"Valentina, prazer." Estendo a minha mão na sua direção e ela fica subitamente quieta e alerta. Tira o cigarro da boca e atira-o para o chão, pisando-o. Todo o solo está marcado de cinzas apagadas mas desenhadas na pedra clara da entrada. Ela observa-me de cima a baixo e a sua boca contrai-se várias vezes quando recolho a mão novamente, pondo-a no meu bolço.
"O que fazes aqui?" Pergunta e suspira passando a mão no queixo.
"Vim conhecer a minha mãe."
"Não sou a tua mãe. Não sei quem és." Confesso que já estava à espera de uma reação deste género, mas não pensei que fosse doer tanto ser assim rejeitada. A minha mente procura uma resposta, qualquer coisa que possa dizer, mas nada me ocorre. Todo o que queria dizer e perguntar parece ter desaparecido por completo da minha mente agora que estou aqui, frente a frente com a minha mãe.
"Aquelas eram minhas irmãs?" Pergunto tentando olhar mais para dentro da casa, mas ela fecha a porta impedindo-me. Ela olha-me numa luta interna, morde o lábio compulsivamente, tal como eu mas nada diz.
"O homem que cá esteve disse que tu não ias aqui aparecer." Diz depois de minutos de silêncio.
"Que homem?"
"Um tal de Harry Styles."
"O que queria ele?" Ele sabia disto? Ele esteve aqui e nunca me disse nada. Como pode ele?
"Queria convencer-me a mudar de ideias em relação a conhecer-te. Mas não conseguiu, por isso certificou-me que nunca irias cá vir. Mas aqui estás tu."
"Sou muito persistente. Ele não sabe que aqui estou."
"Quem é ele?"
Hesito um pouco antes de responder. "O meu namorado." Ela ri-se um pouco olhando para o lado.
"Parece que a atração por homens mais velhos é de família." Atração?
"Pensei que-"
"Sim e pensaste bem." Interrompe-me. "Mas a culpa disso foi minha. Eu é que o costumava provocar quando o via nos bares, só tive o meu pagamento duro."
"Lamento." Ela olha-me confusa.
"Lamentas? Mas se isso não tivesse acontecido não estarias aqui agora."
"Eu sou o tipo de pessoa que causa muitos problemas a toda a gente."
Um silêncio cortante e tenso gera-se mas nenhuma de nós diz nada.
"Já soubeste que o teu pai-"
"Sim. Ele deixou-me uma herança estupida qualquer." Murmuro.
"Era o mínimo que podia fazer." Diz. "Ele desgraçou a minha vida. O mínimo que podia fazer era ajudar-me."
"Não quero saber do dinheiro. Para mim ele não vale nada. Zero. O meu pai não esteve lá quando mais precisei, por isso agora, o dinheiro dele vai servir para queimar."
O silêncio mantem-se.
"Estás crescida." Diz e encara-me. "Fazes amanhã 17 anos."
"Como sabe?"
"Uma coisa dessas não se esquece, Valentina." Ela disse o meu nome pela primeira vez e parece algo de outro mundo. Parece tão mais bonito e consistente do que na realidade é.
"Porque prosseguiu com a gravidez e não abortou logo?" Pergunto subitamente olhando-a nos brilhantes olhos azuis.
Ela encosta-se à umbreira da porta e fita o chão.
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Valentina
RomansaUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.