#34.

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Yamaguchi acorda coberto de suor frio.

Kei não está em casa – ele saiu mais cedo para treinar, e como o bom companheiro que era, deixou Yamaguchi aproveitar seu dia de folga dormindo até mais tarde.

O problema não era estar sozinho em casa. O que perturbava Yamaguchi eram os sonhos repetitivos. Toda noite, desde aquela crise de paranoia no mercado. Desde a primeiríssima vez em que o viu, pela janela do apartamento.

Com a camisa colando nas costas, Yamaguchi abraçou o próprio corpo e se encolheu na cama. Ouvia o bater acelerado de seu coração zunindo nos ouvidos, as mãos trêmulas agarradas aos antebraços, todos os sintomas que conhecia de um iminente ataque de pânico. Tudo por causa de... Um sonho bobo.

Lembrar-se com clareza de um sonho era impossível, naturalmente, mas as imagens que o perseguiam estavam permanentemente queimadas em suas retinas. Figuras sem rosto, nada além de dois olhos enormes e profundos que o encaravam, sem piscar. Por mais que ele tentasse fugir dessas figuras, esses olhos o seguiam até o cercarem completamente.

E isso era... Tudo, porque nem mesmo as paranoias de Yamaguchi conseguiam considerar que fim aquela situação levaria. Mas só essa ideia de uma muralha de olhos o perseguindo aonde fosse... Sempre de olho em cada movimento seu, cheio de malícia...

Yamaguchi se forçou a se levantar da cama e ir tomar um banho quente. Entrar debaixo do chuveiro e deixar a água afogar todas as suas preocupações... Normalmente funcionava para amenizar seus medos, quando não podia apagá-los completamente de sua mente.

E Kei estaria em casa logo. E aí tudo voltaria ao normal, porque Tadashi estaria seguro.

Kei demorou mais do que Yamaguchi gostaria. Quando ele finalmente chegou em casa, o corpo todo quente e imperdoavelmente suado do treinamento, Yamaguchi estava jogado no sofá, assistindo um filme ruim qualquer para se distrair das possibilidades cruéis para justificar o atraso que sua mente ainda cuspia como um canhão.

- Fala sério, que tipo de canal de TV que se preze começa a passar filmes de Natal em agosto? – Tsukishima provocou, aninhando-se em Yamaguchi, que protestou com um resmungo brincalhão e começou a empurrá-lo para longe. – Não se faz de difícil, gracinha.

- Você 'tá nojento – Yamaguchi continuou protestando, ainda que segurando um riso. Tsukki era a única pessoa no mundo que poderia fazer suas preocupações evaporarem desse jeito. – 'Tá gosmento que nem um sapo.

- Não é gosma. É muco.

- Isso é pior ainda! Vai tomar um banho, depois eu penso se vou falar com você.

- Não fala assim comigo. É porque eu cheguei tarde? – Yamaguchi não diria, mas sim, era parte do problema. Ele podia pelo menos mandar uma mensagem. Podia impedir Yamaguchi de passar horas tremendo de medo de que Tsukishima tivesse sido sequestrado pela mesma pessoa que o perseguia pelas ruas. – Me desculpa, 'tá? O treinador segurou todo mundo pra fazer uns mil polichinelos de aquecimento, por causa da temporada...

- Hm. Tudo bem... Faz sentido, eu acho.

Kei claramente não se vendeu à resposta meia-boca, mas também não sabia de que outro jeito se justificar, ou como forçar Yamaguchi a desembuchar sobre o que ainda o incomodava. Então ele deixou como estava. Deu um beijo molhado no topo da cabeça de Yamaguchi e entrou no banheiro da suíte.

Yamaguchi continuou assistindo seu filme de Natal porcaria, sem se mover um centímetro de onde estava no sofá quando Kei chegou. Ele nem tinha percebido que era um filme de Natal. Só gostava dos cenários com neve... E da confeitaria da protagonista, completamente à prova de uma personalidade interessante. Tinham também uns charlatões tentando dar um golpe da confeitaria dela para revender o imóvel, ou algo do tipo.

Que História É Essa?! (Haikyuu!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora