Tempos de mudança

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Quando eles menos esperavam, o grande dia chegou. A Ana acordou com a ansiedade a fazer-se notar. Sentia o coração acelerado e desassossegado. E um aperto no peito. Não tinha dormido bem. Tais eram os vários cenários que se iam desenhando durante a noite na sua cabeça. Estava em causa o seu grande sonho. Que estava a um passo de se concretizar, dependendo dos resultados que iam sair nesse dia. Esperava entrar em Medicina em Lisboa.

Miguel também estava irrequieto, pois lá no fundo sentia-se dividido. Por um lado, estava feliz e orgulhoso por ter a certeza de que Ana iria conseguir concretizar o seu sonho. Ela iria entrar em Medicina em Lisboa. Nada podia falhar ou correr mal. Não havia quaisquer razões para isso, já que ela tinha excelentes notas. Por outro lado, mostrava-se pensativo e um pouco desconcertado. Algo lhe dizia que a separação era um facto quase consumado.

Recordava-se muito bem de ouvir a Ana dizer que quando fosse grande queria ser médica como a mãe e até àquele momento nunca havia deixado de se focar naquele grande objetivo. Tinha lutado sempre imenso para o realizar e estava a um passo de o conseguir, o que o fazia acreditar que Ana tinha mesmo sido feita para seguir os mesmos passos que a mãe. Ele nunca se tinha sentido tão desorientado e com tantas inseguranças e medos na vida. Não havia pior sentimento que aquele que fazia o coração dele vacilar. E o levava a pensar que a pessoa que mais amava se ia distanciar dele para sempre, levando consigo a sua presença física, tal como a amizade e o amor que os unia. Era algo que por mais inevitável que fosse e por muito que quisesse, não conseguia aceitar de ânimo leve. Continuava a sentir que não estava preparado.

Só queria que aquele dia passasse o mais depressa possível para ficar a saber os resultados da candidatura da Ana. Todavia, naquele momento não queria pensar muito nisso. Precisava de pensar noutras coisas, nomeadamente como ocupar o dia com ela, já que sentia que podia ser o último vivido ao lado dela. Portanto, queria que fosse um dia único e mágico.

E, entretanto, ele lembrou-se que um passeio a dois pela cidade seria um ótimo programa. Queria muito poder voltar com a Ana ao seu refúgio preferido. Já lá tinha estado várias vezes com ela para verem as vistas, tirarem fotografias e tomarem juntos o melhor café de que ele tinha memória. Numa tarde preenchida de: sorrisos, de momentos, de partilhas e de amizade e amor incondicionais. Sentia que era o momento perfeito para o tão desejado regresso.

Sentaram-se à mesa para tomar o pequeno-almoço e a saída dos resultados da candidatura da Ana era o tema de todas as conversas. Não conseguiam conter a felicidade por ser um dia tão importante e especial para ela. Assim como a ansiedade. E a Ana não conseguia sossegar a inquietação que sentia desde a véspera. Continuava a ser mesmo difícil. Estava numa pilha de nervos. Ela nunca tinha sentido tanto na pele como a simples saída de um resultado. Podia ter uma importância tão grande e fazer tanta diferença na sua vida.

Significava que poderia haver grandes mudanças a partir daquele momento, para as quais não se sentia preparada. Principalmente relativamente ao Miguel. Não estava a ser nada fácil aceitar a separação que poderia vir a acontecer inevitavelmente entre eles e a distância a que podiam ficar um do outro dali a algumas semanas. Se não entrasse em Medicina, em Lisboa. Mais difícil era saber que poderia ter de seguir em frente, deixando Miguel para trás.

Entretanto, quando Ana foi à cozinha levar a loiça do pequeno-almoço ele foi ter com ela e decidiu levar a sua ideia avante:

— Posso raptar a minha miúda para um passeio a dois por Lisboa? — perguntou com um enorme sorriso a aflorar-lhe aos lábios.

— Agora? — questionou ela perplexa.

— Sim! Apetece-me muito passear hoje só contigo pela nossa cidade. Além de que quero muito visitar o meu refúgio preferido e ter-te como companhia.

Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora