Cinco meses depois
Mateus já havia me ligado sete vezes naquele dia. Eu entendia toda a sua animação, afinal finalmente iríamos nos mudar para nosso novo apartamento, mas a verdade é que eu estava com um pouco de receio. Não queria deixar minha mãe sozinha, embora ela já estivesse morando com seu namorado. Era um cara legal, meio babaca às vezes, mas a tratava bem e parecia gostar de verdade dela. O problema é que havíamos passado minha vida inteira juntos. Nunca tive meu pai, sempre fomos apenas nós dois para o que desse e viesse. Era triste deixar tudo aquilo para trás e começar uma nova etapa em minha vida. Mesmo que aquilo implicasse com o fato de eu estar começando a faculdade de Jornalismo.
Essa etapa da minha vida foi muito intensa. De verdade, não existe uma melhor palavra para defini-la se não "intensidade". Toda a confusão amorosa com Isabela, a morte de sua mãe, sua volta ao Rio de Janeiro, minha nova adaptação, o ingresso na universidade. Foi tudo muito rápido e de uma vez só. Não houve tempo para processar nenhuma informação ou me habituar com qualquer que fosse a situação atual porque tudo estava mudando. Era muita mudança pra um período muito curto de tempo. Precisei me virar sozinho.
Quando eu soube que Isabela iria voltar para o Rio de Janeiro, não consegui sentir tristeza ou revolta. Claro que após tudo o que havíamos passado, vê-la partir tão facilmente era muito difícil, mas dada as circunstâncias, era compreensível. Se ficar junto à sua família naquele momento era a melhor maneira de superarem aquela tragédia, eu desejava que obtivessem sucesso. Era uma situação muito triste e seria muito egoísmo meu pedir para que ela ficasse ou implorar para que não me abandonasse.
Ela partiu duas semanas depois do enterro de Dona Regina. E essas duas semanas foram as mais lindas que já tivemos juntos. Ela ficava triste na maior parte do tempo, mas eu me sentia útil porque uma vez ou outra conseguia tirar um sorriso de seu rosto – e aquilo valia o mundo para mim.
Na verdade, não fazíamos nada além de ficar em casa assistindo à algum filme ou jogando algum jogo de tabuleiro. Uma vez ou outra saíamos com Olívia, Mateus e Carol, íamos ao cinema, ao Mister Mix ou à alguma lanchonete, mas foram os momentos a sós que me fizeram amá-la ainda mais. Mesmo em sua fraqueza, na tristeza de ver sua mãe partindo tão jovem, manteve-se firme e foi um suporte pra sua família. Cuidava de Elis enquanto o pai trabalhava os dois turnos(as vezes três), consolava Renato quando suas crises tornaram-se constantes e ainda tinha tempo para mim. Mesmo em meio a toda aquela tempestade, conseguia me fazer se sentir amado e feliz. Como eu poderia ficar triste com sua partida depois de todos aqueles momentos inesquecíveis que ela me proporcionou?
A notícia de que eu havia ingressado em Jornalismo na Universidade de Brasília veio três dias antes de sua partida. Estávamos juntos, na verdade, quando entramos no site e vimos meu nome em 5º lugar na lista de convocação. O grito que demos foi um uníssono perfeito de empolgação e ficou ainda maior quando percebemos que ela também havia conseguido passar em Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era uma vitória dupla que merecia ser comemorada em alto estilo. Foi nessa noite que fomos à um restaurante de comida japonesa. Os astros eram testemunha do quanto eu não gostava de comida japonesa, mas minha garota gostava e eu gostava de minha garota, o que nos leva a um resultado bastante previsível: eu faria tudo por Isabela.
Comemoramos muito e até bebemos um pouquinho. Pela primeira vez, ela substituiu a água com gás por uma dose de uísque. Conversamos e rimos durante a noite inteira. Por algumas horas, esquecemos que ela iria embora em três dias. Que passaríamos muito tempo sem nos ver, que, na verdade, nem sabíamos o que seria daquilo, o que seria de nós.
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Eu, você e o tempo entre nós
Teen FictionOs romances vitorianos só existem na literatura e Isabela tinha plena convicção disso. Ponto. Ao menos era o que achava ao pôr um ponto final em seu namoro com Otávio, após dois anos de um relacionamento que passeou por uma montanha-russa de emoções...