Monstros também deveriam escovar os dentes

1.1K 114 4
                                    

Dirigimos por mais 9 horas e conseguimos atravessar os estados de Wisconsin e Minessota sem muitos problemas, encontramos uma harpia não muito amigável em certo momento e tivemos que parar, e mais pra frente encontramos uma revoada de aves de Estinfália - enormes criaturas aladas, suas asas eram de bronze, seus bicos e suas garras, de ferro – podemos dizer que Lucy não ficou muito feliz quando os pássaros bicaram a picape e ficou menos feliz ainda quando eu me recusei a ajudar a ela a combater as aves.

-Deixa de ser infantil Bianchi! -Bradou Lucy enquanto brandia sua lança contra uma ave de Estinfália – Se acontecer alguma coisa com a camionete porque você está fazendo birra você vai ver só.

-Infantil é meu nome do meio Lucinda -zombei para ela sarcasticamente enquanto empunhava minha espada - Marina Infantil Bianchi.

Quero deixar bem claro que só ajudei ela com as aves pois queria voltar logo para a estrada e não perder nosso único meio de transporte, e não porque eu simpatizo um pouco com a filha de Ares.

.

.

.

Estávamos agora fazendo uma parada para abastecer na rua principal de Fargo, Dakota do Norte, uma cidade que parecia ter saído de um filme daqueles clássicos de Natal, onde o protagonista vai passear no centro da cidade com prédios vermelhos e um estilo arquitetônico que com certeza minha cunhada Annabeth saberia dizer qual é. Nem estávamos no inverno, mas eu podia imaginar como aquele lugar ficava coberto por neve.

Aproveitei a parada para tomar um pouco de néctar para aliviar a dor que estava sentindo na mão, causada pelo encontro com o minotauro.

-Não entendo o que você achou de interessante nesse lugar, Rainha das Poças – disse Lucy me chamando pelo apelido que ganhei em meu primeiro ano no Acampamento Meio Sangue – é só mais uma cidade como outra qualquer no Interior da América.

Deixe-me explicar para vocês caros leitores, eu nasci e vivi até meus doze anos no Brasil, em Florianópolis mais especificamente, minha mãe era salva-vidas na ilha, e surfista nas horas vagas, foi assim que ela conheceu meu pai. Ela não imaginava que ele era um deus grego, para ela, ele era só um pescador com sorriso caloroso por quem ela se apaixonou.

Segundo ela, foi uma paixão de verão, ela sabia que ele iria embora, ela só não esperava engravidar. Não foi fácil para ela criar sozinha uma criança que era expulsa de todas as escolas que frequentava e se metia em mais encrencas do que podia contar.

Apesar de tudo, ela sempre foi uma ótima mãe pra mim, mesmo sem saber o que acontecia com a filha.

Imaginem a surpresa dela, quando no meu aniversário de 12 anos, o mesmo pescador aparece na porta do nosso apartamento dizendo que era o deus dos mares e eu, uma semideusa e que eu deveria ir para um acampamento de verão nos Estados Unidos, para ser treinada e não ser morta por monstros.

Poseidon tinha ido pessoalmente me buscar como uma promessa que tinha feito ao meu meio irmão Percy uns anos antes, de reclamar todos os seus filhos semideuses e mandá-los para treinamento adequado, assim tendo mais chances de sobreviver.

Nesses 5 anos nos Estados Unidos, eu saí somente algumas vezes do acampamento e nunca estive tão longe de Nova York, então sim, é incrível ver cenários que eu só via assistindo Sessão da Tarde.

-Qual é! Quantas vezes nós temos a oportunidade de sair do acampamento e fazer uma roadtrip atravessando o país? - Respondi para Lucy – Não acho que vou fazer isso de novo, então me deixe turistar e paz.

-Turistar? Não sei se você lembra, mas estamos indo para uma missão e não tirar férias! – Lucy brigou – Nosso destino é um inferno de lugar chamado Forks e não a Disneyland.

-Inferno de lugar? – eu ri – Achei que a entrada pro mundo inferior fosse em Los Angeles e não no estado de Washington, é mais pra baixo no mapa se você não sabe, vocês americanos tem que começar a estudar geografia.

