margaridas

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Estava deitada olhando para o teto havia mais ou menos meia hora- estava assim desde que acordara na manhã seguinte após discutir com Edward e dormir sozinha naquela cama gelada.

Estava frustrada, pensando em como Ed poderia ser idiota ao ponto de achar que ela tinha essas visões-as vezes até pertubadoras- porque elas eram algo que ela escolheu ter. E também, achar que, o fato de ele não lembrar de nada, era maior que todos os problemas dela, além do fato de ela estar lidando com tudo isso sozinha.

"Só me faltava essa."- Ela suspira, revirando os olhos ao lembrar da discussão do dia anterior.

Estava frio como de costume em Connecticut, mas a manhã estava ensolarada- diferente da relação amorosa do casal... Aquilo estava mais para um "nublado por demônios" ao invés de nuvens.

Se levanta em um pulo ao ouvir uma pancada forte no corredor em frente ao quarto, fazendo com que ela sinta a brisa gelada bater em seu corpo logo ao se descobrir. O lugar cheirava a carne podre- o que fez Lorraine, por um segundo, desconfiar de uma possível infestação, mas logo tirar essas ideias da mente.

Ela sai do quarto, se deparando com alguém parado na ponta do corredor. - "parada", digamos assim- e ela conhecia bem aquela figura.

Era magra e pálida, tinha seu rosto coberto por um véu branco manchado de sangue- assim como seu vestido, longo e cumprido, branco e sujo.-alem disso, mãos gélidas que seguravam uma faca, também suja de sangue.

Antes que Lorraine pudesse reagir, algo rola até perto dela, parando ao esbarrar nos pés cobertos apenas por uma pantufa- eram moedas de prata.

"O pagamento ao barqueiro"- Ela pensa, ao lembrar das moedas de um dos seus casos, e ao voltar o olhar para a noiva, a mesma não estava mais lá.

Em um piscar de olhos, estava tendo uma de suas visões novamente.

Estava na UTI, ao lado de Judy, e algo estava errado, havia alguma coisa estranha naquele lugar- talvez fosse o clima pesado.

Ao direcionar seus olhos a menina, ela percebe que a sombra negra segurava seu pescoço novamente, e ao tentar se mover, Lorraine é arremessada ao outro lado da sala, e observa a filha morrer sufocada novamente.

Saindo desse transe, com a visão encerrada, Lorraine fecha seus olhos ao sentir o pânico invadindo suas veias, a deixando sem fôlego de tanto medo.

Corre para a sala, pegando apenas um sobretudo branco para cobrir a roupa que ela estava desde ontem, alem disso, ela pega a chave do carro, que estava ao lado do sobretudo, ambos no canto da sala de estar.

-Onde você vai?- Ed pergunta, observando atenta a mulher que se vestia de forma rápida.

-Vou ver a Judy.

-Então eu vou junto.- Ele fala baixo, pegando seu sapato que estava do lado do sofá.

-Você não vai a lugar nenhum. Eu vou sozinha.- Lorraine resmunga, destrancando a porta para sair.

-Você não pode dirigir.

-Mas eu vou. E você vai ficar aqui sem mexer em nada...- Ela fala de maneira ríspida, fechando a porta atrás dela ao sair.- Se é que já não mexeu.

...
𝐔𝐓𝐈 𝐍𝐄𝐎𝐍𝐀𝐓𝐀𝐋
𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐓𝐀𝐑𝐃𝐄, 𝐍𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄 𝐃𝐈𝐀.
-

-Ah... Você ainda está aqui. Fiquei preocupado, já está tarde.- Ed fala, calmo, se aproximando da mulher cansada que segurava sua cria nos braços, sentada em uma poltrona no canto da UTI.- Já passa das nove, Lorraine.

Ela escolhe ignora-lo. Sabia que sua irritação era por conta das noites mal dormidas, falta de alimentação, e problemas acumulados, além dos hormônios tentando voltar ao normal.

-Não pode sumir assim... Você é a única pessoa que eu tenho...- Ele continua, ao perceber estar sendo ignorado, enquanto Lorraine acariciava as bochechas da bebê com os polegares.- Eu sinto muito, Lorraine. Sei que passei dos limites ontem, e você está passando por tudo isso sozinha. Mas eu não quero isso, não quero que passe por isso sozinha. Então, eu estou aqui. Mesmo não sendo a mesma pessoa que eu era, e talvez nunca volte a ser, eu estou aqui.

-Sabe, Ed... Você entendia tão bem meus dons antes, que evitava me expor aos nossos casos para que isso não me afetasse, não me desgastasse.- A moça sussurra, sem rubor nenhum em suas bochechas.

-Me desculpa por isso também. Não devia ter falado dos seus dons... Parecem algo divino.- Ele diz, e sorri de lado.- Só... Eu estou aqui para você, e esse é o ponto. Não vai mais estar sozinha. Lembrando de você ou não, eu vou cuidar de você...- Ele faz uma pausa enorme e desconfortável, e logo continua- Você... Me desculpa?

-Sim, Ed. Eu não consigo ficar brava com você. Nunca consegui. A diferença, é que o Ed... A sua outra versão... Não me levava a serio quando eu tentava ficar brava. Então ele me fazia rir... As vezes até com uma flor. Sabe aquelas flores brancas que a gente tem no quintal?

-As margaridas?- Ele pergunta, se sentando no chão, de frente a mulher.

-Sim... Você plantou elas lá. E quando eu ficava brava, por qualquer coisa, você saía e voltava com uma flor daquela para mim. Dizia que a única coisa mais brilhante que aquela flor, era o meu sorriso.-Ela fala, finalmente o olhando- E então... Eu sorria. Porque me sentia amada e cuidada quando você fazia isso... Porque você tinha medo de me perder. Além disso, se eu não sorrisse, você me enchia de cócegas até que eu implorasse para você parar depois da minha barriga estar doendo de tanto rir.

-Eu... Acho que era um bom homem.

-Mais do que isso, Ed: Você me amava da forma como eu te amo. E isso se foi. - Lorraine sussurra, derramando uma lágrima.- Isso dói. E dói muito. Porque eu demorei para encontrar alguém que acreditasse em mim, e esse alguém era você... E eu te amo. Eu te amo muito. E, Ed... Eu te peço que não retribua. Só me diga que me ama quando lembrar da gente. De quando existiu um "nós".

ᴍʏ ʟɪᴛᴛʟᴇ ᴀɴɢᴇʟ (ᴜᴍᴀ ғᴀɴғɪᴄ ᴅᴇ ʟᴏʀᴇᴅ- ɪɴᴠᴏᴄᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴅᴏ ᴍᴀʟ)Onde histórias criam vida. Descubra agora