꧁ 77 - Escape ꧂

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Alerta de gatilho

Miami, Flórida - 28 de janeiro - Domingo - 07:31 AM

Pov Alecxa

Não sei quantos anos passei me martirizando todos os dias devido a uma situação que talvez não tenha sido minha culpa. Mais especificamente quatro anos, foram longos quatro anos ignorando o grande elefante branco na sala e me sentindo mal a cada momento bom que eu tinha, porque sentia que não era digna de ser feliz outra vez.

Mas tudo mudou de repente, algo que era para ser apenas um negócio que me daria lucro a longo prazo, se tornou um escape de fuga para eu me encontrar de novo. No começo, não imaginaria que um casamento falso me ajudaria a superar um trauma que passei três anos me martirizando e quando percebi que não pensava na morte de Fernanda com tanta frequência, eu sabia que tinha algo errado. Ou não tão errado assim.

Depois de algumas tentativas de tirar minha própria vida e ficar transitando entre algumas clínicas de reabilitação durante um ano inteiro, fui jogada num mar de responsabilidades que passei minha adolescência inteira sendo ensinada a lidar. Quando o escritório virou a minha nova rotina e me vi gostando de administrar uma grande empresa, a culpa e os pesadelos retornou, mais fortes do que nunca.

Antes era mais fácil, eu não tinha um emprego e grandes responsabilidades, não era uma pessoa pública já que a grande perseguição da mídia sempre ficou em cima dos meus pais e familiares. Eu não tinha muito contato com a imprensa até o dia em que fui designada a assumir os negócios no lugar do meu pai. E devido a isso, não podia mais agir como uma adolescente como vinha fazendo a alguns anos e me envolver em polêmicas com uso de drogas ou tentativas de suicídio. Então minha forma de escape daquela vez, foram as festas, mulheres e na maioria das vezes, drogas.

Desde quando me entendo por gente eu sempre me senti insegura, e não envolvia apenas inseguranças físicas, o medo das pessoas não gostarem da minha personalidade ou da minha forma de ver o mundo, me deixava em pânico. Boa parte desse medo adquiri quando ainda era uma criança, nunca fui uma pessoa muito social e quando me vi obrigada a lidar com todo o tipo de gente todos os dias, algo fez com que um novo traço de personalidade surgisse em mim. Busca por aprovação.

Aprovação de todo tipo e vindo de qualquer pessoa, por isso passei a frequentar boates agitadas que sabia ser lugares que muitas pessoas importantes frequentavam e passei a ir atrás delas, no início era só vontade de me familiarizar com o mundo dos negócios, mas quando percebi, aquilo se tornou um novo vício. As conversas se tornaram um tipo de desafio, por ser iniciante no ramo dos negócios, muitas das vezes eu recebia risadas e tapinhas no ombro de consolo quando fazia uma proposta arriscada para um velho qualquer, que tinha tanta grana na conta que com toda certeza usava alguns dólares com papel higiênico para limparem suas bundas gordas e eles não aceitavam, então me via forçada a usar artifícios diferentes.

Trapacear sempre foi algo que eu me recusava a fazer em quaisquer situação, o fato de ter nascido num família com a integridade meio corrompida nunca foi uma desculpa para me tornar alguém desprezível. Mas quando não recebi a aprovação que gostaria, as conversas tranquilas e informais, se tornaram ameaças passíveis. Ficariam surpresos com a quantidade de merda que me enfiei só para me sentir menos insuficiente.

Mas como nada dura para sempre, os negócios se tornaram monótonos, me tornei alguém importante e com poder muito rápido. Quase todas as propostas que eu enviava as grandes pessoas importantes, eram aceitas tão facilmente que se tornaram entediantes e as que não eram aceitas, apenas eram ignoradas. Assim, me fazendo sentir que havia voltado a estaca zero.

THE CONTRACTOnde histórias criam vida. Descubra agora