#2.

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Voltar para casa depois de tanto tempo e ser recebida como uma estranha era surreal.

Talvez fosse melhor assim para algumas pessoas – pessoas que não tinham medo de mudança, de novidades, de fugir completamente da zona de conforto... E, indo mais fundo na ferida, pessoas que não tinham medo de serem abandonadas ou esquecidas. Pessoas completamente diferentes de Yachi.

Quando ela saiu da estação de metrô e foi agraciada pela costumeira bagunça e brisa primaveril de Miyagi, tomada por um cenário de nostalgia e uma infância tão, tão distante, Yachi respirou fundo e se sentiu verdadeiramente tranquila pela primeira vez em muito tempo. A vida profissional e prestigiosa que seguia em Tóquio era boa – principalmente o cachê das pesquisas de laboratório que "só eram um sucesso por causa da sua eficiência", como insistia o patrocinador – mas voltar para Miyagi, o primeiro lugar onde pôs os pés no chão e alçou voo, era tão...

Revigorante. Indescritível. Ela nem tinha percebido o quanto tinha sentido saudade dessa cidade mixuruca onde a vida abriu os braços com oportunidades para ela pela primeira vez.

Ela não avisou a ninguém que vinha – queria fazer surpresa! – mas se perguntava quantos dos amigos antigos ainda estavam na cidade, e quantos a reconheceriam logo de cara. Sabia que pelo menos dois dos quatro rapazes com quem ela dividiu as experiências de ensino médio seguiram carreira no vôlei, via seus rostos às vezes na TV...

Sabe o que seria divertido?, ela disse a si mesma, passeando pelos subúrbios da cidade que conhecia como a palma de sua mão, e ainda assim, estavam recheados de novidades. Jogar vôlei com eles de novo. Eu preciso de tênis esportivos novos, mesmo... Os que a minha mãe me deu quase não servem mais.

Depois de uns quinze minutos andando pela cidade e aspirando o ar nostálgico de casa, procurando uma loja de artigos esportivos, Yachi chegou ao centro sem prestar atenção como e se deparou com uma loja bonita, enorme, uma vitrine extremamente atraente... E, se não estava terrivelmente enganada, um rosto conhecido no atendimento...

Com uma coragem que lhe seria completamente estranha anos antes, Yachi entrou pela porta da frente e abriu um sorriso para a atendente, que ergueu os olhos para o soar do sino e nem foi discreta em deixar o queixo cair.

- Y— Yachi?

Shimizu não tinha mudado muito desde a última vez em que Yachi esteve na cidade, embora tivesse certamente amadurecido bastante. Ela já devia ter 25, 26 anos – e mantinha a beleza juvenil que esbanjava aos 17.

Yachi sorriu, feliz em reencontrar uma amiga logo de cara, mas havia algo de... Estranho na atmosfera entre elas. O jeito que Kiyoko a encarava era estranho – lembrava muito a primeira vez que Yachi a viu, lá na época do colégio, tão fascinada com a garota mais atraente que tinha visto na vida que sequer conseguia disfarçar.

Hm.

Qualquer que fosse seu transe, Kiyoko logo despertou dele e saiu detrás do balcão para abraçar a amiga, abrindo um sorriso perfeito com os dentes reluzentes. Olhando agora, Kiyoko tinha mudado bastante – largou os óculos e cortou o cabelo, enquanto Yachi disfarçava o grau preocupante de miopia com lentes e tinha deixado o cabelo crescer tanto que usá-lo solto era só em ocasiões especiais.

- Yachi! Eu achei que você estava em Tóquio! – Kiyoko riu sozinha, apertando Yachi em um abraço apertado e inesperado de tão afetuoso.

- Eu acabei de voltar. Não esperava ver um rosto conhecido tão cedo... – Yachi admitiu, distanciando-se gentilmente do abraço para admirar a amiga de novo. – Você 'tá tão bonita!

Kiyoko deu uma risada envergonhada, claramente corando, o que tirou Yachi de seus eixos por um momento. Shimizu Kiyoko, a garota mais cobiçada e bem-resolvida do mundo, corando por um elogio de Yachi. Ela tinha perdido alguma coisa antes de sair? Deixou passar alguma impressão, algum detalhe?

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora