músicas:
- Haunting - Halsey
- Nitesky feat. John LaMonica - Robot Koch, John Lamonica
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Uma semana desde que ele aqui esteve e duas desde estou neste total inferno. Nunca as horas me custaram tanto a passar e nunca chorei tanto durante as noites a fio que passo acordada com medo do que vem depois de adormecer. A nova freira que dirige o lar é um monstro que não merece o ar que respira. Ela e as suas seguidoras malévolas apareceram aqui um dia depois de ter voltado e praticamente expulsaram as outras irmãs que foram obrigadas a ir para um mosteiro. Não sei como, mas elas souberam do que se passou entre mim e o Harry e castigaram-me. Começarem por me prender num quarto vazio enquanto as outras crianças comiam as refeições num silêncio horrível de se ouvir. Recusavam-se a dar-me comida e eu fui orgulhosa o suficiente para não implorar nem mostrar sinais de fadiga.
Dois dias sem comer depois, abriram a porta e abriram as cortinas para me darem uma sopa que devia ter veneno de rato lá dentro de tão mal que sabia, mas tinha tanta fome que tive que a comer. Rasgaram a minha roupa enquanto me chamaram-me coisas horríveis, como 'pecadora', 'vadia', 'oferecida', 'prostituta' entre outros insultos que nem quero lembrar para não chorar mais. Deram-me banho, mas esfregaram o meu corpo com pedras para limpar a 'impureza que permanece no meu corpo', gritei e chorei tanto enquanto o material rugoso arranhava a minha pele que ficou vermelha e sangrenta depois disso. Amarraram-me nua à cama no quarto e humilharam-me da pior forma possível, chicotearam-me enquanto diziam que eu tinha que pedir perdão pelos meus pecados. Não o fiz, porque sempre soube que amar não é pecado, e por isso deixaram-me amarrada, nua ao frio da noite que adentrava pelo quarto vazio. Chorei e gritei durante toda a noite mas ninguém apareceu nunca para me socorrer e salvar.
No dia seguinte, prenderam-me a uma cadeira e atiraram água a ferver para cima de mim escaldando a minha pele enquanto declaravam canções religiosas para me salvar, supostamente, de Satanás. O meu corpo marcado estava irreconhecível, e dorido, assim como o meu orgulho e coração que nunca estiveram tão mal. Como podem elas ser capazes de fazer isto no silêncio de uma casa que era outrora feliz e alegre? As freiras agem como se eu fosse uma bruxa da idade média que deve ser torturada e queimada na fogueira para ser curada. No dia em que o Harry cá veio, abriram a porta do quarto e deixaram-me tomar banho sozinha, mas sem trancar a porta. Gelei o meu corpo dormente com água que escorreu assim como as minhas lágrimas misturadas. Fiquei no duche meia hora enquanto chorei até não ter mais água para expulsar, pensava eu. Não houve um único momento em que não pensasse nele, nunca deixou a minha mente vazia. Sempre com esperanças que ele aparecesse e me salvasse, olhava para a porta e para a janela mas acabava um pouco mais desiludida quando apenas me via presa neste lugar.
Depois desse duche deram-me uma camisa de dormir que me cobriu pela primeira vez em dias, mas enquanto me penteavam fizeram algo que me fez sentir ainda mais deprimida, cortaram-me o cabelo. O mesmo que Harry estava sempre a tocar e a pentear, e cresceu enquanto lá estive, tirando-me assim a única coisa que tinha que mantinha a sua presença assídua em mim. Nunca mais vi as crianças, é como se tivessem desaparecido, sempre nos quartos e na capela a rezar e a estudar sem puderes fazer um mínimo barulho. Quando me estavam a levar de novo para o quarto eu ouvi-o. Ouvi a sua voz rouca a falar com a irmã Jess e gritei alto para que ele me ouvisse. Rapidamente me taparam a boca e fiquei imparável enquanto chamava por ele desesperada para o ver. Depois de segundos de luta contra os braços das mulheres que me querem fazer sofrer, consegui soltar-me e corri pelos corredores até às escadas e chamei para ele. Quando os nossos olhares se cruzaram senti-me fraca novamente, perdi as forças que deveria ter para fugir e agarrei-me às escadas para não cair. Ele estava cansado, despenteado e com um péssimo aspeto. Isso levou-me a crer que também ele está a sofrer com a nossa separação, não da mesma forma que eu estou, mas está.
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Valentina
RomanceUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.