Quando a levam para dentro percebo o que se está a passar e o meu coração parece querer sair-me pela garganta seca. Não tenho a menor ideia do que aconteceu e se ela vai ficar bem. Tudo o que sei é que acordei com os seus gritos e estávamos embrulhados em sangue. Estava tão nervoso, estava a tentar acordá-la mas não reagia por isso passei-me completamente. A Valentina estava a perder tanto sangue, parecia um rio que não ia parar de correr, e os gritos dela eram agoniantes, conseguia ver a dor e o desespero por ajuda através dos seus olhos assustados.
Ando até à sala de espera hesitante e sento-me na única cadeira desconfortável vazia. Há pessoas por todo o lado à espera, como eu. Pessoas a entrar, crianças e idosos, ainda é tão cedo. São apenas seis da manhã e já está tudo a correr mal. É a segunda vez em meses que estou sentado numa cadeira de hospital nervoso e impaciente enquanto ninguém me diz o que se passa. É como se não pudéssemos ter nunca paz, tudo corre erradamente, nada está bem connosco. Nunca. Vejo várias pessoas a serem atendidas e nenhuma notícia da Valentina. Apenas eu a esperar agitadamente num pijama ensanguentado. E se alguma coisa lhe acontece? Eu não vejo razão para ela deitar aquela quantidade de sangue. Vê-la assim sem saber o que fazer é de partir o coração, se é que já não está partido.
Uma senhora já com uma certa idade, uma bata azul e o cabelo loiro mal preso num rabo-de-cavalo aproxima-se de mim com um ar totalmente indiferente ao meu desgosto. Levanto-me imediatamente quando o seu olhar cai em mim.
"Senhor, precisa de preencher algumas informações sobre a rapariga que deu entrada no hospital, visto que ela não tinha nada com ela." Ela diz e percebo que fala inglês fluentemente pois não tem sotaque francês algum.
"Hum, sim, claro." Digo segurando as folhas e começando a preencher rapidamente. "Como está ela?" Pergunto ansiosamente.
"Não sei, senhor. Ela deu entrada no hospital há pouco tempo, ainda tem um prognóstico muito reservado." Diz e suspiro puxando os cabelos para soltar energia e preocupação. "Ela não me pareceu muito bem, acho que vai demorar. O senhor devia ir para casa ou para o seu hotel e esperar até que lhe liguem a dar noticias."
"Isso não vai acontecer de maneira nenhuma." Respondo logo e ela suspira. Já deve estar tão habituada a este tipo de situações que não tem qualquer compaixão pelo homem fraco e nervoso à sua frente. "A senhora não está a compreender, ela precisa de mim aqui, perto dela." Falo.
"Eu entendo que queria ficar, mas não vai servir para nada. A rapariga já é praticamente uma adulta, vai conseguir suportar isto sozinha, não há nada que possa fazer agora. Não vai puder vê-la tão cedo. Só vai ficar aqui a ver pessoas a entrar e a sair e começar a imaginar coisas que o vão deixar depressivo e pessimista, acredite em mim."
"A senhora não entende. Eu amo aquela rapariga." Ela faz um ar surpreso e algumas pessoas olham para nós. "E não quero nem saber o que está a pensar acerca disso. Ela significa tudo para mim, não posso simplesmente voltar para o hotel e agir como se não soubesse que ela está no hospital e não há nada que possa fazer em relação a isso." Digo. "Desculpe, mas não consigo."
"Compreendo." Assente sem voltar a tocar no assunto. "Mas faça-o por ela. Vá ao hotel, tome um banho, mude de roupa tente dormir e volte mais tarde, quando já tivermos novidades. A..." olha para a ficha. "Valentina vai ficar bem aos nossos cuidados."
"Quero os melhores cuidados." Exaspero. "Eu pago tudo. Tenho dinheiro para tudo isso. E se for necessário transferi-la para outro hospital, que seja. Quero tudo conforme os procedimentos para que ela não corra qualquer risco."
"Claro senhor." Sorri um pouco e suspiro antes de dar um passo para sair deste ambiente horrível. "Vai ficar tudo bem com a Valentina, rapidamente já vai puder estar com ela novamente."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Valentina
RomansUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.