Obsessão

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A alguns quilómetros, a Isabel acabava de entrar no armazém. O ambiente era pesado, com aquele cheio putrefacto a urina e fezes. Tentou aguentar, mas foi forçada a sair. Regressando poucos minutos depois, com uma bacia nos braços. Aproximou-se do colchão, sentindo-se agoniada e com vontade de vomitar. O mau cheiro era insuportável. E com frieza e insensibilidade despejou a água por cima do Miguel. Que ficou bastante agitado, gemendo e contorcendo-se.

— Para quieto! — berrou-lhe dando-lhe um suave pontapé nas pernas. — Estás imundo! Empestaste isto tudo. Daqui a nada morremos os dois aqui dentro.

Isabel ajoelhou-se junto dele, arrancou bruscamente a fita adesiva que tapava a boca dele. E depois tirou o pedaço de pano de dentro da boca. Miguel tossiu algumas vezes e agradeceu humildemente com o medo espelhado no olhar.  

— Obrigado.

Quase não conseguia falar por causa dos hematomas que tinha nos lábios. Devido à forma bruta como era amordaçado. Além disso, sentia a garganta seca e estava cada vez mais rouco. Precisava de beber água com urgência.

— Não merecias que te tirasse isto. Depois de tudo o que me tens feito. Decidi tirar-ta por compaixão, por ter realmente pena de ti. Afinal tu estás nesta situação porque queres. Se não me tivesses ignorado, rejeitado e sido infiel, eu não teria de te fazer isto. Mas pensando bem, até acho que mereces todo o sofrimento por que estás a passar. Por todo o mal, todas as dores e todo o sofrimento que me provocaste. Talvez te faça refletir, se bem que... não vai adiantar de muito. Porque vais continuar a ser um infiel e um traidor. Sabes o que tu merecias mesmo? Era que te deixasse a apodrecer aqui! O que me fizeste não se faz. Mas que raio de namorado és tu que logo na primeira oportunidade troca a namorada pela melhor amiga?

Ele não reagiu. Ficou em silêncio, com as lágrimas a humedecerem-lhe o rosto.

— Não te faças de vítima. Não tenho pena de ti. Pelo contrário, ver-te nesse estado apenas aumenta a raiva que eu sinto por ti.

Entretanto, ele ganhou coragem para dizer algo:

— Por favor, Isabel! Imploro-te! Tira-me daqui! Eu já não aguento mais estar assim nestas condições. Está a ser um grande sacrifício. Estou num desespero enorme.

— Estou a começar a perder a paciência. E a ficar cansada e bastante aborrecida com essa insistência. Não me queiras ver zangada, ouve o que te digo. Será que conseguiste parar um pouco para pensar se para mim foi um sacrifício e um desespero enormes ver as tuas recusas e infidelidades perante o meu amor incondicional por ti? Ninguém que te amava como eu.

— Eu sei — respondeu ele.

— Pois a mim parece-me que já te esqueceste! — vociferou ela.

— Não! Não esqueci! Eu sei que me amavas e gostavas imenso de mim. Exageradamente até. Eu também te amava e gostava de ti. Todavia a tua personalidade ciumenta, controladora e possessiva. E as sucessivas discussões que tínhamos acabaram por destruir a nossa relação e o nosso amor. Tornou-se impossível estarmos juntos.

— E porque é que isso aconteceu? Queres que te diga? Eu digo-te. Porque tu deixaste que a Ana se metesse no meio e interferisse na nossa relação.

— Isso não é verdade! Ela nunca interferiu em nada.

— Não a defendas nem me desmintas! Sabes perfeitamente que é verdade. E que eu tenho razão. Por vezes combinávamos fazer planos juntos e ela acabava sempre por aparecer mais tarde para tomar café. Estragando tudo. Quebrava todo o ambiente entre nós, por isso ela foi a responsável pelo fim da nossa relação — disse andando de um lado para o outro.

Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora