Capítulo sessenta e seis

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De Sherlock a Macgyver


Ainda meio atordoado pela colisão, mantive minha cabeça encostada no vidro na tentativa de retomar os sentidos. Eu olhava pela janela da viatura enquanto ela percorria a cidade. Era sábado, o dia em que a maioria das pessoas aproveitam para fazer as mais diversas atividades com suas respectivas famílias. Decidi prestar bastante atenção em cada detalhe que meus olhos podiam enxergar, pois levando em consideração a situação em que eu me encontrava naquele momento, aquilo era algo que provavelmente eu nunca teria a oportunidade de desfrutar.

Eu via as pessoas caminhando pela calçada com seus cachorros.  Via famílias reunidas nos quintais de suas casas aproveitando o dia ensolarado fazendo um churrasco com suas famílias e amigos. Via crianças brincando umas com as outras e correndo de um lado para o outro. Elas pareciam tão felizes. Enquanto eu olhava aquelas pessoas eu me imaginava no lugar delas, com a minha família, talvez até mesmo meus pais, meus filhos, minha esposa. Sarah.  Eu ainda precisava encontrá-la. Imediatamente retomei os meus sentidos. Eu tinha menos de vinte e quatro horas para encontra-la e convence-la a não desistir de si mesma. Era hora de controlar minhas emoções e colocar meu cérebro para funcionar.

Ativei meu cérebro no modo Sherlock Holmes e comecei a analisar tudo ao meu redor. Pelo retrovisor pude rapidamente olhar para o policial que havia me abordado. Seu uniforme era semelhante ao dos demais policias que estavam em frente à casa de Sarah mas havia algo diferente nele. Fabrucci. Era esse o nome estampado em seu peito. Um nome de origem italiana. Sua barba era bem feita e em sua mão esquerda havia um anel de ouro com uma pedra azul no centro. Topázio. Uma pedra que nas tradições italianas representavam a prioridade ao poder familiar e que eram passadas de geração em geração. Provavelmente aquilo era um artefato herdado de seu falecido pai.

Ainda com as mãos presas, passei meus dedos entre a fechadura da algema em busca das inscrições contidas nela. Eu sabia que todos os objetos utilizados pela polícia precisavam ser devidamente regulados, desde um fuzil até um mero spray de pimenta. Números que geralmente são estampados com um código que indicam um número específico do artefato e seu ano de fabricação. Não era uma algema comum, havia sido fabricada a alguns anos atrás. Ele não era um mero policial, ou um sargento. Ele tinha um cargo mais elevado, mas também não chegava a ser um coronel, pois por mais que a ambição em seu olhar fosse suficiente para que eu pudesse classificá-lo como um, eu sabia que coronéis não atuavam naquela área por ser uma região mais pacífica. Ele só poderia ser um tenente, ou um capitão. Eu estava tão concentrado em meus pensamentos que nem ao menos escutava os demais sons ao meu redor. Aos poucos parei de analisar as coisas ao meu redor e fui retomando meus sentidos e foi então que percebi que ele estava falando comigo.

-Você é surdo rapaz? Eu falei com você.

Respirei fundo. Era a hora de colocar tudo em prática.

-Mil desculpas Tenente Fabrucci. É que eu estava pensando em algumas coisas aqui, tentando buscar alguns conselhos em minha própria mente. Você sabe o quanto é difícil quando não temos um pai para nos aconselhar as vezes não é mesmo?-Disse.

No mesmo instante ele freiou bruscamente. Parou o carro e me encarou pelo retrovisor. Seus olhos encaram os meus como os de um predador insano.

-Como você sabe quem eu sou ?

-Seu nome está escrito no seu uniforme.

Ele se virou e me encarou olho no olho. Seus olhos eram frios como os de um mercenário que não tinha nada a perder.

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