Uma história muito especial

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A meio da manhã, a doutora Ana levou os meninos para a sala de atividades. Estavam todos sentados à volta de uma mesa-redonda a pintarem na bata dela que era toda branca. Eles acharam que assim não tinha graça nenhuma, por isso a Ana tinha-lhes lançado aquele desafio. Estavam muito entusiasmados a porem a imaginação, a trabalhar, a fazerem desenhos e a conjugarem cores.

A Ana também decidiu tatuar a sua bata com um desenho da sua autoria: uma mamã ursa fofinha em tons de castanho, abraçada ao filhote. Os meninos pediram-lhe tanto que ela não teve coragem de recusar e tinha ficado o máximo.

Entretanto, quando os meninos menos esperavam, bateram à porta da sala, interrompendo o sossego dentro da mesma. Ficaram logo todos à alerta, ansiosos por descobrir quem estava do outro lado. A expetativa era imensa. A doutora Ana virou-se para eles, de sorriso nos lábios e ar pensativo, e disse-lhes:

— Quem será? Mandem entrar.

— Entre — disseram em simultâneo.

A porta abriu-se e o Miguel entrou na sala, sorridente, bem-disposto e brincalhão, como era costume.

— Olá, maltinha! Tudo bem por aqui? — perguntou ele.

— Olhem quem chegou... — disse a doutora Ana para os meninos, muito sorridente.

— Mikas! — gritaram eles de imediato, largando logo as atividades que estavam a fazer, levantando-se da mesa, correndo na direção dele e abraçando-o. Ele nem podia andar.

— Que grande receção. Parece que já não te veem há imensos dias...

Ele sorriu para ela, envergonhado e explicou:

— É por isso que tudo isto vale a pena. É tão bom ser sempre recebido desta forma, poder ver a boa-disposição deles.

Ela sorriu para ele.

— É isto que nos move e realiza, vê-los assim felizes, só por nos verem, apesar de estarem doentes. São estas pequenas coisas que fazem toda a diferença.

— Tens toda a razão, Ana.

— Só mostra o quanto és especial para eles.

— E lá estás tu com a mania que eu sou mais especial para eles do que tu. Tu também és especial para eles, porque és uma excelente pediatra e eles adoram-te. Ai, doutora Ana, assim não pode ser... — disse ele, de ar sério, mas brincalhão, roubando gargalhadas aos meninos.

— Vieste na Maria Vinagre, Mikas? — perguntou-lhe logo o Zé, muito depressa.

— Hoje não, Zé — respondeu ele, sorrindo e afagando-lhe os cabelos.

Os meninos ficaram tristes. Aos fins de semana o Miguel deslocava-se ao hospital de mota e eles gostavam de vê-lo chegar desde a janela da sala. Ele acenava-lhes sempre, a partir do parque de estacionamento. E eles deliravam. Simples gestos como este faziam com que eles se esquecessem automaticamente que estavam doentes.

— Por aqui a esta hora? — inquiriu-o a Ana, intrigada, consultando o relógio.

— Eu sei que não é habitual vir cá a esta hora.

— Por isso é que nós ficamos admirados, mas felizes por te ver e pela tua inesperada visita.

— Quando cheguei à oficina não tinha sistema informático. Ao ligar o computador surgia um ecrã azul com um erro. Foi constrangedor porque já tinha clientes à espera e tive de lhes pedir para passarem pela oficina mais tarde, visto que não os podia atender — explicou-lhe embaraçado. — O que me valeu foi serem clientes habituais que já sabem como eu trabalho. Deixei um técnico de informática a tentar resolver o problema.

Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora