Um frio ameno os envolvia. As gramíneas ao redor do jardim pareciam começar a recuperar a cor pouco a pouco, a luz de meio de tarde deixava todo o perímetro levemente alaranjado e as estátuas espalhadas pelo jardim marcavam os pontos pelos quais já haviam passado e os pelos quais ainda faltava passar.
Acabaram caminhando lado a lado.
Sakura havia se distraído com o caminho de pedras no chão; observava cada pedra em que pisava como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.
O perfume de Sasuke tão próximo. Ele, em si, tão próximo.
Não disseram uma única palavra desde que saíram da casa.
Ela sabia que precisava começar o assunto, que precisava contar para ele sobre sua decisão, porém ainda criava coragem para isso, porque não sabia aonde aquele diálogo os levaria. Sentia o coração se partir só de pensar no pior. Mais do que isso: Sakura sentia que algo de grande estava para acontecer e com certeza estava relacionado ao que tinha para contar a ele. A sensação que lhe tomava era de que as coisas jamais voltariam a ser as mesmas depois que contasse.
Por isso, por hora, contar as pedras no chão era bem mais atraente.
A propriedade que se estendia à frente era grande, repleta de gramíneas verde-acinzentadas e murada. Havia muito o que caminhar ainda. Ainda assim, Sakura prometeu a si mesma que começaria a falar quando chegassem perto da estátua de uma ninfa, que visualizava no horizonte.
Acabou não sendo necessário, porque, no fim, foi Sasuke quem começou a falar primeiro:
— Está com frio?
Ele devia estar perguntando aquilo em virtude de, apesar de ter se munido do cachecol vermelho de novo, ela permanecer de saia e sem casaco.
— Estou bem — respondeu Sakura, com sinceridade.
Sasuke caminhava despreocupadamente, com as mãos dentro dos bolsos. Sua expressão era estranhamente mais tranquila que o normal: ele aparentava estar, de certa forma, relaxado – tão relaxado que era quase um insulto! –.
— Quer tirar uma foto? — perguntou ele.
No ato, Sakura parou de andar, sem entender bem a razão daquela pergunta. Ele deu mais alguns passos e, quando virou, exibia um sorriso ladino repleto de ironia.
Claramente, Sasuke a provocava sobre repentinamente ter passado a olhar para ele enquanto caminhavam.
Ao notar, Sakura negou com a cabeça; tinha seu próprio sorriso carregado de ironia estampado no rosto. Ocorreu-lhe que podia ter evitado aquela instigação dele se tivesse permanecido concentrada nas pedras debaixo de seus pés.
"Droga, ele fica irresistível sorrindo desse jeito...", pensou ela.
Uma atmosfera lúdica os envolvia.
Até que, de repente, não envolvia mais.
Sakura se lembrou de novo do que precisava fazer e isso a fez reduzir o sorriso de antes à uma linha reta no rosto; encarou as pedras de novo enquanto voltava à caminhar ao lado dele.
— Você está bem? — ouvi-o perguntar.
A voz de Sasuke era distante para ela, tal que apenas concordou com a cabeça sem entrar em maiores detalhes.
Ainda não sabia bem por onde começar.
Decidiu, porém, indagá-lo antes, a fim de adiar as próprias palavras. No fim das contas, era Sasuke quem havia a chamado até ali e, se o fez, devia ter um bom motivo:
— O que você queria falar pessoalmente? — perguntou ela.
Ele não respondeu, apenas sacou de um dos bolsos da calça um punhado de envelopes. Em seguida, parou-a, aproximando-se dela com alguns passos, pegou-lhe uma das mãos e colocou-os nela. Sakura agarrou o punhado com curiosidade e permaneceu observando, sem ter certeza de se podia abri-los, quando Sasuke se afastou.
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End Game
Fanfiction[Parte 1 de 2 de "O Preço da Fama"] Após um terço da vida interpretando personagem homônima na famosa série da TV japonesa "Naruto", Sakura, que já não sabia nem se queria continuar no ramo da interpretação, é surpreendida com o pior final possível...