Fifty-one Zombie

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O sol mal atravessa o céu cinzento, e o vento gelado carrega o cheiro azedo dos zumbis mortos que deixamos para trás

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O sol mal atravessa o céu cinzento, e o vento gelado carrega o cheiro azedo dos zumbis mortos que deixamos para trás.

Estamos no topo do prédio, um lugar que Owen diz ser seguro por enquanto. Ele está ajoelhado ao meu lado, com a sniper apoiada no parapeito. O cano longo da arma parece ainda maior nas mãos dele. Eu só observo, sem ousar falar muito, mas minha mente está cheia de perguntas.

— Presta atenção, Maggie. Isso aqui não é brincadeira. — Ele diz, com um tom sério. — Se errar com essa arma, você entrega sua posição. E se isso acontecer... bem, você não quer saber.

Eu engulo seco e faço que sim com a cabeça. Owen começa a explicar cada detalhe da sniper. Ele mostra onde colocar as balas, como travar e destravar, e como segurar a arma de um jeito firme, mas não tão rígido.

— O fuzil 762 é pra longas distâncias. — Ele continua, enquanto ajusta o visor. — Não é pra qualquer um, principalmente pra quem não tem força no braço. Mas isso aqui não é só força, é precisão.

Ele carrega a arma com cuidado, o clique do carregador ecoando no ar. Eu observo cada movimento, tentando decorar tudo. Quando ele termina, ajusta a mira em direção a um zumbi que cambaleia na rua, bem longe. Meu coração bate rápido enquanto ele se posiciona, e eu pego o binóculo que ele me entregou mais cedo.

— Olha pro mesmo lugar que eu. — Ele diz.

Faço o que ele pede. A criatura está andando devagar, perto de uma esquina cheia de destroços. É quase impossível imaginar acertar algo tão pequeno àquela distância.

Owen parece nem respirar. Ele fica completamente imóvel, como se fosse uma estátua. O som do disparo corta o silêncio, e o zumbi cai no chão, um tiro certeiro na cabeça.

— Uau... — Escapa da minha boca antes que eu perceba.

Owen dá um sorriso curto, mas não tira os olhos do visor.

— O segredo, Maggie, é o ritmo do coração. — Ele diz. — Nunca puxa o gatilho enquanto tá nervosa. O momento certo é entre uma batida e outra. É quando o corpo tá completamente parado.

Assinto, mas minhas mãos estão suadas só de ouvir isso. Como alguém consegue controlar o próprio coração assim?

— E tem mais uma coisa. — Ele acrescenta. — Quando estiver em lugares com muito verde ou lixo, você não pode ser vista. Usa qualquer coisa pra se cobrir. Folhas, um pano sujo... E fica imóvel. Como uma pedra. Se você mexer um dedo, já era. O cano da Sniper é fino e difícil de enxergar a distância.

Eu me inclino para o parapeito, observando o jeito como ele se posiciona e como ajusta o corpo. Ele parece tão confiante, tão seguro... É difícil acreditar que ele é só um "especialista". Será que tem algo mais por trás disso? Algum segredo que ele não me contou?

— Sua vez, Maggie. — Ele diz, saindo do lugar e passando a arma pra mim.

Meu coração dá um salto.

— Mas... e-eu não sei se consigo.

— Consegue. Eu tô aqui. Se errar, a culpa é minha. — Ele diz com um sorriso calmo.

Eu seguro a arma com as duas mãos, sentindo o peso maior do que nunca. Ajeito no parapeito como ele ensinou e olho pelo visor. Há um zumbi andando lentamente na rua, longe o bastante pra que ele ainda não nos veja. Meu coração está disparado, e lembro das palavras dele: entre uma batida e outra.

Respiro fundo, tentando controlar o ritmo. Minha mão treme, mas seguro firme. O dedo toca o gatilho, e naquele breve momento em que meu coração parece parar, puxo.

O disparo ecoa alto, e meu corpo é jogado um pouco pra trás com o impacto. Pelo binóculo, vejo que acertei no ombro do zumbi, não na cabeça.

— Tá vendo? Não foi tão ruim. — Owen diz. — Mas ainda dá pra melhorar. Vamos de novo.

Eu assinto, meu coração ainda acelerado, mas dessa vez, com uma pitada de orgulho. Posso não ter acertado de primeira, mas agora sei que posso aprender.

Eu respiro fundo, tentando manter a calma enquanto olho pelo visor da Sniper. Meu pescoço ainda está um pouco esticado, e isso me incomoda, mas tento ignorar. Quando miro no zumbi seguinte, sinto Owen se aproximar. Ele coloca a mão no meu ombro, suave, mas firme, e ajusta minha postura.

— Você está se esforçando demais — diz ele, mexendo no visor. Ele o abaixa um pouco, ajustando para que eu não precise erguer tanto o pescoço. — Tente assim. Você precisa estar confortável.

Faço o que ele pede, ajeitando meu corpo na posição nova. A arma parece mais estável agora, como se estivesse encaixada no meu ombro de um jeito mais natural. Respiro fundo de novo, mas desta vez sinto o ar entrar mais devagar. O gatilho está frio contra meu dedo, e tento me concentrar, deixando tudo ao redor desaparecer.

O zumbi ainda está lá, cambaleando, sem ideia de que estou prestes a disparar.

Puxo o gatilho.

O som do tiro corta o silêncio, e o zumbi cai. Um sorriso escapa dos meus lábios antes que eu perceba.

— Viu? Bem melhor — Owen comenta, parecendo satisfeito. Ele dá um leve tapinha no meu ombro. — A posição é tudo. Se você estiver desconfortável, seu coração vai trabalhar mais, e isso vai bagunçar sua mira.

Assinto, pensando nas palavras dele enquanto coloco o olho no visor novamente. Faz sentido. Quanto mais calma eu estiver, melhor será meu tiro. Respiro fundo outra vez, sentindo o peso da arma no meu ombro e o metal do gatilho contra o meu dedo.

— Encontrei outro — digo, sem tirar o olho do visor.

Owen não responde, mas sei que está observando. O zumbi está mais longe desta vez, e ele se move devagar, tropeçando nas pedras da rua abaixo.

Aperto o gatilho.

Mais uma vez, o tiro encontra o alvo. O zumbi cai no chão, imóvel. Meu peito se enche de algo que não sentia há muito tempo: orgulho.

— Você tem boa mira — Owen comenta, parecendo surpreso. — Acho que demorou mais pra mim quando comecei.

Sorrio para ele, mas não digo nada. Não porque não quero, mas porque não sei o que dizer. Eu me sinto bem. Não lembro da última vez que me senti assim.

Enquanto procuro outro alvo no visor, Owen continua falando, sua voz baixa e tranquila:

— Você é pequena e magra. Isso te dá vantagem. Pode passar pelos zumbis sem chamar muita atenção. Mas lembre-se, Maggie, nunca escolha uma luta que não possa vencer à distância.

Assinto de novo, absorvendo cada palavra. Ele está certo. Ficar longe é sempre melhor.

— Ali. — Owen aponta, e sigo sua indicação com o visor. Outro zumbi. Mais um tiro. Mais um acerto.

Estou começando a entender como ele faz isso.

Mas antes que eu possa atirar de novo, a luz do dia começa a sumir. O céu se enche de laranja e roxo, e Owen coloca a mão no meu ombro.

— Já está bom por hoje — ele diz.

Abaixo a arma, exausta, mas satisfeita.

Abaixo a arma, exausta, mas satisfeita

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T.W.D - 𝙎𝙩𝙖𝙮 𝘼𝙡𝙞𝙫𝙚Onde histórias criam vida. Descubra agora