Capítulo Cinquenta e Seis

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Você Nunca estará Sozinha


Eu estava sentado na calçada com as mãos na cabeça completamente atordoado. A noite estava fria. As nuvens cobriam o céu e era quase impossível ver estrelas. Uma lástima para alguém como eu que buscava encontrar nelas um refúgio nos dias maus. Uma fina garoa começou a cair do céu mas aquilo não foi o suficiente para me incomodar. Eu ainda estava tentando entender o que havia acontecido horas atrás. Por pouco eu não havia tirado a vida do meu tio e acabado completamente com a minha própria vida. Cobri minha cabeça com o capuz da minha blusa e abracei meus joelhos para evitar o frio que só ficava mais intenso a cada minuto. Foi enquanto eu pensava em tudo aquilo que senti uma mão no meu ombro.

-Cara é melhor você entrar, vai acabar ficando gripado se ficar aqui.- Disse Eric.

-Eu não posso. Preciso ficar aqui e por minha cabeça no lugar.

Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes.

-Certo cara, mas se quer fazer isso então vamos fazer do jeito certo.- Disse ele discando um número em seu celular.-

-Para quem está ligando?

Ele fez um sinal para que eu esperasse.

-Ei Henry, é o Eric. Eu e o Brandon podemos dar um pulo ai?

No mesmo instante encarei ele. Eu não tinha certeza se queria contar ao pastor Henry o que eu havia feito.

-Eric não...

-Ótimo, chegamos ai em cinco minutos.- Ele desligou o celular.

-Cara eu..

-Brandon, sempre que eu tenho algum problema eu vou falar com o pastor Henry e depois eu me sinto muito melhor, ele é um ótimo amigo sem falar no chá dele que é talvez a melhor bebida que já provei na vida. Vai por mim, não existe melhor alternativa. Agora anda, pega as chaves do seu carro, Henry está nos esperando.

Continuei encarando ele. Por mais que eu não tivesse certeza se aquilo era o melhor a se fazer eu tinha total confiança em Eric, afinal, se não fosse por ele eu talvez nem estivesse ali. Me levantei e fui buscar as chaves.

***

Quando chegamos, antes mesmo que pudéssemos tocar a campanhinha Henry já foi abrindo a porta para nós e nos recebeu com o mesmo sorriso acolhedor de sempre. Eric foi direto para a cozinha e apanhou uma xícara no armário e foi se servindo de chá e dos biscoitos que estavam na mesa como se estivesse em sua própria casa. Henry riu da atitude dele e pediu para que eu o acompanhasse até a sala. Assim que nos sentamos respirei fundo e após uma breve conversa comecei a contar a ele tudo o que havia acontecido. Enquanto eu falava, Eric deu um grito da cozinha.

-Não esquece de contar que você quase matou seu tio!

-Eu já ia chegar nessa parte! - gritei, nervoso.

Henry riu, mas permaneceu calado o tempo inteiro apenas ouvindo o que eu tinha a dizer. Contei a ele tudo que havia acontecido, inclusive da voz interior dentro de mim que havia me despertado no momento em que estava prestes a praticar o pior to da minha vida. Quando por fim terminei de contar toda a história ele me olhou e sorriu.

-Parece que você realmente teve um dia difícil hoje. -ele me ofereceu mais chá e eu aceitei.- Sabe Brandon, na maioria das vezes os dias mais difíceis são os que mais nos fazem amadurecer e as decisões que tomamos nesses dias são o que irão nos tornar pessoas melhores ou piores. Você disse que queria se tornar uma pessoa melhor, não só por você mas pela Sarah também, então talvez você não saiba, mas daqui para frente situações como estas que você encarou hoje vão ocorrer quase todos os dias. Se tornar uma pessoa melhor não é algo fácil, não é uma decisão que você toma e logo em seguida já consegue colocá-la em pratica. É um processo árduo e doloroso e muitas vezes durante o caminho não conseguimos aguentar firme e acabamos cedendo espaço para nossas emoções e nossas angústias mais profundas. Foi o que aconteceu com você hoje quando deixou sua raiva se exteriorizar e com isso quase fez uma besteira.

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