O Cara

Capítulo Dezoito

                                                                          De volta ao jogo

Depois que devoramos a torta, Sarah disse que precisava ir embora, pois ainda teria que estudar um pouco antes de dormir. Por mais que eu quisesse que ela continuasse ali acabei concordando, pois minhas provas também estavam se aproximando. Fomos até à porta de entrada. No meio do caminho ela parou.

-O que foi?-perguntei.

-Meu caderno.

-Claro. Ele está bem ali. -disse apontando para o pequeno caderno de capa vermelha.

Ela apanhou o caderno e o entrelaçou em seus braços como se fosse um objeto sagrado. Ela permaneceu em silêncio na saída e isso me fez pensar que talvez estivesse com receio de eu ter lido o diário. Pensei em reforçar que não havia lido nada mas hesitei. Tinha receio que minhas palavras a deixassem ainda mais insegura.

***

La fora, a chuva havia cessado. O asfalto molhado refletia a luz dos postes. Diferente da outra vez, essa volta foi bem silenciosa. Sarah estava pensativa e ficou olhando para a janela durante todo o percurso. Somente quando estacionei o carro próximo a calçada de sua casa ela rompeu o silêncio.

-Obrigada por hoje, adorei o jantar.

-Eu que agradeço.

A luz de fora da casa ascendeu e apagou. Percebi que dessa vez era a Sra. Grace quem estava na janela.

-Acho melhor eu entrar antes que a Dona Samantha me castigue.- Ela tirou um papel de dentro do seu caderno com vários quadrados coloridos, algo semelhante a uma planilha de excell- Segundo o cronograma, eu já deveria estar estudando a pelo menos uma hora atrás.

fiquei surpreso.

-Ela fez um cronograma pra você ? Sério que Ela é tão rígida assim?

-Você não faz ideia.

Tirei a chave da ignição e sai para abrir a porta do carro para que ela pudesse descer. Quando abri, ela ficou me encarando com um sorriso no rosto.

-O que foi? Quer que eu estenda um tapete vermelho até a porta da sua casa também?

Ela riu.

-E o Sr. Bipolar ataca novamente.

Fui com ela até a entrada da casa antes de nos despedirmos. Depois de encontrar suas chaves dentro da bolsa, Sarah aproximou seu rosto do meu para me dar um beijo no rosto. Eu, no entanto, acabei sendo pego de surpresa por aquele movimento e movi meu rosto na mesma direção.  Resultado: nossos lábios foram de encontro um ao outro. Hesitamos. Rapidamente recuamos e tentamos novamente virando nossos rostos para o outro lado, porém, novamente escolhemos a mesma direção. Recuamos mais uma vez. Minhas mãos tremiam e percebi que as dela também. Cocei a cabeça e ela desviou seus olhos para o chão para disfarçar a situação. Meu Deus, parecíamos dois idiotas que nunca haviam cumprimentado alguém com um beijo no rosto. Ambos estavam sem graça e eu sabia que quanto mais tempo permanecessemos calados, mais constrangedora se tornaria aquela situação.

-Então, boa noite.-disse fazendo uma continência.

Ela sorriu, percebendo a estratégia de eliminar a situação vexatória.

-Boa noite.-disse, retribuindo o gesto.

Simultaneamente nos viramos o mais rápido possível tomando distância um do outro.
                                                                                                      ***