TWENTY - Harry POV

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músicas:

Say You Love Me - Jessie Ware 

One Life - Justin Bieber

Drive - Halsey

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 A chuva bate no vidro da grande parede, as gotas deslizam pelo material agradável e depois caem molhando a cidade metropolitana tão cheia de trabalhadores e turistas curiosos por descobrir cada recanto escondido. Sei como a Valentina odeia a chuva porque não pode passear na rua e ler enquanto os raios de sol, que batem na cama, a aquecem nas manhãs, assim como o romance clássico que nunca abandona as suas mãos quando está aborrecida. Durante a noite o seu pequeno corpo nu acaba sempre enrolado nos lençóis brancos enquanto a face delicada afunda na suave almofada que destaca os seus cabelos negros e as bochechas rosadas, ela é tão pacífica e calma enquanto dorme, parece um anjo, o meu anjo.

Bebo o resto da bebida do meu terceiro copo de álcool quando percebo que a sua ausência me está a afetar mais e mais a cada minuto que passa. Uma semana se passou desde que a deixei e nunca me senti tão vazio. A casa parece desabitada sem a sua energia e risos que estão ainda tão presentes nos corredores agora frios. Ultimamente não tenho dormido no meu quarto, não fui capaz de me deitar na mesma cama onde em tempos estive tão feliz com ela. Como forma de tortura, fiz questão de dormir com todas as minhas t-shirts que ela usava e que ainda têm o seu aroma jovial agarrado ao tecido. Há quatro dias atrás, na quinta-feira, o rapaz de quem não gosto apareceu aqui à procura dela, Aiden é o seu nome. Disse-lhe para se ir embora e nunca mais aparecer à minha frente, mas ele teimou em saber mais sobre a Valentina e deixei escapar que ela já não vivia comigo. Ele mostrou-se chocado e revoltado, por isso começou a gritar comigo como se eu fosse um animal perigoso e mortífero que precisa de ser afastado e domesticado, o que não é de todo mentira. Quando ele saiu, praticamente fugi da minha própria casa e fui para a taberna mais próxima onde afoguei as minhas mágoas e deceções. Acabei por me encontrar com o Stuart e ele fez pouco de mim por estar agir como um alcoólico frustrado. Quando ele perguntou se não lhe podia emprestar a Valentina para que ele a pudesse foder, bati-lhe. Bati-lhe porque ele falou nela, bati-lhe porque ele merecia, bati-lhe porque percebi o género de monstro que é por liderar um negócio de prostituição jovem. Dei-lhe com força expelindo a raiva e amargura presas em mim, fui expulso do bar e passei uma noite na esquadra, mas fui liberto no dia seguinte depois de pagar a multa mais alta de que me recordo.

Nesse mesmo dia fui à empresa, achei que precisava de me distrair e conter a minha vontade de entrar no carro e conduzir até ela. Fui particularmente rude com toda a gente e não fiz nada de produtivo, o que deixou muita gente descontente, mas apenas me fez gritar mais com essas pessoas. A meio de uma reunião falaram no plano de construir um hotel na praia onde nós estivemos há uns dias atrás e, como qualquer outra pessoa faria, levantei-me e deixei a reunião ouvindo comentários mesquinhos e arrogantes dirigidos a mim. Liguei a Louis e pedi-lhe que ficasse à frente da empresa durante uns dias, ele aceitou, mas disse que não podia sair tarde da mesma porque tinha que iria levar os filhos aos treinos para cães com o seu novo cão. A Valentina adora cães, ela pediu-me um mas eu recusei. Talvez se eu o tivesse dado ela teria sorrido mais do que chorado, talvez não se tivesse sentido tão sozinha de todas as vezes em que saía para voltar sem hora certa.

Desde esse dia que não saio de casa, estou numa constante ressaca que curo com mais bebida e tabaco que me acalma nos momentos de ansiedade em que a quero ir buscar para os meus braços novamente. No fundo eu sei que isto é o correto a fazer, ela tem que crescer com uma jovem normal, ir às aulas, ter rotinas e não estar constantemente a fazer sexo com o homem que adotou. Felizmente a adoção não era legal, até porque a Valentina não é uma rapariga normal, nada se sabe sobre ela. Mas eu sei. Sei quem são os pais dela, sei porque a deixaram e sei que não a querem a ver. Nunca fui capaz de lhe contar a verdade, porque sei que ela sempre imaginou a sua família como sendo amável e sei que ainda tem a esperança de encontrar os seus pais e de viver feliz com o irmão imaginário que criou na sua cabeça sonhadora.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora