No dia seguinte, Edward acordou cedo para que deixasse a filha sobre os cuidados da sogra até que soubesse o que fazer. Saber que o demônio perseguia a moça de olhos azuis que ele era apaixonado, corroía sua alma por dentro.
E, cheio de angústia, Ed tomou sua bebê no colo ao amanhecer, antes mesmo que Lorraine acordasse, e partiu. Com seu carro e a filha, rumo à casa da sogra.
Batucou exasperado no volante no caminho de ida durante um tempo, mas logo decidiu que para acalmar o coração, precisaria de algo mais para aliviar a inquietude de sua alma. Então, suspirou enquanto insistia dirigindo, e ainda atento à rua, começou:
— Oi. É... Bom... Sou eu, de novo. — Disse. — Eu... Quero pedir que o Senhor cuide dela. — O Warren fez uma pausa, suspirando pesadamente. — Olha, eu sei que peço demais. Provável que já tenha te pedido coisas demais. Mas é pedir muito que defenda ela?! Ela em teoria é sua filha, não? Por que não protege ela dessa maldade? Por que não cuida para que Judy possa crescer com a mãe que entrega à ela o amor que vi ontem quando ela cedeu a alma ao próprio diabo para defender um bebê? Por que deixa que o demônio oprima os mais frágeis? Por que apenas não... Sabe... Cuida disso tudo?
Ed parou por um instante, analisando a menina pelo retrovisor. Judy dormia na cadeirinha sem ao menos se dar conta que toda aquela situação. Resmungava vez ou outra, mas seu sono era tranquilo.
— Permita que minha filha possa ter uma mãe presente, certo? É só o que te peço. Que proteja minha esposa. Não é... Não é muita coisa. — Choramingou. — Por favor, por favor...
[...]
Enquanto isso, em casa, Lorraine Warren despertava de um sono agitado. Choramingou assustada o nome de Ed algumas vezes, esfregando os olhos de forma manhosa enquanto seus olhos se acostumavam com a claridade incomum do ambiente.
— A culpa é sua. — Uma voz rouca soou pelo quarto, fazendo-a se empertigar. — É por sua causa que eu não nasci. Você escolheu ela.
Lorraine encarou a forma. Parada ao pé da cama com os olhos reluzentes. Aquela era claramente a versão mais velha de Judy, com aparentemente uns quatro anos.
Mas não era ela. Eu sei. Você sabe. E Lorraine sabia. Principalmente quando se encolheu.
— Por que ela? Por que não eu? Você não tinha a capacidade de levar nós duas, não é? O “Todo Poderoso” ... — Ela faz as aspas no ar, com os dedos. — te deu uma única responsabilidade, e você não foi capaz. Mas... Ao invés de nos deixar ir, prendeu ela. Ainda me deu um nome depois de morta, você é patética.
— Vá embora. —Lorraine sussurrou, tremula. — Já fizemos um maldito acordo. Seu Senhor me levará à terra dele como moeda de troca. Troquei minha alma pela de Judy.
— E você acha que cumpriremos com o acordo? — A garota riu, dando a volta para ficar frente a frente com a clarividente. — Conseguimos a sua alma que você ofereceu. E depois... Levaremos a dela. Ele nem vai notar... Sabe? Ed Warren é frouxo demais para sequer tentar viver sem a mulher.
— Não pode leva-la. Fizemos um acordo.
— Ah, jovem Lorraine... Eu posso sim. — A voz foi engrossando ao longo da frase, e, agora era apenas uma voz masculina e perversa, saindo de uma garotinha com a cara de Ed. — E eu vou.
— Não se eu puder evitar.
—Mas você não pode.
— Será que não? — Lorraine retrucou, trocando olhares com o reflexo de seus próprios olhos.
E se levantou da cama em um salto, correndo até a suíte do banheiro do quarto. Acompanhada cada segundo pelo mini-demoniozinho, porém, era mais ágil e se trancou antes de ser alcançada.
“Certo, isso é loucura...” — Pensou, abrindo o armário do banheiro, em busca da caixinha de remédios que ela e Ed costumavam manter. — “Me perdoe Senhor, pois estou prestes a pecar.”
Tirou lá de dentro uma cartela inteira de um remédio qualquer. Colocando-os todos em sua mão frágil e trêmula.
Olhou-se no espelho, querendo capitar sua última sensação da vida: medo. Medo e tristeza por ter de deixar tudo o que ela sempre sonhou para trás.
Por fim, colocou-os na boca, suspirando enquanto tomava água da pia e engolia um por um. Chorando e deixando que as lágrimas rolassem.
— Está feito. — Murmurou ao sair do banheiro, encarando a garotinha sentada ao lado da porta. — Vai começar em... Talvez uns quinze minutos.
Como se fosse apenas um dia normal, a moça caminhou até a mesinha do quarto, pegando uma folha qualquer e uma caneta, respirando fundo antes de começar a correr contra o relógio da vida.
*Oi, Eddie, querido...
Sinto muito por ter feito isso. Por tê-los deixado dessa maneira. Mas eu precisava cumprir com o acordo para salvar nossa bebê. A filha que sempre desejamos com muito carinho.
Quando ver essa carta, provavelmente terá me encontrado morta, mas quero que esqueça isso. Lembre apenas do nosso amor.
Dos momentos felizes e do quanto te amei. Do quanto você me amou. Dos meus momentos grávida e... Quando você descobriu que ia ser pai.
Lembre de alguns dos tristes. Quando te vi partir para o exercito ou quando perdemos a...*
Riscou a ultima letra.
*ou quando perdemos nossa outra bebê.
Mas jamais esqueça desse amor. Acima de tudo, dê ele à Judy. Ela vai precisar.
Eu amo vocês. Para sempre. Não importa onde estiver.
Sua Lorraine*
Sentiu as mãos tremerem e o corpo falhar. O coração e o pulso acelerados e uma grande necessidade de dormir. A cabeça pesada e os olhos implorando para se fecharem.
Estava na hora.
Estava feito.
Não tinha como voltar atrás.
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ᴍʏ ʟɪᴛᴛʟᴇ ᴀɴɢᴇʟ (ᴜᴍᴀ ғᴀɴғɪᴄ ᴅᴇ ʟᴏʀᴇᴅ- ɪɴᴠᴏᴄᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴅᴏ ᴍᴀʟ)
Fanfiction-Não se preocupe. Eu 'tô' só seguindo meu papai.- A forma emite a frase, como um sussurro que só Lorraine era capaz de escutar. -Lorraine? Tudo bem??- Ed pergunta, estranhando a forma como sua esposa estava o encarando. Ele sabia que de duas, uma: O...