TWENTY FIVE

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O Harry deixou-me sozinha para pensar e de vez em quando ele entra no quarto para ver se está tudo bem comigo, não respondo e finjo que estou a dormir, não quero conversar sobre isto, não agora. Gostava de puder fingir que está tudo bem e que não estou abatida com todas estas notícias estrondosas, mas estaria a mentir se o fizesse, ainda por cima, a mentir mal. Não sei dizer se estou triste ou simplesmente desiludida por ter imaginado que a minha família iria ser diferente, como sempre imaginei. Estou confusa.

Pergunto-me o que é que a minha mãe sentiu quando o meu pai a obrigou a ter sexo com ele, quão horrível e traumático deve ter sido para ela ser violada por um homem velho em comparação a ela. E depois ficar grávida desse monstro, não deve ter sido fácil, mas não consigo entender porque simplesmente não abortou, porque levou a gravidez até ao fim, para me fazer sofrer quando nascesse e não tivesse família? Não consigo entender as suas razões inconscientes.

Então e o meu pai? Como pôde ele violar uma jovem de 18 anos? A irmã disse que ele bebia muito, por isso presumo que estivesse bêbado nessa altura, porque não acho que alguém minimamente sóbrio consiga fazer isso a uma rapariga indefesa e abandonada. Ele era casado e muito provavelmente tinha filhos, não sentiu remorsos? Não teve um pingo de dignidade e contou à família o que fez? Depois de morto decidiu contar à família através de um estúpido testamento que acha que vai compensar a desgraça que causou a mim e à minha mãe. Eu odeio-os. Eu odeio a minha família por me fazer sentir desta forma inútil e nunca pensei vir a dizer isto, por isso dói muito cá dentro do coração.

Obrigo o meu corpo a sair da cama, preciso de comer, tenho muita fome. Grande parte da tarde já passou e o escuro começa a envolver a cidade, acho que o tempo passa muito rápido quando estamos a pensar no que nos atormenta.

Vou até à sala e encontro o Harry deitado no sofá a ler uns papéis, a enquanto a televisão está ligada num canal de notícias mas num volume muito baixo. Ele não nota a minha presença, por isso quando passo por ele para ir à cozinha, toco-lhe no cabelo emaranhado de tantas fezes passar as mãos.

"Estás melhor?" Pousa os papéis na pequena mesa em frente ao sofá e vem até mim. Os seus pés estão descalços e a camisa branca meio desabotoada e arregaçada deixando-o adorável.

"Isto não é uma coisa em que possas perguntar "estás melhor?" . Não é uma dor de cabeça nem uma birra, é um constante estado de espírito em baixo, porque cada vez mais a minha vida parece afundar um pouco." Digo pegando num iogurte qualquer. Olho as horas no relógio de parede: 19:43.

"Estás a ser tão pessimista, Valentina." Senta-se num banco e eu encosto-me ao balcão enquanto como calmamente.

"Tira um aspeto positivo desta situação, se conseguires, claro." Desafio já a ficar chateada com a sua insistência idiota. Ele é o adulto aqui, já devia saber que nem sempre há aspetos positivos.

"Sempre quiseste saber quem eram os teus pais e agora já sabes." Controlo-me para não lhe bater, porque está a tirar-me do sério com esta conversa parva. "Isso é bom."

"Tens razão Harry." Jogo o iogurte vazio no lixo e deito a colher no lava-loiça com raiva dele. "Estou tão mais feliz agora que sei quem são os meus pais." O sarcasmo arde na minha língua afiada. Quando passo por ele, tenta agarrar a minha mão, mas afasto-me impedindo o contacto. Não o quero por perto.

"Estás com o período?" Viro-me para ele, furiosa com a sua pergunta, ainda demasiado pessoal para mim.

"Sim, Harry, eu estou." Rosno baixo.

"Isso explica muita coisa..." Murmura para si mesmo.

Viro costas e caminho para o quarto. Fecho a porta e atiro-me para cima da cama frustrada. Ele não está a ajudar nada com esta atitude de idiota que não compreende nada. Minutos depois duas batidas na porta são ouvidas a sua cabeça aérea surge.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora