5. Isabela: o reencontro.

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            Era difícil acreditar que, há poucos metros de distância, ele me encarava, empalecido. Otávio Cruz, o garoto de ouro. Há meses não nos víamos e eu começava a estranhar aquela sensação estranha que surgia em mim. Mesmo com tudo o que acontecera, eu não conseguia evitar sentir um rápido embrulho em meu estômago. Como isso era possível, eu não sei. Depois de todo o sofrimento que eu havia causado a ele e a mim mesma, era de se estranhar que eu ainda sentisse algum tipo de reação à sua presença.

Me mudar para Búzios foi complicado, mas talvez as circunstâncias tenham tornado a situação um pouco mais fácil. Eu havia crescido em Brasília; eram ali que estavam meus amigos, minha família, meu primeiro amor... me adaptar à uma nova cidade e à novas pessoas não foi uma tarefa fácil, mas saber que eu não precisaria esbarrar em Otávio todos os dias me aliviava um pouco.

Quando falo sobre as circunstâncias, é exatamente a isso que me refiro. A Otávio, basicamente. Droga, era horrível vê-lo daquele jeito. Ele não andava cabisbaixo, com olheiras ou depressivo. Na verdade, sequer parecia estar triste. Mas eu o conhecia bem demais para saber que o que eu havia feito o havia destruído. Eu sabia, pelo jeito que o amigo dele me olhava, que meu nome não era referido em conversações amigáveis entre eles. Também pudera. Se maneira um pouco a situação, não houve um único dia que eu não me senti a pior pessoa do mundo.

Uma multidão nos separava, mas ainda assim eu podia sentir seus olhos pousados em mim. O som estava alto, as pessoas gritavam e cantavam, o mundo poderia acabar naquele exato momento, mas só o que importava é que ele estava ali; mesmo com todo o ódio que sentia por mim, ele havia me notado.

Senti a mão de Carolina agarrar a minha.

─Lembre-se: Você teve os seus motivos. Não tem por que se sentir mal.

Concordei com a cabeça e ela me guiou na direção oposta a que Otávio estava. O cheiro daquele lugar era horrível e, sinceramente, aquele era o último lugar que eu queria estar naquele momento. Porém, era muito importante para Carol que eu a acompanhasse; era a festa de seu novo namorado, afinal. Eu não o conhecia muito bem, o Keven. Conversamos uma única vez, mas foi o suficiente para me fazer perguntar o que havia atraído a Carol naquele cara. Ela era maravilhosa; linda, inteligente, independente... O que estava fazendo com um cara que sequer sabia a diferença entre falar e gritar?

Ela me puxou em direção a Keven e seu grupo de amigos universitários – mais inteligentes que ele, eu esperava.

─Oi gata. – Ele a recebeu com um beijo nos lábios e rapidamente olhou para mim. – Quem é essa?

─É a Bela. Eu te falei sobre ela milhares de vezes, Keven.

─Ah. Aquela que largou o amigo do meu primo?

Carol franziu as sobrancelhas em sinal de repreensão. Keven sequer pareceu notar.

─Está tudo bem, Carol. – Falei, fazendo pouco caso do comentário; - Sim, sou eu.

─Eu gosto do seu tipo, sabia? O tipo de mulher que tem um rostinho de anjo, mas aí pega você pelas bolas, te leva à loucura e depois te dá um pé na bunda. Cara, vocês são as melhores!

─Keven, você quer calar a boca?! – Carol o puxou para o canto e gritou algumas coisas para ele, enquanto um grupo ao redor se virava para prestar atenção na discussão. Os amigos dele e eu podíamos ouvir grande parte do que Carol falava, mas permanecemos em silêncio, olhando para os próprios pés, acenando para desconhecidos, contando os azulejos da parede...

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora