Tomo banho usando o gel de banho do Harry que cheira a ele, e o seu champô com cheiro a maçãs também. Seco-me com apenas uma toalha e penteio o cabelo, agora húmido, com o pente de Harry. Preparo-me para me vestir, mas ao olhar à minha volta, percebo que não trouxera roupa comigo. Grande cabeça oca, Valentina! Abro a porta lentamente e espreito para o quarto, o Harry não está lá, por isso suspiro de alívio. Abro toda a porta e começo a andar apressadamente até ao meu quarto, mas antes que possa sair pela porta, a toalha é puxada fazendo-me recuar.
"Onde vais com tanta pressa, Valentina?" A voz roupa de Harry soa perto da minha orelha e logo a minha respiração se torna irregular.
"Vestir-me. Para o meu quarto."Atrapalho-me e sinto o seu corpo ser colado ao meu. O seu queixo pousa no meu ombro nu e as suas mãos envolvem a minha cintura balançando-nos.
"Tu és tão querida." Diz com uma voz suave enquanto nos mexemos lentamente, como que dançando uma melodia. "Eu quero cuidar de ti e proteger-te, mas ao mesmo tempo quero foder-te tão forte que não possas andar por uma semana." As suas palavras fortes atingem-me.
"Porque me escolheu?" Viro-me subitamente colocando as mãos no seu peito. "O Mr.Styles podia ter escolhido qualquer uma das crianças do lar para cuidar, mas escolheu-me a mim, mesmo sabendo que apenas faltam dois anos para que eu puder ser livre e nunca mais olhar para a sua cara."
"Porque és especial. E eu adoro-te."
"Isto não faz sentido-"
"Não precisa de fazer sentido, Valentina. Eu quero-te. Quero-te aqui comigo mais do que tudo. Por isso podes apenas parar de questionar tudo."
"Mas o Mr.Styles é meu pai. Eu não acho que seja suposto os pais e filhas beijarem-se na boca e fazer o que fizemos esta manhã. Entende? Isto é tudo muito confuso e o facto de eu não estar habituada a lidar com o desconhecido deixa-me bastante nervosa."
"É sim, Valentina. É normal. Estamos no século XXI, tens que manter a mente aberta. Não fiques nervosa" Harry afasta-se de mim e eu abano a cabeça em negação.
"Desculpe se sou antiquada, mas para mim, isto não é normal." Dou ênfase ao "isto" fazendo um gesto entre nós alternadamente. "Acho que devíamos deixar o cinema para o outro dia. Está a chover e não me quero constipar. Com a sua licença." Mantenho a seriedade e saio do quarto. Vejo que o meu quarto já tem porta e agradeço mentalmente por isso à pessoa santa que colocou uma nova.
Fecho-me no interior do mesmo e deito-me na cama fechando os olhos cansada. Isto é tudo muito estranho, é quase como se tivesse sido planeado. Porquê eu? Porque não outra rapariga? E esta história dos pais e das filhas terem este tipo de atitudes normalmente está muito mal explicada. Nada disto faz sentido.
Levanto-me e visto uma camisola de lã preta e umas cuecas para não estar nua. Decido arrumar a roupa que trouxera, visto que ainda não tive tempo de o fazer antes. Abro o grande armário e a minha boca abre-se em surpresa quando o vejo preenchido de roupas. Retiro uma peça e vejo um vestido branco de verão. As roupas são realmente lindas, talvez um pouco reveladoras, mas não as posso aceitar. Saio do quarto disparada em direção ao de Harry para o encontrar com a cabeça entre as mãos e o corpo praticamente imóvel, apenas o movimento dos seus ombros para cima e para baixo.
"Harry?" Chamo a sua atenção num tom baixo.
"Sai daqui Valentina." Diz e percebo que está a chorar. Corro até junto dele e coloco-me de joelhos agarrando o seu rosto e passando os polegares nas bochechas molhadas.
"O que se passa? É pelo que disse há pouco? Desculpa, é só que eu estou confusa e-"
"Não, não. Não é nada disso." Tenta manter a postura forte, mas parece fraco a cada palavra que sai da sua boca.
"O que foi então?"
"É que ligaram a dizer q-que...A minha avó morreu." Olha-me com os olhos vermelhos e pena cresce no meu peito. Ergo-me o suficiente para o abraçar e colocar a sua cabeça no meu peito. Mexo nos seus cabelos enquanto ele chora nos meus ombros. "Eu gostava tanto dela."
"Eu sei Harry. Ela já devia ser velhota e sabes que a idade não perdoa. Às vezes as coisas acontecem porque têm de acontecer." Tento reconfortá-lo mas ele afasta-se bruscamente.
"Lá porque a tua família de merda te abandonou, não significa que isso tenha que acontecer a outras pessoas." As suas palavras atingem-me como um camião e, apesar de saber que está revoltado, o Harry não tem o direito de falar assim da minha família.
"Tu és um grande idiota. E ao que parece, nem com a morte de um familiar és capaz de ser decente por um momento." Avanço para a saída chateada.
"Valentina-"
"E não te atrevas a voltar a falar da minha família assim, porque tu não sabes nada percebes?! Nada!" Grito.
Deixo-o a chorar sozinho no quarto. Sinto-me uma cabra por o estar a deixar num momento como este, mas o assunto "família" para mim é sensível e em altura alguma eu permito que falem dele brandamente. Sem vontade de ir para o quarto, desço as escadas até à sala e sento-me no enorme sofá. Os meus olhos ficam fixados na visão de uma cidade molhada e escura, a chuva bate na grande janela fazendo-me sonolenta. Decido ligar a televisão, que raramente via no lar, e colocar num canal qualquer. Acaba por ficar num filme que conheço, chamado "The Notebook". Com o tempo a minha cabeça começa a cair para trás, mas forço-me a manter-me com a postura correta. Penso em deitar-me, mas não é correto fazê-lo sem o consentimento de Harry e, neste momento, o Harry é a última pessoa com quem quero falar. Acabo por desistir, encostar a cabeça atrás e fechar os olhos. O meu corpo enrola-se em si próprio de modo a manter o calor, pois percebo que apenas de cuecas, está bastante frio.
Ao fim de algum tempo, sinto uma mão tocar-me no rosto e abro os olhos cansados. Harry olha-me já sem vestígios de choro, apenas com um ar triste. Mantenho-me calada e imóvel, apenas seguindo os seus movimentos com os olhos. Este agarra a manta que estava no sofá ao lado, tira as almofadas de cima do mesmo e coloca-as no chão, senta-se na ponta do sofá com as pernas viradas para mim. Os seus braços abrem-se na minha direção, carente gatinho até junto dele e coloco-me entre as suas pernas, a minha cabeça descansa no seu peito nu que sobe e desce pacificamente. Harry tapa-nos com a manta e mexe-me no cabelo em movimentos relaxantes.
"Desculpa." Diz depois de muito tempo em silêncio. Em resposta deixo um beijo no seu peito e passo os dedos pelas suas inúmeras tatuagens. Começo a sentir os olhos pesarem e a perder os sentidos. Antes que possa adormecer de vez, Harry sussurra mais perto do meu ouvido.
"Sou um idiota. Um grande idiota." Começa sem parar de me mexer no cabelo, o que torna mais difícil manter-me consciente. "Tu vais odiar-me para sempre mas não me importo, porque te adoro. Minha pequena e doce Valentina." Desisto completamente quando deixo de ouvir alguma coisa e perco a consciência por completo adormecendo nos seus braços protetores.
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Valentina
Roman d'amourUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.