Porém, o desassossego do Miguel não ficou por ali. No dia seguinte ele voltou às aulas, rejuvenescido, relaxado, confiante e de alma e coração muito mais calmos. Sentia-se preparado para tudo e estava pronto para enfrentar novos desafios com uma dose renovada de coragem. A inquietação que tinha sentido nos últimos dias, com maior intensidade no dia anterior, tinha acalmado bastante. Pela primeira vez desde há muito tempo, a Isabel tinha conseguido dar-lhe tempo e espaço. Um tempo e um espaço que ele achava que necessitava já há meses, principalmente para poder respirar do sufoco de um amor que há muito tempo que tinha deixado de ser genuíno. Além disso, a Isabel tinha-o deixado em paz, parando com as suas inusitadas insistências. O silêncio tinha-se apoderado do telemóvel dele, que deixara de tocar, acusando a receção de chamadas que ele não tencionava atender ou mensagens às quais não queria responder. De certa forma, para ele, isso era um alívio.
Ele devia à Ana a sua leveza de espírito. Que tinha estado novamente incondicionalmente ao seu lado, em mais um momento incerto. Tinha sido ela que o tinha resgatado da monotonia trazida por aquele amor, transmitindo-lhe as energias positivas que só ela lhe sabia transmitir. Tinha sido ela a animá-lo como só ela sabia fazer. Tinha sido ela a dar-lhe os melhores conselhos e tinha sido ela a roubar-lhe o melhor de todos os sorrisos durante um fim de tarde descontraído, recheado de planos e detalhes que só ela tão bem conhecia.
Sem a presença dela seria tudo diferente. Aliás, sentia que a calma dela o mudava sempre. Já não sabia como lhe agradecer por tudo. Ele sentia que havia grandes pessoas como a Ana, para as quais uma mera palavra de agradecimento não bastava. Eram precisas ações e gestos de forma a demonstrar essa mesma gratidão que lhe preenchia o coração.
A Ana também tinha acordado muito bem-disposta. A tarde descontraída da véspera tinha feito bem ao Miguel, que parecia completamente renovado, só por ver o melhor amigo, mais alegre e mais positivo. Para ela, ele era das poucas pessoas que não merecia sofrer por amor. Os receios da Isabel poderiam de facto ter alguma razão de ser, contudo não faziam sentido. Ela e o Miguel eram só dois bons amigos que não tencionavam ser namorados porque se viam como dois irmãos mais velhos, que tinham construído uma longa história juntos, que tinham partilhado vários momentos especiais e que tinham muitas coisas em comum.
A Isabel não tinha o direito de humilhar e agredir o Miguel da forma como o tinha feito, só por sentir receios relativamente ao namoro com ele. Ele que sempre tinha gostado tanto dela. Talvez a Isabel não tivesse noção do quanto o Miguel gostava dela. Ele que era das pessoas mais dedicadas e atenciosas que a Ana conhecia. Ele que fazia tudo por ela. Agora a Ana sabia que a Isabel não era a pessoa certa para ele. Até poderia ter gostado dele, mas nunca tinha sido um amor sentido e verdadeiro. A Isabel só queria ter o Miguel ao seu lado para mostrar que também tinha namorado e para não destoar das amigas. A Ana achava que a Isabel nunca tinha amado o Miguel na mesma medida que ele a amava a ela.
Na escola que a Ana e o Miguel frequentavam tinha tocado para o intervalo grande da manhã. O Miguel tinha começado o dia com Educação Física, era uma disciplina que gostava muito. Começar o dia a praticar exercício físico aliviava-lhe a tensão e o stress do dia-a-dia. Estavam na fase do futebol, que era das suas modalidades favoritas. Aqueles poucos minutos de exercício tinham-lhe feito muito bem.
Por seu lado, a Ana tinha tido uma hora e meia de Química. Tinha sido uma aula cansativa, com muita matéria teórica. Sentia-se exausta. Estava mesmo a precisar de descontrair e repor energias. Nada melhor para isso que um café. Antes de sair de casa e como já era hábito, combinou com o Miguel encontrarem-se no bar no intervalo grande da manhã para tomarem café juntos e conversarem um pouco. E ela já estava no bar à espera de que ele chegasse. Enquanto esperava foi pedindo cafés e pastéis de nata — um pequeno-almoço infalível.
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Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separa
RomanceAna e Miguel conhecem-se, por acaso, enquanto crianças. Durante umas férias de verão, percebem que apesar das diferenças que os separam, têm muita coisa em comum e descobrem juntos a essência de uma amizade imaculada. Mas à medida que crescem, os do...