Depois Miguel dirigiu-se à cozinha e aqueceu chá de cidreira. Precisava de se acalmar e de encontrar um rumo para a sua vida. Sentando-se à mesa e deixando-se ficar em silêncio, numa angústia difícil de explicar, até o sono ter vontade de regressar. E rapidamente ele concluiu que não podia perder tempo a pensar no futuro, nem nos dias duros que estavam para chegar. Ele tinha mesmo de aproveitar em pleno todos os momentos ao lado da Ana até ela mudar de cidade. Dos mais simples aos mais intensos. Todos eram importantes para eles enganarem a distância e a saudade. Talvez fosse a maneira ideal de esquecer por uns dias tão inesperadas notícias.
No dia seguinte o Miguel madrugou. Estava farto de estar na cama sem conseguir dormir. Por isso ele aproveitou para preparar o pequeno-almoço enquanto o resto da família dormia. Pretendia surpreender a Ana com um pequeno-almoço digno de princesa. Dirigiu-se à Baixa, à pastelaria favorita de ambos. Onde tinham tomado café e lanchado tantas vezes e comprou uma caixa de bolos sortidos. Quando ele regressou a casa, fez café, sumo natural, panquecas, ovos mexidos com bacon e cortou várias frutas. Quando a Ana chegou à cozinha nem queria acreditar naquilo que via. Estava à vista de todos, uma mesa bem decorada e farta. Com tudo o que um bom pequeno-almoço pede e exige. Ele deixava-a sempre sem palavras.
— Bom dia, amor! — replicou de sorriso apaixonado, aproximando-se dele e beijando-o suavemente nos lábios.
— Bom dia, princesa! — disse-lhe mostrando-se sorridente. Contrariando as reviravoltas que o seu coração dava desde a véspera.
Ela estava mesmo embevecida e ainda mais apaixonada por ele.
— Eu sou uma grande sortuda por ter um namorado como tu. És incrível, único e especial. Não é todos os dias que se acorda e se tem uma mesa de pequeno-almoço tão completa e tão deliciosa como esta à nossa espera.
— Sabes que por ti faço qualquer coisa, as maiores loucuras, apenas para te ver feliz, para te agradar e para te surpreender. Isto é só um fragmento do grande amor que sinto por ti.
— És um amor! — disse-lhe ela, tímida.
Sentaram-se à mesa e, entretanto, chegou a família da Ana, que também estava espantada perante o pequeno-almoço preparado por Miguel. Não estavam nada à espera. Aproveitaram aqueles primeiros momentos do dia para se sentarem à mesa, ainda a comemorarem as mais recentes novidades e a conversarem sobre vários temas.
A manhã prolongou-se além do previsto. O convívio foi muito agradável e compensador. Todos se renderam àquela boa-disposição, ao circular de conversas e às anedotas do Miguel. Miguel sentia-se mais aconchegado pela existência daqueles bons momentos em família.
Entretanto a Joana e o Pedro foram trabalhar e Ana e Miguel aproveitaram e ficaram mais um pouco sentados à mesa a conversar. Aproveitando o facto de estarem sozinhos em casa.
— Não dormiste nada bem. Pois não? — perguntou-lhe a Ana, visivelmente preocupada.
— Porque dizes isso?
— Porque o teu ar cansado e abatido não passa despercebido.
— Na verdade dormi muito pouco e tive algumas insónias.
— Bem me parecia. — Miguel mostrou-se triste. — Eu sei que esta situação que nos está a ser imposta é difícil. Que está a custar-nos imenso o facto de termos de separar-nos. Porém nós já sabíamos há imenso tempo que mais cedo ou mais tarde isto iria acabar por acontecer. Mas apesar de sermos obrigados a separar-nos. Não vamos deixar de ser os melhores amigos como fomos até aqui e muito menos namorados. Nada vai mudar, acredita e confia em mim. Não vou permitir que isso aconteça — disse-lhe olhando-o nos olhos e entrelaçando os seus dedos nos dele.
