção nas coisas que você fala, muito obrigado – Hinata não se aguentou e tirou o celular do ouvido para rir deliciosamente; tinha se enganado sobre o assunto da terapia. Kageyama continuava tão irritadiço quanto era quando se conheceram, e Hinata ainda sabia apertar seus botões, mesmo sem querer. – Eu 'tô ouvindo você rindo aí, seu imbecil.
- Você ainda não melhorou o seu vocabulário pra me insultar, e isso é meio incrível.
- Eu só acho que nenhuma outra palavra do mundo descreve você melhor do que "imbecil", por isso eu não mudei.
Hinata continuou rindo, mergulhado por um momento ou dois na sensação de nostalgia que não revisitava a um tempo; meio mundo poderia ter dividido os dois até recentemente, mas eles continuavam os mesmos, e isso era um alívio.
- Eu senti falta de ouvir a sua risada – Kageyama disse de repente, quebrando o silêncio com aquele tom doce, que evocava em Hinata a memória do seu olhar de reconhecimento que mudou o lado para o qual o mundo girava por um mísero momento. – Eu... Nunca tive coragem de dizer, mas eu sempre gostei muito dela.
- Da— da minha risada?
- É. Sempre gostei.
Hinata não respondeu de imediato – como diabos poderia responder uma coisa dessas, vinda de alguém como ele? Só ficou onde estava, sentindo o coração perder a noção de com quem estava falando e assumir o ritmo de um bloco de carnaval. Se ele não sabia até então, tinha certeza agora – aquilo foi um flerte.
E Hinata se deu conta, como se a ficha não tivesse caído ainda: ele mudou. Os dois mudaram. Meio mundo de distância tornou os dois melhores... Um para o outro. Talvez ele não tivesse porque guardar aqueles rancores dos dias de formatura, afinal, e se machucar com o que seu otimismo doentio esperava para ele.
Antes que ele pudesse responder com algum elogio igualmente doce e ver onde dava, o celular vibrou em sua mão – ele desligaria imediatamente se não percebesse quem era o remetente, e arrepiou por um segundo com um tipo de excitação que não sabia descrever.
- Desculpa, você— você pode esperar um pouquinho? Tem outra pessoa na linha – Hinata pediu, e Kageyama concordou, apesar de parecer bem relutante em fazê-lo. E Hinata, por fim, atendeu a segunda chamada. – Oi, Kenma!
- Ei, Shoyo – Kenma cumprimentou de volta, com a voz de chapado com a qual Hinata se acostumou nos últimos anos. Tinham o whiskey puro como amigo comum para noites difíceis e nenhum dos dois podia julgar o outro por isso. – Eu interrompi alguma coisa?
- Não, não. Por quê?
- Hm. Eu ia só mandar uma mensagem, mas não sabia se você 'tava com o celular ou não, então... Eu preciso daquelas informações do seu gerente que você me passou mais cedo. Preciso de tudo por escrito.
- 'Tá bom. Me lembra pra quê?
- Pro seu patrocínio, ô gênio da lâmpada – Kenma provocou. – Eu disse que ia te patrocinar, mas tenho que falar com os seus superiores primeiro... Tenho que deixar tudo nos trincos pra quando a temporada começar. A propósito, me avisa também quando for o primeiro jogo, eu vou no estádio te assistir.
- Desse jeito eu fico até envergonhado – Hinata brincou, tirando um riso baixo de Kenma; apesar da amizade longa e íntima, era o máximo que ele conseguia, risos discretos. Não era Kuroo, afinal. – Mas e aí, como anda o casamento?
Hinata quase conseguiu ouvir o sorriso largo de Kenma pelo telefone.
- 'Tá tudo indo ótimo – Kenma disse, com o sorriso ainda mais evidente pela voz. Hinata poderia dizer quantas vezes fossem necessárias que namorava o relacionamento dos dois, principalmente porque foi o apoio emocional de Kenma quando eles enfrentaram os trancos e barrancos que antecederam o pedido de casamento mais romântico do milênio. – O Tetsu 'tá terminando de trazer as coisas aqui pra casa... Ele 'tá esperando um terno ficar pronto, eu 'tô procurando uma capela boa e ainda vamos decidir uma data. Mas é... Divertido. Eu sei que seria muito mais estressante se eu tivesse que fazer tudo isso com qualquer outra pessoa.
- Isso é ótimo. Tudo de bom pra vocês dois. Me avisa quando tiverem uma data!
- Eu vou te avisar antes, quando escolhermos os padrinhos – Kenma confessou, e Hinata reluziu de felicidade do outro lado da linha. – Eu não sei com quantos cada um vai ficar, mas tenho certeza que um dos meus vai ser você... E um dos dele vai ser o Bokuto.
- Com certeza. Isso é ótimo, mas, uhm, eu vou ter que desligar, eu deixei alguém na linha.
- E você disse que eu não 'tava interrompendo nada! Vai logo atender a coitada da pessoa – Hinata riu com a honestidade bruta de Kenma; desejou-o felicidades pelo casamento pela milionésima vez, despediram-se e Hinata quase se atropelou com o celular na pressa de ligar para Kageyama de novo.
Antes que pudesse dizer uma só palavra ao seu levantador favorito, porém, ouviu seu tom de raiva que conhecia quase intimamente demais para dizer que gostava dele.
- Com quem você 'tava falando?
Hinata franziu o cenho. Terminaram a ligação dois minutos antes em uma nota tão boa, de onde vinha todo esse incômodo? Conhecendo-o como Hinata conhecia, era melhor ser honesto...
- Com o Kenma.
- Você me deixou na linha pra falar com o Kozume? É sério?
- É... Era importante. Ele vai patrocinar minha próxima temporada.
- Ah, ele vai patrocinar você? Que maravilha. Não, é realmente ótimo... E é só você ou ele tem outros amigos que ele patrocina?
No meio dos resmungos de Kageyama, Hinata teve uma epifania. Era sem sentido, como eram a maioria das suas ideias e percepções, mas...
- Kageyama-kun... – Ele começou, com um ar tão divertido que Kageyama imediatamente parou de falar. – Você ficou com ciúmes?
Dois segundos de silêncio, e Kageyama desligou o telefone na cara de Hinata. Ele ficaria chocado se não tivesse a urgência de rir – estava certo! Era ciúmes!
Hinata digitou correndo uma mensagem dizendo "ISSO FOI FOFO" antes que Kageyama ficasse offline, e continuou rindo sozinho por um bom tempo. Ele continuava exatamente o mesmo, só que ainda mais adorável... Viu Kageyama se incomodar por muitas coisas, invejar e odiar muitas pessoas pelos mais diversos motivos, mas nunca por ciúmes!
Acabou deitado no sofá, abraçando o celular como uma relíquia da conversa, como se pudesse abraçar a memória exatamente desse jeito. Quanto mais pensava nele – e pensava muito nele, acredite – mais duvidava se suas mágoas valiam o tempo perdido ou se ele devia... Dar-se uma segunda chance de amar Tobio.
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Que História É Essa?! (Haikyuu!!)
Fanfiction" - São Longuinho, São Longuinho... Se eu achar o amor da minha vida, eu dou vinte pulinhos." No qual ex-jogadores de vôlei do ensino médio enfrentam as dificuldades e artimanhas da vida adulta. ✧*:.。. | Sequência ficcional / Caracterização LGBTQIAP...