O caminho para casa foi feito comigo a dormir, estava tão cansada do nosso dia na praia que mal conseguia manter os olhos abertos. Depois de termos feito amor na praia, almoçámos umas sandes que o Harry trouxe e passámos o resto da tarde a brincar na água mas a acabar em cima um do outro na toalha. Foi uma tarde que não vou esquecer tão cedo, os eventos continuaram a repetir-se na minha memória fazendo-me sorrir e rir sozinha até à hora do jantar.
O Harry hoje empenhou-se para fazer um prato no forno porque diz que tenho que me alimentar saudavelmente, não gostei da ideia porque envolve vegetais e nós nunca fomos muito amigos. No entanto, ajudei-o no que pude, pus a mesa e quando o ajudei a cortar legumes, a faca escapou-me da mão e fiz um pequeno corte no polegar. Óbvio que Harry fez uma tempestade num copo de água e até queria ir ao hospital porque podia infetar ou algo do género, ele hoje está particularmente impaciente, mas não comigo, com as coisas a nosso redor. Depois do incidente na cozinha, fui obrigada a ficar sentada a vê-lo cozinhar.
O telemóvel de Harry brilha com uma mensagem e aviso-o."Podes ver por favor." Pede enquanto mexe nalgo ao fogão.
"Okay, vou tentar." Rio e pego no dispositivo desajeitadamente. Felizmente é de fácil acesso e consigo ver a mensagem. "São duas de pessoas diferentes."
"O que dizem?"
"A primeira diz: fuga de informação, precisamos de ajuda no escritório." Leio e ele assente.
"O teu tempo está a acabar Styles. Estou à espera." Cito a segunda mensagem e olho para Harry que subitamente ficou tenso, ele pousa a colher de pau e desliga o fogão.
"Vou ter que sair." Tira o avental e joga-o para cima da mesa já posta. "O Louis vai chegar com pizzas daqui a uns minutos. Não saias nem abras a porta a ninguém que não seja ele." As suas mãos seguram o meu rosto. Uma expressão preocupada dá-lhe um ar mais velho e cansado. "Com sorte estou de volta dentro de uma hora."
"Mas e o nosso jantar romântico?" Pergunto olhando para a mesa perfeitamente posta com direito a velas e flores que apanhei antes de entrarmos no prédio.
"Desculpa." Não quero parecer ingrata porque tive a oportunidade de ter um dia incrível, mas fico bastante desiludida quando vejo Harry sair pela porta da casa deixando-me sozinha. Em menos de 5 minutos, a nossa noite foi abruptamente interrompida.
Porque é que ele faz sempre isto? Porque é que quando tudo parece estar bem, algo surge e ele tem que me deixar, ou age de maneira estranha. Porque é que, por uma vez na vida, as coisas não podem correr bem durante 24 horas completas. Apago as velas e recolho os pratos colocando tudo de novo nos devidos sítios. Vou até ao meu quarto e visto o pijama, volto para a sala e sento-me no chão frio perto da grande parede de vidro vendo a cidade a meus pés. As luzes são brilhantes e há bastantes carros a circular nas ruas, os prédios altos impedem a visão de muita coisa, mas ainda assim são fascinantes pela sua arquitetura pormenorizada.
O Harry diz que se eu fosse maior de idade iria ser tudo diferente e poderíamos ser um casal normal que pode andar de mãos dadas e beijar-se sempre e onde quiser, mas não acho que isso seja verdade. Porque mesmo que eu fosse tudo isso que deveria ser, não iria ser suficiente para que quando o telemóvel tocasse a meio da noite, ele olhasse para mim e decidisse ficar em vez de ir e me deixar sozinha. Compreendo que o Harry tem um trabalho importante e desgastante, mas sinto-me tão abandonada quando ele me deixa só nesta casa grande e tão cheia de janelas com visão para pessoas que não dão a mínima para quem as observa. Não gosto desta casa. Não é acolhedora, é fria, tal como o Harry é, ou era. Não transmite aquela segurança que um lar tem, não é o sítio para onde fugiria se precisasse de me esconder. Tudo o que me prende a esta cidade, a este sítio e a este mundo é o Harry. No lar sou mais uma criança que ali cresceu mas que daqui a uns anos já todos vão esquecer, não tenho família nem amigos, tudo o que tenho é aquele homem inconstante que me faz sentir tão bem mas tão isolada ao mesmo tempo.
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Valentina
RomanceUma relação proibida numa sociedade pragmática. Uma luta eterna pelo amor.