— Tudo vai mudar, princesa. Já que vamos ficar mais longe um do outro. Vamos ver-nos menos. Vamos ter de conviver com: a solidão, com a saudade e com a ausência um do outro. E tu vais fazer novas amizades. Eu sei que vai ser tudo diferente do que é agora.
— Não vai, meu amor. Não tem de ser assim. Nós já tivemos esta conversa há uns tempos e já nessa altura eu te expliquei que por mais pessoas novas que conheça e por mais amizades que faça, nenhuma vai ser como a tua. Ninguém vai ocupar o teu lugar na minha vida porque tu és insubstituível. Portanto esses teus receios não fazem sentido.
— Tenho medo de perder-te. E cada vez que penso que posso perder-te para sempre, sinto um aperto no peito. Talvez seja um medo irracional que pareça não fazer sentido. Porém não deixa de ser o medo de alguém que vive bastante em função de ti, que é capaz de colocar-te à frente de tudo e que te ama imenso. Tu és a minha principal prioridade.
— Eu sei. Mas nunca me vais perder. Eu vou continuar a estar sempre aqui para ti e a ser a tua princesa até ao fim dos nossos dias. Não vou sair facilmente da tua vida como tu pensas, porque te amo. E o que sinto é para sempre, não muda de um dia para o outro. Podes acreditar que ainda vais ter de me aturar por muitos e muitos anos.
— Espero que sim. Tu és a pessoa mais especial da minha vida. Não saberia viver sem ti.
— Também não saberia viver sem ti, amor. Ia sentir-me incompleta, fragmentada e vazia. Porque também és muito importante e especial para mim.
Sorriu para ele, acariciou o rosto dele, levantou-se, abraçou-o por trás e beijou-o de forma demorada.
— Não estou a saber lidar muito bem com tudo isto. É tudo novo para mim. Fui apanhado desprevenido e de surpresa. Sabes, acho que ainda não estava preparado para este momento. Não estava à espera de que ele chegasse tão rápido como chegou.
— Compreendo o que estás a sentir. Nunca estamos preparados para este tipo de situações e para as reviravoltas que a vida por vezes dá.
— Tu não imaginas o quanto me está a custar. Eu tenho o coração partido em mil pedaços. Gostava de ser capaz de aceitar isto mais facilmente, mas é tão difícil que não tenho palavras.
— Tens de pensar que ainda não me fui embora. Ainda falta um mês para ir para a Invicta, por isso o mais importante é tentarmos aproveitar da melhor forma esse tempo juntos.
Ele pegou na mão dela, puxou-a para ele e Ana sentou-se ao colo dele. Abraçou-o e depois trocaram um beijo apaixonado.
— Podes acreditar que vamos aproveitá-lo até à última gota, garanto-te! Vão ser as quatro semanas mais inesquecíveis e intensas da nossa vida.
— Não tenho quaisquer dúvidas — disse ela. — Mas agora não vamos pensar mais nisso.
— É difícil não pensar quando nós estamos na iminência de nos separar. Por vezes a vida aprisiona-nos de uma maneira incrível.
As semanas seguintes foram vividas com imensa intensidade. Se a amizade e o amor que os unia os havia tornado inseparáveis. Neste curto espaço de tempo conseguiram sê-lo ainda mais. Eles fizeram um bocadinho de tudo: foram ao cinema e à praia, saíram com os amigos, viajaram, deram passeios de mota e fizeram roteiros de fotografia. Não queriam desperdiçar nenhum segundo de tempo.
Para o Miguel os momentos mais difíceis eram quando iam ao Porto. As viagens ao Norte começaram a ser constantes e frequentes para procurarem um apartamento para a Ana morar. Sentia repulsa por aquela cidade que sem pedir licença lhe estava a roubar a sua alma gémea. Nunca iria conseguir gostar daquela cidade.
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Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separa
RomantizmAna e Miguel conhecem-se, por acaso, enquanto crianças. Durante umas férias de verão, percebem que apesar das diferenças que os separam, têm muita coisa em comum e descobrem juntos a essência de uma amizade imaculada. Mas à medida que crescem, os do...