O Cara

Capítulo Sete

                                                Tirando Cara ou Coroa com um monstro

Quase fiquei surdo ao entrar no vestiário. Primeiro pelos gritos de "VIVAAA" Por parte dos meus parceiros do time que pensaram que eu não chegaria a tempo para o jogo, e em segundo, pelo treinador Reich que gritou mais alto do que o do Tarzan quando me avistou.

 -Esta atrasado Brandon! Disse furioso como sempre. 

 -Eu sei treinador, foi mal, eu só estava...

-Pare de se desculpar sua lesma miserável e vista seu uniforme.- depois se dirigiu ao resto do grupo- Vamos suas moças aprontem-se logo! O jogo começa em nove minutos.

 Fiz uma continência para o treinador e corri para meu armário. Não era difícil saber qual era meu armário nos dias de jogo. Se você avistasse um armário que continha diversas cartas perfumadas com marcas de batom, flores e adesivos de boa sorte, então este era o meu armário. Como de costume ignorei totalmente aquelas mensagens de boa sorte e abri meu armário, Afinal, o Brand não precisa de sorte, ele faz sua própria sorte. Meu equipamento estava no jeito. Minha camisa azul numero 41 estava impecável, e minhas meias e meu calção estavam tão brancos como a neve do monte everest. Trabalho este que havia sido feito pelas garotas que insistiam em lavar e passar meu uniforme depois dos jogos e treinos. Algumas chegavam até a brigar para lavar as minhas meias suadas, o que eu achava bem estranho, mas enfim... existe gosto pra tudo. Apanhei um pote de tinta preta e fiz dois riscos embaixo de cada olho. Uma prática comum dos quarterbacks para proteger a visão da luminosidade no campo.

Assim que me aprontei o time se reuniu no centro do vestiário. Era hora do meu discurso pré-jogo. Hora de mostrar por que eu era o capitão do time.

 - Atenção Senhores! - todos ficaram em silêncio, inclusive o treinador reich.

 - Como já sabem, hoje é um dia muito importante para todos nós, pois lá fora nesse exato momento se encontram nossos principais rivais. Não sei se vocês vieram até aqui hoje com a ideia de que esse seria mais um jogo fácil, mas se vieram com isso em mente, esqueçam, pois o jogo de hoje não será fácil e também não sera apenas mais uma partida, mas sim uma batalha, e uma batalha não se faz com jogadores mas sim com soldados - Aumentei o tom da minha voz- ENTÃO QUANDO PISAREM NAQUELE GRAMADO HOJE NÃO QUERO QUE SE SINTAM COMO SIMPLES JOGADORES, MAS SIM, COMO SOLDADOS, POIS HOJE NÃO ESTAMOS APENAS LUTANDO POR NÓS, MAS TAMBÉM POR AQUELES QUE ACREDITAM EM NÓS. NÃO PODEMOS DEIXAR QUE NOSSOS INIMIGOS ZOMBEM DA NOSSA NAÇÃO, VAMOS MOSTRAR PARA ELES QUE MEXERAM COM A TRIBO ERRADA! AFINAL QUEM SOMOS?

 -SHULTZ!!!! 

 -QUEM NÓS SOMOS? 

 -SHULTZ!!!!!!

 E foi nesse clima de entusiasmo que saímos do vestiário para o campo. Eu ia a frente segurando meu capacete junto à cintura, enquanto os demais me seguiam marchando em linha reta já vestidos com seus capacetes. Era hora de subir os degraus que davam acesso ao campo. Nossos adversários já estavam em campo. Aguardamos alguns segundos e fomos anunciados por Kelly Witmore a narradora oficial dos jogos da nossa universidade.

 -E AGORA COM VOCÊS OS CAMPEÕES!, INVICTOS NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS, INTITULADOS PELA REVISTA ESPORTE UNIVERSITÁRIO COMO TIME DO ANO E COM O CAPITÃO MAIS ATRAENTE E CHARMOSO DE TODOS...OSSSSS SHULTZZZZ!!!!!

Entramos. Cabeças erguidas e silenciosos. Exatamente como soldados ao entrar num campo de batalha.Ouve gritos por todos os lados. Todos os lugares estavam ocupados, e confetes azuis e brancos voavam por todos os lados. Os RydeCasts estavam com seu tradicional uniforme vermelho e branco, e sua torcida ocupava somente cerca de 30% das arquibancadas. O céu estava azul coberto somente por algumas nuvens, e o sol brilhava forte. Estava tudo incrívelmente perfeito. Olhei para todos os lados e enfim finalmente encontrei o que eu procurava. Sinceramente nada daquilo, o clima, os confetes, ou até mesmo a narradora dando em cima de mim antes do jogo, me fascinou tanto quanto ver Sarah Grace naquela arquibancada torcendo por mim. Fiquei tão vidrado naqueles olhos enquanto ela aplaudia a entrada do time que nem notei quando o juiz falou comigo.

-Rapaz? - disse o juiz

 -ah oi, tudo bem juiz? 

- Não. Na verdade me divorciei a 4 dias e minha mulher tem tentado ficar até mesmo com esta cueca que estou usando, mas não interessa, será que que da pra escolher logo cara ou coroa?

Dei uma leve risada do juiz estressado, e só então percebi que Jonh Mcgard o novo capitão dos RydeCasts estava bem na minha frente me encarando furiosamente. Ele era bem diferente de Thomas Morrison o ultimo capitão. Thomas era um cara extrovertido, bem humorado e popular como eu( porém um pouco mais exibido). Jonh por sua vez era bem diferente, era negro, alto com braços enormes e olhos assustadores. Porém mesmo diante daqueles olhos enormes não me intimidei. Pelo contrário, retribui com meu famoso sorriso sarcástico.

-Cara.

A moeda foi jogada para cima entre nossos olhos que se encaravam. Assim que caiu no gramado o juiz anunciou.

 -Cara! Você escolhe.

Continuei com meu sorriso enquanto Jonh me fuzilava com seu olhar de tiranossauro rex.

 -Ficamos com a bola.

O juiz perguntou para Jonh qual lado do campo ele queria mas ele não disse nada. Apenas apontou para o lado esquerdo.

 -Okay lado esquerdo. -disse o juiz- apertem as mãos.- Mas continuamos a nos encarar. Nenhum dos dois se dispôs a cumprimentar o outro. 

 -Ah mas que palhaçada, isso aqui está até parecendo minha audiencia de divorcio- disse o juiz irritado. -pois bem, que seja,todos em suas posições. A partida vai começar.-

 O time se organizou rapidamente. Tínhamos ensaiado uma jogada nova para o caso de começarmos com a bola e aquele era o momento de executá-la. Antes que o jogo pudesse começar olhei novamente para Sarah na arquibancada que olhava atentamente para mim com aqueles olhos negros como o espaço, e por um instante quase mergulhei naquele universo paralelo novamente, mas consegui me recompor a tempo. Observei atentamente a formação do time adversário. Estavam com um esquema de jogo totalmente diferente do que já haviam feito antes. Olhei para Jonh, um monstro enorme se comparado aos demais jogadores dos RydeCasts e que dessa vez ao me encarar deu um sorriso quase tão sarcástico quanto o meu. Foi naquele momento que me arrependi de ter convidado Sarah para assistir o jogo, pois percebi que aquela partida poderia ser mais difícil do que eu esperava.