Capítulo 21

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"Como eu aguento guardar tanta coisa comigo, por tanto tempo? Como eu aguento pensar o tempo todo e não dizer sequer uma palavra? Como? Sufoca, sabia? Mas eu não consigo! Muita coisa do que eu sinto ninguém vai saber, muito segredo meu talvez eu nunca chegue a contar. E eu sou assim. Um acúmulo de palavras não ditas, de coisas escondidas, de pensamentos privados. Só que uma hora a gente explode. Ah, explode... Uma hora a gente sai contando tudo, só pra poder respirar. Uma hora a gente não aguenta mais e fala, desabafa. Mas algo sempre fica guardado com a gente. Sempre. Porque uma parte de nós é aquilo que ninguém desconfia."

      — João Pedro Bueno

***

— Opa!  O japa corno chegou — o crápula ri. E eu tenho vontade de socá-lo.

— Cala a porra da boca, Leandro!  — eu grito.

— Bruna, você pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? — empurro  Leandro para longe de mim, e vou para perto do meu amor.

— O que você está fazendo aqui, com esse cara?  — ele pergunta com a voz alterada — Aliás, não precisa nem dizer...  Eu sou muito burro mesmo.

— Isso eu sempre soube — Leandro ri e dessa vez eu não me seguro.

Parto para cima dele e, estapeio sua cara. Ele, de tão bêbado que está, nem se defende. Num impulso, o empurro forte, fazendo-o cair no chão.

— Eu não vou ficar aqui, vendo essa palhaçada — ouço Enzo dizer. E quando me viro, já não o vejo mais.

— Viu o que você fez, otário? — grito. Chuto a lateral do corpo de Leandro que, por sua vez, ainda está jogado no chão.

Corro para dentro do salão, à procura do meu Japa. Olho todo o local, mas não o vejo. Me aproximo de Beto, que estava logo ali, e pergunto:

— Você viu o Enzo?

— Não, Bru. Aconteceu algo? — ele me analisa.

— Não. Mas, obrigada — ele assente.

Vou até a entrada do salão, e suspiro aliviada ao encontrá-lo ali, sentado em um banco de madeira.

— Japa — chamo sua atenção, quando me aproximo. Mas, ele, sequer me olha.

— Eu não quero explicação nenhuma, Bruna. Eu estou chateado e ponto.

— Você vai mesmo deixar que o nosso namoro vire um daqueles clichês românticos  que um não deixa o outro se explicar?

Ele continuou calado, então eu prossegui:

— Eu devia ter te contado antes, mas, achei que isso não tivesse importância, até porque, para mim, não tem.

— Vá direto ao ponto, por favor.

— Ok... — respiro fundo — O Leandro é meu ex-namorado. — solto de uma vez.

E o Enzo, finalmente, me olha. Com uma expressão de espanto.

— O que?  — ele se exalta — Aquele otário é o seu ex?

Eu, com a cabeça baixa, apenas confirmo.

— Eu nunca contei, porque... Para mim, isso não tem importância mais. Sofri? Sofri, e muito. Mas, superei. E hoje...

— Aquele filho da puta! Então é por isso... — o Enzo diz, exaltado.

— Por isso, o que?

— Não lembro se te contei, mas... Na festa, em que nos conhecemos, ele veio me falar que você não prestava, e...

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