-Cale a boca - A semideusa me deu um olhar mortal – antes que eu faça calar. Vamos embora desse lugar de uma vez!

.

.

.

Depois de mais de 2000 km de viagem eu comecei a concordar com Lucy, o interior dos Estados Unidos é igual sempre, parecia um padrão: Cidade pequena – rodovia – plantação ou então cidade pequena – rodovia – área deserta, o fato de Lucy não ser a pessoa mais falante do mundo só piorava a situação, o tempo demorava a passar, só queria chegar logo em Forks, ajudar Farofin e voltar pro acampamento.

-Quiron falou o que exatamente iremos enfrentar? – eu perguntei.

-Não, ele só disse que Farofin sentiu um cheiro de monstro muito forte, então provavelmente tem vários monstros na escola. – Lucy falou.

Farofin havia entrado em contato com Quiron há alguns dias, ele havia saído do acampamento um mês antes, pois os sátiros haviam recebido a informação de que havia dois semideuses não reclamados em uma cidade perto de Seattle – Forks. E aparentemente vários monstros também. O problema é que algumas criaturas são muito boas em se camuflar, deixando difícil até para os sátiros descobrirem o que são.

Estávamos chegando ao estado de Washington quando a paisagem a nossa volta começou a mudar, grandes florestas de pinheiros surgiram a nossa volta, um cenário mágico que poderia muito bem ter sido esculpido pessoalmente pelos deuses.

A paisagem era realmente encantadora, os vidros da picape abertos o cheiro refrescante de pinheiros, o vento em nosso rosto, a música indie tocando no rádio, um raro momento de paz na vida de um meio sangue.

.

.

.

Já havíamos passado por Seattle, estávamos há apenas 3 horas de nosso destino. Paramos em uma área de acampamentos na encosta de uma floresta para descansar. Há alguns metros de nós, um posto de gasolina com uma pequena loja de conveniência. Na área de camping uma placa informava o nome da floresta – Olympic National Forest – Olimpo, literalmente uma floresta dos Deuses, não tenho certeza se essa era uma boa coincidência ou não.

Algumas horas depois, quando fui tirada brutalmente do meu sono por uma Lucy gritando para eu acordar eu percebi – nunca é uma boa coincidência se tratando dos olimpianos.

Pela escuridão que estava o céu imaginei que já estivesse de madrugada, as únicas iluminações que tínhamos eram de dois postes de luz no camping e as luzes do posto de gasolina. Mesmo assim, a imagem do monstro a nossa frente estava bem nítida.

Lançando jatos de veneno em nossa direção estava a Hydra, um monstro enorme e escamoso com 9 cabeças, levantei-me rapidamente do meu saco de dormir, minha mente se ajustando rapidamente à gravidade da situação. A Hidra estava diante de nós, suas nove cabeças serpenteantes lançando jatos de veneno em nossa direção, cada uma mais mortal do que a outra.

Apertando minha pulseira e sentindo-a se transformar em minha fiel companheira – Thalassa, avancei em direção a Hydra com Lucy ao meu lado empunhando sua lança, e juntas fizemos a coisa mais burra do milênio. Cada uma de nós cortou uma cabeça do monstro e adivinhem? No lugar onde a cabeça foi cortada cresceu mais duas cabeças.

Nesse momento, imaginei Quiron em suas vestes de professor olhando para mim, em seu rosto, desapontamento, e um grande F em meu teste de história.

Pensa, Marina, como se mata esse monstro?

Um dos jatos de veneno atinge Lucy que vai ao chão gritando de dor, a Hydra parecia focada em acabar com a filha de Ares, nem se importando comigo ao lado. Eu tinha que fazer alguma coisa, obviamente eu fiz a coisa mais impulsiva e idiota possível.

-Olha eu aqui, filhote de cruz credo – gritei para ela (a Hydra, não Lucy) lançando uma pedra em uma de suas cabeças – vem me pegar bafo de veneno!

A notícia boa: ela parou de ir em direção a Lucy. A notícia ruim: ela veio em minha direção.

Fiz o que qualquer heroína que se preste faria em minha situação: corri! 

The Sea Daughter and the Immortal Beauty - Rosalie HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora