Eighteen Zombie

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Mayu estava piorando, mesmo que não me dissesse, eu podia perceber pela respiração pesada e as gotas de suor que se formavam na sua testa e umedeciam o seu cabelo

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Mayu estava piorando, mesmo que não me dissesse, eu podia perceber pela respiração pesada e as gotas de suor que se formavam na sua testa e umedeciam o seu cabelo.

- Mayu...?

Encostei no braço dela, estava muito quente.

- Você tá pegando fogo...! - Olhei para o rosto dela.

- Maggie, acho que o ferimento... deve ter infeccionado...

Fui até a minha bolsa e revirei tudo procurando qualquer resquício de remédio no fundo da bolsa, mas não havia nada.

- Droga, e agora!? - Peguei a bolsa dela para olhar também.

- Não, Maggie... - Ela disse arfando. - Eu já olhei várias vezes também, e não tem... Não tem nada...

- Não é possível, alguma coisa deve ter restado... - Procurei minuciosamente mas não encontrei absolutamente nada, todas as cartelas estavam vazias. - A gente precisa sair daqui, deve haver uma casa, uma cabana, uma... Uma fazenda por aqui, qualquer coisa!

Ela balançou a cabeça e encostou a testa no vidro.

- Mesmo se tiver, não aguento caminhar...

- Mas eu aguento! Eu posso ir e procurar pela redondeza...! - Abri a porta do carro para sair mas Mayu puxou a minha mão.

- Não vai!... Fica aqui... Não vai embora não... - Apertou a minha mão e me puxou para o carro outra vez.

Encostei a porta olhando para ela, percebendo o quão fraca e cansada estava a sua voz.

- Essa febre já tá no seu máximo... Deve ser por causa de alguma virose, a infecção... É forte demais...

- Mayu... - Meus olhos arderam e logo começaram a marejar.

- Lá fora é perigoso demais pra você ficar sozinha, se algo acontecer com você... E você não voltar... Eu não posso ir até você... Não tenho mais tanta força...

Ela me puxou para bem pertinho e me fez abraçar ela, sua respiração estava pesada e as vezes gemia baixinho com dores. Meu coração apertou em desespero e tristeza, eu não podia fazer nada, apenas ficar com ela durante esse momento terrível.

- Maggie... Acho que eu vou morrer...

Isso passou pela minha cabeça mas evitei de todas as formas pensar que isso poderia ser mesmo possível. Mas quando ela disse isso... Quando falou essas palavras de afirmação, me machucou tanto.

- Não, não vai. Você é forte... É a pessoa mais forte que eu conheço Mayu. Nós sobrevivemos juntas por tanto tempo... Você vai superar isso, nós vamos...

- Vamos ser realistas Maggie... eu não me sinto forte, não tenho vontade de lutar contra isso, mesmo querendo muito...

- Você não pode se dar por vencida...!

- Maggie me escuta... Por favor...

Apertei meus olhos com força e abracei a cintura dela. Escutei Mayu fungar e o cheiro das lágrimas, o peito dela estremeceu em um soluço que se formou e ficou forte aos poucos.

- Você não pode ficar aqui comigo...

- Nãoo... - Gemi baixinho.

- Acho que vou virar um deles depois que apagar, assim como aconteceu com o papai quando estava preso na árvore...

- Não posso deixar você aqui!... Não quero ficar sozinha!...

- Maggie... Você vai se sair bem... Você é esperta, e corajosa... Você é inteligente... Vai ficar bem, eu tenho certeza...

- M-mas você disse que lá fora é perigoso demais para mim...

- Eu sei... E é mesmo...

- Então por que está dizendo que eu devo ir...?

- Se você ficar com outras pessoas vai ser mais seguro... Sendo uma criança, eles vão te ajudar, serão mais receptiveis... Mas se você não encontrar ninguém e vagar sozinha como fizemos, vai acabar como eu... Ou como o papai... - Ela secou a bochecha úmida.

- Não quero confiar em ninguém Mayu... E se eu acabar encontrando pessoas ruins como aqueles dois?

- Infelizmente é um risco que vai precisar correr... O mundo não é mais como antes, observe bem quem você vai decidir confiar... Se a sua intuição te disser que alguém não é confiável, largue tudo para trás e corra... Você entendeu?

- ... - Hesitei para responder, mesmo que tivesse entendido tudo, eu não queria concordar com ela, porque iria parecer que estou aceitando essa situação toda, e não estou lidando bem com essa conversa dolorosa. - Entendi...

- Sobre a sobrevivência... Eu sei que você vai se sair bem porque sabe pescar e caçar... Plantar não é difícil... Não faça barulho, não reaja por impulso e... Observe bem qualquer lugar que for se abrigar ou entrar... Tá bom?

- Sim...

- Mais uma coisa...

- O quê?

- Faça tudo o que puder pra se manter viva... Qualquer coisa... Mesmo que possa doer, ou se tiver que carregar um peso na consciência para sempre...

Olhei para o rosto de Mayu quando ela disse isso, as lágrimas que estavam escorrendo na bochecha dela eram vermelhas como sangue, sua pupila estava dilatada e sua esclera começando a ficar amarelada.

- M... Mayu...? - Minha voz saiu trêmula.

- Apenas... Apenas fique viva... Tá bom? - A voz dela saiu tão doce e dolorosa.

Minha vista ficou borrada por causa das lágrimas, rangi meus dentes trêmulos e assenti com a cabeça.

- Entendi... Entendi Mayu... - Abracei ela novamente, o mais forte que eu pude dessa vez.

- Eu te amo Maggie... Muito...

- Eu também amo você... Eu também te Mayu Mayu!... Eu também... Eu também te amo muito... - Solucei e gemi de dor por ter que ir embora, por ver a minha irmã nessa situação tão difícil, por tudo o que estava acontecendo.

- Agora vai... - Ela me afastou e começou a tossir, então a vi limpar seu queixo onde o sangue começava a escorrer. - E não seja mordida... Ou.. ou arranhada... Ou durma tarde demais... E por favor... Por favor...

Peguei minha bolsa hesitante, minha mão não parava de tremer e o choro não cessava.

- Fique Viva...

Mayu tossiu com força, sua garganta parecia raspar, ela vomitou sangue no banco e gemeu com falta de ar por um breve momento.

- Mayu... - Entreguei uma blusa a ela para se limpar.

- Vai Maggie... Pode ir... - Cobriu a boca e tossiu novamente. - Não volte aqui, por favor... Não quero que você me veja quando eu não for mais eu mesma...

Sai do carro, fechei a porta e olhei para ela atravéz do vidro, ela sorriu enquanto chorava copiosamente. Sequei os meus olhos e comecei a me afastar do carro, um zumbi saiu do mato e começou a me perseguir.

- Ei, Zumbi idiota! - Mayu gritou lá do carro e o zumbi se virou em direção a ele, indo até o som.

Andei de costas enquanto me afastava dali, chorei muito, meu coração estava despedaçado mais uma vez, eu não queria ir, não queria continuar a caminhada sem ela, não queria ficar sozinha... Maldito dia que o mundo resolveu acabar!

T.W.D - 𝙎𝙩𝙖𝙮 𝘼𝙡𝙞𝙫𝙚Onde histórias criam vida. Descubra agora