Quando chegámos a casa, Harry não disse uma palavra, apenas me levou até ao quarto, disse-me para tomar um duche e descer para jantar. Assim o fiz. Depois de tirar aquele horrível cheiro de hospital de mim, vesti um pijama quente e fiquei no quarto a brincar às bonecas até que o Harry me chamou para jantar. Desci devagar para não cair e não me magoar, sentei-me à mesa pois já tudo estava pronto e começa-mos a jantar em silêncio.
"Está zangado comigo?" Pergunto num murmúrio enquanto como o peixe cozido que Harry fez.
"Não." Simplesmente diz sem olhar para mim.
"Então está zangado com quem?" Volto a insistir, mesmo sabendo que me habilito a que ele grite comigo.
"Com ninguém."
"Se não está zangado com ninguém, porque está assim tão calado?"
"Valentina, para de fazer perguntas." Avisa.
"Só estou preocupada consigo." Sussurro e finalmente me olha. A sua mão larga o talher e agarra a minha, acariciando-a delicadamente.
"Não te preocupes, bebé. Está tudo bem. Confia em mim." Assinto e continuo a comer em silêncio.
Terminámos a refeição calados, apenas o som da loiça e dos talheres a colidirem suavemente. Para sobremesa, Harry fez gelatina de morango, a minha preferida, o que me deixa animada.
"Amanhã vou voltar para a escola?" Questiono.
"Não. Só daqui a duas semanas."
"E o que vou fazer todo o dia até lá?"
"Passar tempo comigo." Sorri-me e sorrio de volta. "Queres ir passear esta noite?" Pergunta.
"Quero. Nunca saí à noite." Declaro animada.
"Então vai vestir-te. Mas veste umas calças porque está frio." Diz e sorrio interiormente por ele estar preocupado comigo.
Levanto-me da mesa e apresso-me para o meu quarto. Dispo o pijama e visto uma roupa interior cor-de-rosa. As freiras sempre me disseram que tenho que usar roupa interior bonita porque posso ir para o hospital de repente e seria uma vergonha se estivesse a usar uma velha. Procuro umas calças de ganga e visto-as, depois uma camisola bem quente vermelha e finalizo calçando as minhas botas castanhas. Penteio o meu cabelo curto com as mãos e desço, encontrando Harry sentado no sofá a ver um canal qualquer, mas logo muda assim que me vê.
"Estás tão bonita." Elogia desligando a televisão e vindo até mim.
"Obrigada." Sorrio corada e ele toca na minha bochecha antes de me dar um beijo deixando-me nas nuvens.
"Vamos lá passear."
Saímos de casa e vamos de carro até uma zona barulhenta e cheia de luzes da cidade. As pessoas caminham na rua animadas enquanto dançam e conversam umas com as outras, parecem tão felizes. Também quero ficar assim. Quando saímos do carro, Harry tranca o carro e entrelaça as nossas mãos de forma protetora.
"Não te podes afastar de mim, entendido?" Pergunta olhando-se sério, respondo assentindo com a cabeça. "Não fales com ninguém, não aceites nada de ninguém e nunca, mas nunca largues a minha mão."
"Okay papá." Sorrio e ele morde o lábio. Subitamente, aperta o meu rabo com força e guincho. "Essas calças fazem-te um rabo muito bonito. Estava só a testar se seguravam tudo." Rio com a sua justificação.
"Claro que seguram, tontinho." Bato no seu braço levemente.
Caminhamos em frente e Harry fala com um senhor muito grande que olha para mim antes de nos deixar entrar. O local é abafado, está lotado de gente que mexe os corpos de forma alegre e um cheiro estranho, mas que ao fim de um pouco, me venho a habituar. Todas as luzes ofuscam-me, a música alta ensurdece-me, mas tudo parece um paraíso da diversão.
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Valentina
RomanceUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.