CAPÍTULO 30

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THOMAS

Quando a vi ali parada na sala, quase não acreditei. Estava dormindo toda noite no sofá, acreditava que seria mais fácil pra vê-la chegando.
Ela estava tão abatida, com olheiras, seu rosto estava um pouco roxo. Meu Deus, o que tinha acontecido com a minha menina?
Eu queria correr e abraça-la. Queria envolvê-la em meus braços e cuidar dela. Mas não pude.
Subiu para o seu quarto e eu continuei na sala. Não tinha sentido ir para o nosso quarto sem ela.
No dia seguinte ela desceu arrumada para o trabalho como se nada tivesse acontecido.

- Bom dia. - falou olhando para Marta.

- Bom dia. - respondemos em uníssono.

- Que bom que voltou! Já estava com saudades senhora. - Marta falou - Vem tomar café! Fiz o bolo de cenoura que gosta.

- Obrigada, mas não vai dar tempo. Prometo que quando chegar eu como um pedaço.

- Vai para a empresa? - perguntei - posso levar você.

- Não precisa, já chamei um Uber que inclusive já estava na porta, até mais.

Então a vi sair por aquela porta de novo.
Fui para a empresa e pedi que me atualizassem de como ela estava.
O dia passava devagar, só queria que chegasse a noite e eu pudesse estar no mesmo ambiente que ela. No final da tarde tive uma reunião importante e não pude tentar a chance de levá-la para a faculdade.
Quando cheguei em casa a encontrei sentada na beira da piscina com os pés na água. Ela estava com uma garrafa de vinho seca ao lado e outra meio cheia em sua mão.
Me aproximei e ela ficou me encarando.

- Oi. Não peguei da sua adega particular, prometo - falou com a voz arrastada levantando a garrafa.

- Oi! Não tem problema se pegar, também é sua adega particular. Posso sentar com você? - perguntei.

- A casa é sua - respondeu e deu um gole na sua bebida.

Seus olhos estavam vermelhos, ela estava realmente bêbada. Sentei ao seu lado. Como era bom ter a presença dela.

- Você já teve aquele momento em que começa a pensar onde sua vida começou a dar errado, Thomas? Qual escolha te levou pra um lugar que você nunca imaginou que estaria?

- Várias vezes. - principalmente o que me levou a perdê-la- E você?

- O tempo todo. Mas esses dias eu acho que descobri, quando tudo realmente começou a dar errado na minha vida. - deu outro gole em sua bebida. - Quer um pouco?

Peguei a garrafa de sua mão, não que eu queria beber, mas não queria deixá-la secar uma segunda garrada sozinha.

- Então, quer compartilhar comigo? Que momento foi esse?

- Tudo começou com um conjuntinho rosa de saia e blusa que ganhei aos 12 anos. Foi presente de uma tia. Eu mal tinha seios, mas a blusa tinha um bojo e quando coloquei no meu corpo parecia uma mulherzinha. - ela tentou pegar a garrafa da minha mão mas não deixei, então ela continuou - foi naquele dia que fui tocada pela primeira vez. Ele me levou até o banheiro e tapou minha boca. Foi naquele dia que despertei o desejo dele sobre mim.

Engoli seco. Uma raiva começou a me invadir

- Quem fez isso com você?

- O irmão do meu pai. Que todos dizem ser meu tio. Mas essa foi só a primeira vez. Perdi as contas de quantas vezes acordava com ele no meu quarto se masturbando.

- Porque não contou pra alguém?

- No início ele fazia várias ameaças. Ele era o membro rico da família, então ajudava meu pai, minha avó. - seu semblante ficou ainda mais sério - Quando fiz 15 anos ele tirou minha virgindade. Fiquei com o pescoço todo marcado. Ele foi tão violento, como todas as vezes depois dessa.

- Sua família não fez nada mesmo? Meu Deus! Eu vou matar esse cara.

- Ele fizeram sim. Quando consegui forças pra denunciar e dar um basta naquilo eles disseram que eu poderia esquecer quem eles eram se fizesse isso. Me chamaram de mentirosa. Preferiram o dinheiro fácil que ele oferecia. Então eu pedi que eles esquecessem quem eu era e vim embora. Foi aí que conheci você.

- Eu sinto tanto por você. - falei quando as lágrimas começaram a cair do seu rosto.

- Eu também sinto. Senti tanto que quis morrer várias vezes. Ha 4 dias enterrei minha avó Thomas, mas minha vontade era de ser enterrada junto. Depois fui estuprada pela última vez. - puxou a garrafa da minha mão virando o resto do líquido que tinha. - Ele me destruiu. Aquele conjuntinho rosa destruiu minha vida. Depois meu tio. Minha família. E você. - então colocou as mãos no rosto intensificando seu choro.

- Eu nunca quis machucar você.

- Não precisamos falar disso, aliás amanhã nem vou lembrar do que falei aqui. Vou pegar mais uma garrafa de vinho. Preciso de mais uma. - Falou se levantando mas acabou caindo na piscina.

Pulei no mesmo instante e a peguei no colo. ela colocou os braços no meu pescoço se segurando.

- Acho que já chega de bebida por hoje.

- Você não me diz o que fazer. Eu odeio você - respondeu tentando se soltar.

- Shiiiii... não acho que esteja em condições de tomar decisões hoje. Amanhã você pode ficar sem falar comigo. Amanhã você pode me odiar de novo. Mas hoje, hoje serei seu marido. Hoje eu vou cuidar de você, vou proteger você. Ok?

Ela resolveu ceder e encostou a cabeça no meu peito.

CASAMENTO POR CONTRATOOnde histórias criam vida. Descubra agora