Amizade Visceral

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À medida que a Ana e o Miguel foram crescendo, também se foram conhecendo melhor, daí que apreciassem os seus momentos a dois, repletos de memórias e recordações. E quando se aperceberam, uma nova semana estava prestes a começar que iria ser stressante e cansativa, com o regresso às aulas e às rotinas. O Miguel já tinha alguma matéria para rever e alguns trabalhos para fazer e a Ana continuou a estudar Matemática, já que apenas faltava um dia para a frequência. Quando terça-feira chegou, ela decidiu sair mais cedo de casa para ter tempo de rever alguns exercícios. Por isso, quando o Miguel acordou, a Ana já tinha saído. Ficou triste por não ter acordado a tempo de lhe desejar boa sorte, mas ainda não era tarde.

A Ana chegou à escola e dirigiu-se à biblioteca, onde a Mafalda, das suas melhores amigas, já esperava por ela sentada numa mesa. Como ainda faltava algum tempo para dar o primeiro toque, aproveitaram para rever alguns exercícios. Minutos depois, o telemóvel da Ana tocou em cima da mesa, acusando a receção de uma mensagem escrita.

— Quem será? — perguntou-se ela intrigada, pegando no telemóvel, olhando para o ecrã e de seguida lendo a mensagem. — Oh! Tão querido...

— Quem é? — perguntou-lhe a amiga. — Não me digas... boyfriend?

— Que engraçadinha! Claro que não. Por acaso é o Miguel — respondeu a Ana, comprometida.

— O que quer ele?

— É só para me desejar boa sorte para a frequência.

— Mas vocês não conseguem passar um segundo um sem o outro? Ainda há pouco saíste de casa. Estou a ficar muito curiosa.

— Como saí muito cedo, ele ainda estava a dormir. Não tivemos tempos de falar.

— Confessa lá... ele é muito especial para ti, não é?

— Sabes que sim!

— Os teus olhos brilham de uma forma incrível sempre que falas dele. Quase parece que faíscam.

— Sabes, para mim é como se fosse um irmão mais velho. Vivemos muitas coisas juntos, partilhamos tudo um com o outro desde pequenos e apoiamo-nos muito. Gosto muito dele.

— Sim, sim, Ana. Conta-me histórias...

— Não faças filmes onde eles não existem. Ele tem namorada, lembras-te? Namora com a Isabel desde o décimo ano.

— Isso não quer dizer nada. Não te podes apaixonar por ele e ele por ti?

— Posso! Mas é pouco provável.

— Porquê? — inquiriu-a a amiga, algo perplexa.

— Como te disse ele é como um irmão mais velho. Não me vejo a namorarmos.

— Nunca, digas nunca, amiga.

A Ana mostrou um sorriso envergonhado e chegou à conclusão de que desde que o Miguel tinha passado a fazer parte da família que muita coisa tinha mudado na sua vida. Ele podia ser um pouco rebelde, gostar de motas e de sair com os amigos, todavia era um rapaz diferente. E era por isso que a Ana o admirava tanto. Era o amigo perfeito. Olhava-a nos olhos e sabia logo o que se passava com ela. Se algo bom ou algo mau, ou o que ela estava a pensar. Conhecia os gestos dela, a forma de ela olhar, o jeito dela pensar e até mesmo as expressões. A sensibilidade dele não passava despercebida. Era atencioso, cuidadoso e preocupado com as pessoas que o rodeavam. Nem os mais ínfimos pormenores lhe escapavam.

Apesar do ar rebelde e brincalhão, por vezes um pouco desassossegado, o Miguel tinha um bom coração. A Ana dizia muitas vezes que ele tinha um coração de ouro. Davam-se bastante bem, era das poucas pessoas com quem ela nunca discutia. Era impossível discutir com ele, já que no segundo a seguir eles já estavam a pedir desculpa um ao outro. Já tinham esquecido todos os mal-entendidos. Já estava tudo bem novamente e já andavam a rir-se à gargalhada. Era daquelas pessoas para quem estava sempre tudo bem, nunca se via aborrecido com nada. Era sempre tudo em boa onda. Até as amigas da Ana destacavam isso e roíam-se várias vezes de inveja. Para a Ana não existia pessoa mais paciente que ele.

Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora