Acabava de amanhecer em Lisboa ia estar um maravilhoso dia de Sol que antecipava a chegada da primavera. O céu estava sem nuvens e apresentava uma cor azul-bebé. As flores desabrochavam pintando o ambiente de várias cores, tornando-o um pouco mais harmonioso. Sentia-se um aroma perfumado no ar. A cor verde salientava-se e as roupas frescas começavam a aparecer. As esplanadas enchiam-se de pessoas que pareciam mais sorridentes e que aproveitavam ao máximo a subida das temperaturas.
E no serviço de Pediatria, de um hospital da capital, a azáfama de mais um dia de trabalho já se fazia notar. Os enfermeiros iam prestando os primeiros cuidados às crianças internadas. A doutora Ana Salgado, que era conhecida por ser atenciosa e preocupada, estava a trabalhar. Para além de ser pediatra, continuava a fazer voluntariado naquele serviço com o seu melhor amigo — o Miguel. Tal como sempre tinham feito desde muito jovens.
Na sala de atividades, os meninos internados tinham à sua disposição diversos brinquedos e jogos para se distraírem e fazerem com que o tempo passasse mais rápido: bolas e bonecas, puzzles, carrinhos, livros de histórias para lerem e não podiam faltar muitas folhas em branco para desenharem e pintarem. Até havia uma casa grande de brincar para porem a imaginação a trabalhar e um miniteatro onde por vezes se realizavam algumas pequenas peças de teatro, nas quais eles também podiam entrar e serem os protagonistas da história.
E era naquela sala que as coisas mais giras e divertidas aconteciam. Graças à doutora Ana e ao Miguel que todos os dias voltavam a ser crianças. Todos os meninos gostavam muito deles, porque a Ana e o Miguel transformavam a passagem por um hospital num momento divertido. Apesar de ser um sítio onde se tratam as pessoas que estão doentes. E nem sempre as crianças e as suas famílias compreendiam tudo aquilo que envolvia o meio hospitalar. Ir ao hospital não tinha de ser marcado pela tristeza, solidão e melancolia.
O Miguel tem agora trinta e um anos, é engenheiro mecânico e continua a ser uma pessoa bem-disposta tal como na infância e juventude — é uma característica da sua personalidade. Apesar de já ser adulto, não perdeu o seu bom humor. Ainda é solteiro, pois a sua vida é tão preenchida que nem tem tempo para si próprio e também acha que não é o melhor momento para casar e constituir família.
E adora crianças desde que começou a fazer voluntariado com a Joana e a Ana na infância e adolescência. E estas nunca o largavam. O facto de ele ter uma mota muito vistosa também contribuía para os mais pequenos gostarem ainda mais dele, principalmente os rapazes. Mal Miguel entrava na sala das atividades, os meninos perguntavam-lhe logo pela mota, que até tinha um nome próprio. Ele tinha-lhe chamado Maria Vinagre, sempre cheios de entusiasmo e excitação. Gostavam de saber tudo acerca dos sítios que tinha visitado, o que tinha gostado mais, as expedições que tinha feito e quando os levaria a dar uma voltinha. Enchiam-no sempre de perguntas como se de um interrogatório policial se tratasse. Por isso, o Miguel sempre quis manter o voluntariado e conciliá-lo com a futura profissão.
Ele gostava de contar-lhes imensas anedotas e piadas secas (que eram a sua especialidade) e os meninos adoravam e riam-se imenso e de lhes lançar alguns desafios bem interessantes. Ele era um brincalhão por natureza. Os meninos adoravam-no e gostavam bastante da forma como ele encarava a vida, sempre de sorriso nos lábios. O Miguel gostava de aproveitar cada momento, tornando-o inesquecível. Por isso, passava-lhes sempre a mensagem de que a vida não para e passa muito depressa. Como tal, eles deviam aproveitar os dias ao máximo, como se fosse o último, dando sempre valor e primazia aos detalhes mais básicos e insignificantes. Ele admitia muitas vezes ser apaixonado pela simplicidade da vida.
Para os doentinhos, o Miguel era um exemplo a seguir e uma pessoa de referência. Diziam à boca cheia que quando fossem grandes queriam ser como ele.
Desde a altura em que foi viver para a casa dos Salgado que começou a fazer voluntariado com a Ana. Acompanhava a Joana e a Ana ao serviço de Pediatria e adorava fazer atividades com os meninos internados. Era algo que o divertia e realizava imenso e que fez questão de continuar a fazer em adulto. Às vezes, o Miguel saía da oficina muito cansado e sem paciência para nada. Só queria chegar depressa a casa para se deitar no sofá a descansar. Mas ao chegar à sala das atividades da Pediatria para mais uma visita e ao ver os seus doentinhos preferidos que faziam sempre uma grande festa, quando ele entrava a porta, parecia que as suas energias se renovavam, que lhe nascia uma alma nova e que o cansaço simplesmente desaparecia.
Adorava fazer sorrir os seus meninos, sem que eles se apercebessem e estivessem sempre a recordar-se que estavam internados porque estavam doentes. Algo que o satisfazia imenso. E os pais apreciavam o facto de haver profissionais de saúde que eram capazes de minimizar a dor psicológica dos filhos, por estarem internados, entretendo-os com atividades lúdicas.
Os anos foram passando e ele começou a levar a atividade de voluntariado cada vez mais a sério, decidindo ir mais longe. Nos dias de folga começou a fazer uma formação hospitalar especializada para poder evoluir e aprender um pouco mais, o que o levou a integrar a equipa da Operação Nariz Vermelho. Uma vez por semana, esta equipa trabalhava naquele hospital e naquele serviço e trazia bastante alegria e animação às crianças internadas. Como estas já o conheciam, ficavam mais à vontade e era tudo mais fácil. Esta formação marcou-o bastante e ofereceu-lhe aprendizagens muito importantes para a sua vida futura.
Por outro lado, a Ana tirava sempre um tempinho durante os turnos para dedicar aos seus doentinhos de palmo e meio. Já tinha trinta anos e uma grande vitalidade que a caracterizava na infância e juventude. Gostava de estar sempre ocupada com alguma coisa, adorava ajudar os outros e inventar novas atividades para manter os meninos sempre entretidos.
Como o Miguel, ela também estava solteira e não pensava em casar ou ter filhos tão cedo. Achava que ainda não chegara o momento certo. Para além disso, ainda queria fazer imensas coisas antes de assumir qualquer compromisso. Nunca abdicava da semana de férias durante o verão com as melhores amigas. No princípio de cada ano elas conciliavam sempre as férias para poderem viajar juntas. Das tardes de compras. Das idas à esplanada pelo fim da tarde para tomarem café. E à discoteca aos fins de semana para tomarem uma bebida, porem a conversa em dia e dançarem um pouco.
E nos dias de folga aproveitava para fazer planos com o Miguel. Almoçavam ou jantavam juntos, iam ao cinema, tiravam uma tarde para porem a conversa em dia e telefonavam-se regularmente, já que não podiam estar muito tempo sem notícias um do outro. Continuavam a ser os melhores amigos, como na infância e juventude.
Apesar de se encontrarem todos os dias no hospital para mais um momento bem divertido com os doentinhos favoritos. A imaginação e a criatividade eram sempre inesgotáveis, pois havia sempre ideias novas para explorar e novos mundos para descobrir em conjunto.
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Ao Teu Lado - Quando o que nos une é maior que aquilo que nos separa
RomanceAna e Miguel conhecem-se, por acaso, enquanto crianças. Durante umas férias de verão, percebem que apesar das diferenças que os separam, têm muita coisa em comum e descobrem juntos a essência de uma amizade imaculada. Mas à medida que crescem, os do...