Capítulo Vinte e três

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Surpresas e Segredos

Quando chegamos na minha casa, desci do carro e abri a porta do passageiro.

-Adoro esse seu lado cavalheiro.-Disse ela saindo.

Mantive meu sorriso sarcástico.

-É, eu também.

Caminhamos devagar até a entrada, observando o céu que naquela noite estava extremamente limpo e repleto de estrelas. No meio do caminho Sarah desviou a rota, indo em direção à piscina.

-Espera. Preciso fazer uma coisa.

Fui atrás dela sem entender o que estava acontecendo. Chegando na beira da piscina ela tirou os sapatos e levantou a barra da calça jeans. Sentou na beira da piscina e balançou os pés na água. Ela olhou para o céu fechando os olhos logo em seguida. Ela parecia estar em uma espécie de transe hipnótica. Fiquei por perto para me certificar que ela não iria cair na piscina e se afogar. Ainda de olhos fechados ela começou a rir.

-Já havia me esquecido o quanto isso era bom.

Ela parecia estar sendo revigorada ao fazer aquilo. Continuei olhando para ela ainda um tanto confuso. Ela abriu os olhos e percebeu minha expressão.

- Qual é? Será que não posso molhar meus pés na sua enorme piscina de rico?

Eu ri.

-Claro que pode. Você só me pegou de surpresa com isso. -Disse retirando meus sapatos também. - Vamos ver se isso é tão bom quanto você diz.

-Ah, Por favor se for tirar os sapatos deixe eles bem longe daqui, ouvi dizer que jogadores de futebol americano possuem pés bem estranhos e fedorentos.

Encarei ela.

-Esqueceu que as garotas brigam para lavar minhas meias? Olha aqui, meus pés são bonitos e tem cheiro de rosas, quer sentir o cheiro? - Disse colocando meu pé esquerdo na direção do seu rosto-

-Tira isso daqui! seu pé é horrivel! Parece que alguem mastigou ele e depois cuspiu num molde de sapato.

Eu olhei para os meus pés.

-Pior que é verdade- Disse, rindo sem parar. - Mas espera, os seus pés também não estão tão bonitos assim, olha só suas unhas, ou melhor, o que sobrou delas, estão todas tortas, espera, você tira suas unhas dos pés com os dentes?

Ela me fuzilou com seu olhar.

-Claro, por acaso não sentiu o gosto do meu pé quando me beijou?

Aquela sequência de "elogios" e coisas nojentas me fez rir tanto que comecei a soluçar. Fazia tanto tempo que uma garota não criticava minha aparência que eu não me lembrava o quanto aquilo era divertido. Consegui retomar o fôlego.

-Afinal por que estamos aqui criticando o pé do outro?

Ela apontou para o céu.

-Quando eu era pequena, em noites estreladas como essa, costumava fugir a noite para ficar balançando meus pés num pequeno rio que tinha atrás da minha casa. Ficava olhando o movimento da água fazendo com que o reflexo do céu ficasse distorcido.- Ela balançou os pés- Era como se eu estivesse pisando no espaço.

Enquanto ela falava eu prestei atenção no movimento que seus pés faziam na água. A primeira vista parecia um simples passatempo de criança, mas logo consegui sentir aquela sensação e vi que ela tinha razão. Por um instante analisando o reflexo do céu na água tive a sensação de que nós dois estávamos com os pés imersos no espaço escuro e infinito. Eu não conseguia parar de sorrir. Aquela foi uma das melhores sensações que eu já havia experimentado nos últimos anos. Olhei para Sarah que também sorria. Eu sempre tive aquela piscina mas nunca tinha me sentido tão feliz por tê-la como naquele dia. Era incrível como Sarah conseguia fazer de coisas tão simples, momentos tão marcantes.

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