Aqua Flaviae

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E o dia do regresso chegou mais depressa do que esperavam. Estava luminoso e muito soalheiro, como era desejado por todos. Eles levantaram-se cedo e aproveitaram para dar um passeio pela vila. Depois regressaram aos autocarros e encaminharam-se para Sotres — a aldeia mais alta dos Picos da Europa. Como ainda era cedo, aproveitaram para dar mais um pequeno passeio até perto da hora de almoço.

A paisagem rural era belíssima. Onde mais uma vez predominava o verde e as montanhas rochosas dos Picos da Europa. Miguel estava encantado. Porque lhe fazia lembrar um pouco o seu Alentejo, por isso pegou na máquina fotográfica, tirou diversas fotografias e fotografou mais alguns pormenores. Seguiram para a localidade de Potes para almoçarem. Almoçaram numa esplanada simpática e acolhedora muito próxima de uma das pontes da vila.

Ao início da tarde foram até ao Puerto de San Glorio para visitarem o Mirador del Corzo. Que tinha uma escultura metálica de um Corzo da autoria do escultor cantábrico Jésus Otero, rodeada por um muro em pedra. A paisagem montanhosa, o imenso céu e a mistura de cores eram fantásticas e deixavam qualquer um sem fôlego.

Miguel deixou o autocarro de mochila ao ombro, seguido pela Ana. Pronto para tirar mais umas excelentes fotografias. E o grupo correu em direção ao miradouro para ver a paisagem e tirar algumas fotografias. Enquanto o grupo observava a paisagem, Miguel teve uma ideia:

— Tiras-me uma fotografia junto ao Corzo? — pediu ele à Ana.

— Claro que sim — disse-lhe ela, sorrindo.

E o Miguel pegou na máquina fotográfica cruzada a tiracolo. Passou a correia pela cabeça. E passou a máquina à Ana. Depois colocou-se junto ao Corzo e a Ana mostrou-se pensativa.

— Em que estás a pensar? — perguntou-lhe ele, ao vê-la tão introspetiva.

— Eu estou a pensar na melhor forma de te fotografar. Ficavas melhor se te aproximasses da estrutura em madeira junto ao Corzo, te inclinasses um bocadinho para a frente, pousasses os braços em cima da mesma. E te concentrasses na paisagem. Assim consigo fotografar-te a ti e ao Corzo em perspetiva.

— Boa ideia, princesa! Não tinha pensado nisso! — disse-lhe ele, entusiasmado, seguindo de imediato a sugestão dela.

Ela captou o melhor sorriso dele: sempre simples e terno, a felicidade estampada no brilho dos olhos dele. E o lado mais introspetivo e descontraído dele. Depois ele pegou na máquina fotográfica, aproximou-se do miradouro e esteve a tirar algumas fotografias. Sorria bastante. O coração batia com imensa intensidade e sentia aquele formigueiro na barriga. Estava feliz e agradecido por ter realizado o seu sonho. Pelos momentos e dias incríveis que havia vivido e pela mão cheia de memórias que trazia e que queria muito partilhar com os pais e os amigos para mostrar-lhes como tudo tinha sido. Mas ao mesmo tempo ele estava nostálgico por tudo estar a terminar. Antes de seguirem viagem, Miguel convidou o grupo para uma última selfie juntos e ainda tirou uma fotografia com a Ana.

Como forma de despedida, os motoristas percorreram todo o Desfiladeiro de La Hermida. Conjunto de estreitos desfiladeiros do maciço de Andára, dos Picos da Europa que confluem para o desfiladeiro principal, formado pelo leito do rio Deva, que corre entre grandes paredes quase verticais de rocha calcária. A paisagem que se podia observar era soberba. Estarem ali no cerne da Mãe-Natureza estava a ser uma experiência única e fantástica.

Miguel ficou com imensa pena que não pudessem parar um pouco para ele tirar as últimas fotografias.

E à medida que as Astúrias iam ficando cada vez mais para trás. Miguel ia-se apercebendo de ar triste e de coração apertado, que o seu maior sonho, pelo qual tinha lutado durante toda a vida, tinha passado num instante. Ele ainda nem acreditava que se tivesse mesmo realizado, parecia tudo uma espécie de utopia. Sentia-se mesmo feliz. Durante todos aqueles dias tinha testemunhado a existência de um lugar incrível. Com uma beleza rara e as diversas paisagens que ele tinha observado e fotografado eram todas magníficas e especiais.

Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora