Sede

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---CHAY---

Tento dormir, passei um dia inteiro preso aqui, e é uma droga, Chay só veio entregar a comida, entrou deixou na mesa e nem conversou comigo, também o ignorei quando esteve aqui. Tudo que quero agora é dormir, mas parece que as horas não passam, fico cada vez mais agoniado, quando eu estava no quarto de livre e espontânea vontade era uma coisa, mas saber que estou preso aqui? Isso me dá raiva e angústia na mesma medida.

Ele não é o cara que diz gostar de mim? Então como simplesmente me deixa aqui... trancado, sozinho? Mas, que inferno. 

Levanto e caminho de um lado para o outro, eu não gosto de ficar sozinho, odiei quando Porsche desapareceu para ir trabalhar com a máfia. Caminho até a janela e tento abrir, mas ela está trancada por fora, um ar fresco ajudaria muito, bufo bato contra o vidro, encosto a cabeça e respiro fundo com os olhos fechados.

- Você procurou por isso... – Quase tenho um ataque cardíaco ao ouvir sua voz, me viro com a mão no coração e encontro Kim parado no batente da porta, encostado, com os braços cruzados.

- De onde você veio? – Olho-o ainda com a respiração acelerada. – Como você simplesmente aparece do nada toda vez?

- Você que é muito distraído. – Ele dá de ombros, sorrindo, e eu reviro os olhos. Então, ele aponta o dedo pra mim. – É exatamente este tipo de comportamento que eu estava falando.

- Que que cê ta falando Kim? – Lhe dou um olhar enviesado. – Depois de tudo, você quer simplesmente que eu sente aqui e volte a ser o Chay de antes? – Cuspo as palavras com minha voz começando a embargar me aproximando cada vez mais até estar frente a frente com ele. – Você era meu ídolo, eu te amava, entrou na minha vida, me enganou, mentiu pra mim. E quer que eu seja bonzinho? Só porque agora resolveu me proteger? – Seu rosto era impassível, eu fechei os olhos por um minuto. – Você acha que eu acredito em você? Em? – Grito finalmente.

Ele respira fundo e passa a mão pelos cabelos, lambe os lábios e me encara, eu fico pensando sobre o que está passando por sua cabeça? Mais mentiras?

- Sente-se na cama, nós vamos conversar, mas, calmamente. – Kim finalmente reage, eu pisco embasbacado.

- O que? – Pergunto ainda atônito.

- Agora. – Ele agarra o meu braço e me empurra para a cama, me coloca sentado, e puxa uma cadeira, sentando-se na minha frente.

- Eu vou explicar isso uma vez e espero que isso se torne claro. – Eu não sabia definir o seu tom ou sua expressão, ele estava distante, ao mesmo tempo que parecia bravo, eu fiquei ali olhando para Kim tentando entender sua mudança de risinho debochado para seriedade sem fim. – Eu te enganei sim, só que para mim era um mal necessário. – Quando abri a boca para interrompê-lo, ele arquejou a sobrancelha como se me desafiasse. – Calado. – E eu obedeci. – Comecei a desconfiar da insistência do meu pai por Porsche como um guarda costas, e já havia outras histórias envolvendo sua mãe, quando Kinn e Porsche começaram a se relacionar eu tive que tomar providências, imaginou se irmãos ficassem juntos? Ou se a Segunda Família descobrisse? Nada dentro das famílias é pequeno, tudo ganha proporções, e eu precisava ter um respaldo, e, falando por mim, não confiava no meu pai, queria ter certeza que ele tinha sido fiel a minha mãe. Então, me desculpa se eu te magoei.

Haha, me desculpa, simplesmente um pedido de desculpa e ele acha que vai ficar tudo bem? 

Ele se levanta, passando a mão nos cabelos mais uma vez e ficando de costas para mim, meus pensamentos estavam muito acelerados. – Caramba Porchay, as coisas mudaram, no momento que entrei no seu quarto, vi todas as coisas minhas que você tinha, quando te vi dormi. – Ele virou, me encarou e sorriu. Eu abaixei a cabeça, sem conseguir encará-lo de volta, Kim caminha até mim devagar, quase hesitante, e levante meu queixo me fazendo olhá-lo. – Poxa Baby! Eu que não queria ter nada a ver com essa vida, não pensei duas vezes antes de ir atrás de você quando foi sequestrado.

Sai do seu toque e respirei fundo, e me abracei. – Eu... - Não sabia o que pensar diante de todas as informações, ele gostava de mim? Eu tinha autoestima o suficiente para acreditar nisso? Bom, ele tinha sido responsável por destruir parte dela. Me usou, depois apontou que estava me usando, e o que? Se arrependeu? 

- Tudo bem, você tem muito o que processar... – Ele respira fundo, me olhando por uns segundos. – Amanhã nós conversamos mais. – Ele faz um carinho no meu rosto, e se vira indo em direção a porta.

- K... Kim. – Digo hesitante,porque não sei se ele está chateado com minha falta de reação, as vezes Kim ser tão calmo me deixa muito confuso, ele se vira. 

- Precisa de algo? – Seu rosto é sério, e seu tom de voz é brando, o que me deixa mais tranquilo.

- Pode não trancar a porta? – Sua expressão muda. – Prometo que não vou fugir, eu só não me sinto bem, por favor? – Olho para ele com o melhor olhar de bom menino que consigo o que o faz sorrir.

- Aparentemente já temos um castigo que odeia em? – Ele sorri e eu não entendo o que quer dizer. Ele gargalha e joga a cabeça para trás. – Sua inocência é deliciosa.

- Kim... – Semicerro os olhos.

- Não é nada, eu vou deixar aberto. – Ele volta a se aproximar. – Mas, lembre-se, nada do que falei é mentira, você ainda está aqui para sua proteção, então, Porsche e Kinn estão muito ocupados com o que está acontecendo, não dificulte mais okay? – Ele fica acima de mim e se abaixa para ficar com os olhos próximos aos meus, eu perco a capacidade de falar por um minuto e apenas aceno, o que o faz sorrir e acariciar meu rosto. – Bom menino, boa noite. – Ele beija o topo da minha cabeça, e sai do quarto encostando a porta.

Mesmo com ele longe eu ainda consigo sentir os seus lábios no topo da minha cabeça, e tudo que nós conversamos. Meu coração ainda está acelerado, assim como minha respiração, meus pensamentos giram. Ele gostava mesmo de mim? Meu Deus do céu ele entrou no meu quarto, não acredito que ele viu tudo aquilo, que vergonha. Passo a mão pelo rosto.

Por que ele não me contou toda a verdade então? Se começou a gostar de mim de verdade? Poderia não? Por que tudo tem que ser tão complicado? Kim disse que Porsche e Kinn estão ocupados, isso significa que a coisa deve estar feia, como eu posso ficar tranquilo estando em segurança se meu irmão está em perigo? Ele não pode nem ao menos me ligar? Me explicar o que está acontecendo?

Caminho pelo quarto por um tempo, tomo mais um banho, desta vez gelado para tentar esfriar a cabeça para me livrar de todos esses pensamentos, contudo, parece que nada me faz conseguir dormir. Rolo de um lado para outro na cama, me cubro e descubro várias vezes e mesmo assim nada.

Então, decido ir beber um copo de água, paraliso por um momento na porta, pensando que isso pode deixar Kim chateado, só que não dá pra continuar no quarto o tempo todo, respiro fundo e viro o trinco, como no ouço nada caminho até a cozinha, arrumo um copo e bebo água gelada encostado na bancada, olhando pela janela.

- Aprontando? – Dessa vez eu não me assusto, acho que esperava por isso.

- Só com sede. – Mostro o copo de água, e ele me analisa por um tempo.

- Não consegue dormir? – Eu queria saber como ele consegue me ler tão bem, apenas balanço a cabeça, e ele morde os lábios. Kim caminha até mim e aponta para o copo. – Terminou?

- Sim. – Digo encarando-o sem entender. Ele pega o copo, bebe o resto da água e coloca na bancada, então me pega pela mão. – O que?

- Vou te colocar para dormir. – Começo a fazer que não, só que ele não me dá tempo para reagir, apenas me agarra pelo braço e me carrega em direção ao quarto. – Vamos, Baby

Passamos pela minha porta, olho-o confuso – Pra onde?

- Meu quarto. – Ele diz simplesmente, abre a porta e me leva em direção a cama, puxando os lençóis para que eu me deite. – Você pode voltar para o seu quarto se quiser, só acho que vai ter uma noite melhor aqui. – Eu aceito, e me deito com ele se deitando ao meu lado.

O encaro por um tempo desconfortável pela situação, ele sorri, faz um gesto para que eu me aproxime, e eu vou, ele passa o braço por meu pescoço e beija minha cabeça. – Boa noite, bebê. – Com suas mãos no meu cabelo, e seu cheiro eu finalmente consigo fazer meu cérebro parar de funcionar tão rápido e dormir, antes de adormecer sinto seus braços me puxando pra ainda mais próximo, e sinto seu corpo colado no meu, o seu calor é reconfortante. 

Sob Meu Domínio (KimChay) 2º TEMP.Onde histórias criam vida. Descubra agora