TWENTY THREE

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Mantenho-o nos meus braços tanto tempo quanto posso, não diria que se passaram horas, mas uns bons minutos de silêncio foram partilhados enquanto desfrutava-mos da presença um do outro com os corpos colados e os corações acelerados. A minha cabeça manteve-se encostada ao seu peito e os meus pequenos braços rodearam o seu pescoço levitando-me um pouco do chão. A sua respiração calma batia na pele nua do meu ombro, onde a sua testa descansava quieta. O seu cheiro intenso a colónia continua presente na sua pele e roupa, inalo-o profundamente não querendo nunca mais ser privada destes pequenos prazeres da vida que Harry me proporciona.

Depois de muito tempo, separamo-nos ainda em silêncio, os seus olhos ficam marejados quando ele começa a observar o meu corpo maltratado que é o reflexo da minha alma que nunca esteve tão triste e vazia. A sua mão grande e, agora menos delicada, toca suavemente na minha bochecha, fecho os olhos com a sensação que vim a ansiar durante dias a fio.

"O que é que fizeram contigo, Valentina?" A sua pergunta é um fio de voz quase perdido no barulho dos carros que passam e por vezes apitam-nos, porque o carro de Harry está impedir um pouco da via movimentada.

"Destruíram o que restava de mim." Respondo da forma mais calma que consigo, seguro a sua mão e coloco-a na minha cintura, com os polegares, limpo o vestígio de água dos seus olhos e depois puxo-o para um beijo que nunca me soube tão bem.

"Vamos para casa." As suas palavras fazem-me sorrir pela primeira vez em dias, ultimamente sorrir tem-se tornado em algo tão raro e difícil em mim que chego a pensar que não sou a mesma rapariga que sorria descontroladamente quando via a luz do sol há meses atrás.

Os nossos dedos entrelaçam-se numa rede que não quero nunca quebrar, e caminhamos até a minha porta no carro. Harry ajuda-me a entrar com cuidado, no momento em largamos as mãos, vejo medo a passar nos seus olhos já sem brilho. Não vou mentir, também eu fico apavorada por saber que não posso estar constantemente colada a ele, agora cada segundo que estamos afastados é um segundo que nos pode separar novamente e não consigo sequer imaginar essa ideia devastadora.

Rapidamente Harry entra no carro e arranca, a sua mão fica na minha coxa nua aquecendo a camada de gelo que parece ter tomado o meu frágil coração nos últimos tempos, recosto-me no confortável banco, já tinha saudades de poder estar confortável num lugar quente, resguardado e cómodo onde posso fechar os olhos sem medo de ser assombrada por memórias que nunca irão deixar a minha mente assustada. Através do seu toque, Harry transmite-me uma certa segurança e deixo a minha exaustão chegar ao seu limite ao manter-me acordada para olhar para a sua postura séria enquanto conduz para a nossa casa. Inevitavelmente, fecho os olhos por segundos mas quando os volto a abrir estou deitada numa cama gigante envolta em lençóis brancos, suspiro ao ver-me sozinha mais uma vez mas ao virar-me para o outro lado, vejo Harry deitado.

O seu corpo enverga apenas umas calças de pijama mostrando o tronco do qual tive tantas saudades de tocar. A cabeça apoiada na mão eleva as suas esmeraldas verdes que brilham quando sorrio feliz por saber que não estou tão sozinha assim. A noite envolve a cidade, o que me leva a crer que devo ter dormido uma noite e um dia completo de tanto cansaço que tinha no meu corpo.

"És a rapariga mais bonita que já vi." As palavras deixam a sua boca tão facilmente, como se não carregassem um grande peso e responsabilidade, pelo menos para mim, carregam. Sorrio-lhe apreciando cada feição delineada na sua pele sempre bronzeada, ele é lindo e isso nunca muda independentemente do resto.

"E tu és o homem mais bonito que eu já conheci." Digo num tom baixo e rouco devido às horas de sono.

"Sou o único que conheceste." A sua leve gargalhada salta do seu peito como borboletas de todas as cores aquecendo-me as bochechas.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora