thirty five - Harry POV

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O tempo passou, as estações mudaram, as pessoas também. Ela não foi exceção. Tornou-se numa linda e elegante mulher, determinada, decidida e confiante o suficiente para ter ido até aquela detestável prisão mostrar-me o quão bem está sem mim e como foi capaz de ultrapassar o facto de que a deixei como quem joga um rascunho no lixo. Sete anos. Passaram-se sete anos. Como passou o tempo tão depressa? Sinto-me detestável por que a deixei quando ela mais precisou de mim. Fui um completo cobarde ao abandoná-la naquela fase complicada em que soube que perdeu um filho que poderia ter sido nosso se não tivéssemos sido negligentes. Quando ela começou a chorar pareceu-me ver a frágil e quebrável rapariga de 16 anos de antigamente, mas enganei-me redondamente. Até a sua forma de chorar é diferente, é distante e fria, é recosa. Continuo a amá-la, nunca deixei de o fazer, ela é a única mulher que alguma vez vou querer, mas vou ficar atrás das grades e ela lá fora, completamente livre de mim.

Uma semana se passou até ao dia do julgamento. Pela primeira vez em seis meses saí daquela maldita cela para ver a luz do dia e receber a minha avassaladora sentença que me considera um pedófilo nato. Sei que é verdade em parte, mas nunca forcei nenhuma das raparigas que usei a nada, elas fizeram-no porque quiseram. Mas aquela Charlotte tornou-se tão obstinada por mim que teve a necessidade de inventar rumores sobre mim que não são verdade. Como não posso ser dela, não vou ser de mais ninguém. Essas foram as suas palavras quando estive frente a frente com ela na primeira vez em que me foi visitar. O Louis contratou o melhor advogado do país para me defender em tribunal, mas está a tornar-se difícil porque cada vez mais tudo está contra mim. O depoimento da Valentina vai ser decisivo. Eu vi a raiva e a mágoa nos seus olhos na semana anterior, sei que quer vingar-se por tudo o que a fiz passar. Não a censuro. Também eu ficaria fulo.

Antes de ir a tribunal cortaram-me o cabelo e fizeram-me a barba para que estivesse apresentável em frente ao juiz. Como não sou ainda condenado, sou obrigado a usar um fato de marca rasca que não me assenta nada bem, diga-se de passagem. As minhas mãos estão algemadas e o meu corpo é empurrado com força para a frente por dois polícias armados que parecem odiar-me sem sequer me conhecerem. No pátio da prisão envolvi-me em várias lutas. Aquele pessoal odeia pedófilos, mesmo que eu não seja um.

Sou obrigado a sentar-me em silêncio num banco isolado de todas as outras pessoas enquanto vejo o tribunal encher a uma grande velocidade. Estou a ficar velho e cansado desta vida complicada. Tenho 36 anos, a caminho dos 40. Ela tem 24. Não consigo acreditar que perdi 7 aniversários, sete natais, sete anos com o seu amor. Centenas de pessoas entram no tribunal e vejo a família da Charlotte entrar olhando-me com desprezo, ela faz-me um sorriso sínico e logo depois coloca uma cara falsamente triste. Cabra! Ezra entra depois dela e faz-me sinal. A verdade é que ele sabe que eu não fiz nada à sua sobrinha, ela tem problemas mentais graves e a família recusa-se a aceitar. Eu e ele voltámos a dar-nos bem, foi provavelmente a única coisa boa de toda esta merda. O meu advogado surge com Louis que me dá um abraço de apoio e sai para se sentar longe de mim, o advogado dá-me algumas indicações, mas não me consigo concentrar, os meus olhos percorrem toda a sala de audiências em busca do rosto de Valentina, mas não a vejo. Ela não veio.

"Vamos dar início à terceira sessão do caso de Harry Edward Styles acusado de múltiplos crimes. Sendo eles abuso de menores e violação." O juiz fala e toda a lengalenga de sempre começa a rolar novamente.

"Gostaria de chamar a minha próxima testemunha. Valentina Collins." A minha respiração é presa e um silêncio profundo é gerado na sala, não vejo Valentina em lado algum. "Valentina Collins." Voltam a chamar por ela. Um corpo alto levanta-se por entre a multidão e ela sai para o estreito mas longo corredor ao longo do tribunal.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora