27. Paranoia (Por Otávio).

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                                                                                   Três anos depois

─Falo sério quando digo: Essa mulher ainda vai me enlouquecer. – Talvez não tenha sido uma boa ideia convidar Mateus para almoçar aqui em casa. Desde que chegara, tudo o que conseguia falar era sobre como Olívia era maravilhosa e, ao mesmo tempo, maluca. Eu estava feliz por eles terem reatado o namoro. Por mais equilibrado que possa ser, eu ainda preferia essa sua versão ao invés da versão deplorável de um Mateus bêbado e sofrendo de amor.

─Fico feliz por vocês estarem bem. – Falei, seguindo de um longo gole de uísque. Era preciso de uma ajuda pra continuar sorrindo em meio aos seus monólogos.

─Valeu, cara. – Ele respondeu, colocando o copo com cerveja sobre a mesa. – Mas e aí, sobre o que você queria falar?

Olhei para meus pés e percebi que estavam balançando nervosamente. Era um tique que eu tinha que aparecia quando eu estava em situações que me deixavam nervoso. Eu sabia que Laís estava trabalhando e que demoraria a voltar, mas ainda assim existia um receio em mim que impedia de desabafar o que estava preso em minha garganta. Eu não tinha certeza, afinal. Era apenas uma suposição. Mas como era possível que uma suposição se manifestasse de forma tão intensa?

─É a Laís, cara. – Eu queria falar, mas era como se um nódulo estivesse preso em minha garganta. O que isso significava? – Eu acho que ela esteja me traindo.

Aquilo chamou a atenção de Mateus, que, até então, estava absorto em seu mundo particular de adoração à Olívia. O que acontecia, que me fazia supor que aquilo estava acontecendo, era que ultimamente Laís estava distante, embora também estivesse excessivamente carinhosa. E a questão é que eu convivia tempo o suficiente com duas adolescentes para saber que esse não é um sinal muito bom. Marina e Melinda não me deixavam esquecer essas regras de relacionamento nem por um segundo. E por mais estúpido que pudesse ser, era o que vinha consumindo minha mente ultimamente.

Mateus aproximou-se para falar em voz baixa.

─E por que você acha isso?

Dei de ombros.

─Ela tem agido de maneira muito estranha ultimamente. – Tentei pensar em todas as coisas que, há dias, me faziam pensar que eram sinais de que ela estava tendo um caso. – Muitas ligações inesperadas, muitos atrasos do horário de trabalho, tem agido diferente... Muito carinhosa.

Mateus franziu as sobrancelhas.

─E isso é algo ruim?

─De acordo com Marina e Melinda.

─Então você está avaliando seu casamento de acordo com os conceitos definidos por duas garotas de quinze anos? – Ele falando assim, não fazia o mínimo sentido mesmo. – Olha, cara, o que você precisa fazer é conversar com ela e ver o que está acontecendo.

─E se ela não estiver? Vai ficar furiosa.

Mateus ponderou por um momento, a mão levada ao queixo.

─Faz sentido.

─Acha que é muito invasivo segui-la?

─Acho que não. – Ele respondeu. – Só não deixe que ela te flagre, porque aí sim o seu casamento vai acabar antes que a traição seja confirmada.

No primeiro ano de casamento, Laís e eu costumávamos sair todas às sextas-feiras para lugares que ainda não conhecíamos. Quando nossa lista de restaurantes e barzinhos foi diminuindo, começamos a repetir os lugares até o momento em que nossa tradição foi se tornando cada vez mais escassa.

Desde que terminei a faculdade de Jornalismo, arrumei um emprego na assessoria de uma empresa de roupas infantis e Laís, embora tivesse cursado Cinema, estava trabalhando na gerência de um dos maiores restaurantes de Brasília, o que exigia grande parte de seu tempo. Ela chegava em casa por volta das dez da noite, todos os dias úteis da semana e, aos fins de semana, era substituída pelo próprio dono do restaurante. Era, praticamente, o tempo que tínhamos juntos.

Aquele era um dia de sábado e ela tinha ido visitar os pais. Como eu tinha marcado de assistir o jogo com Mateus, preferi ficar em casa dessa vez. Quando ele foi embora, liguei para ela e a perguntei se gostaria de ir jantar em nosso restaurante japonês preferido, ao que ela concordou no mesmo instante.

Mais tarde, enquanto eu limpava a bagunça que Mateus e eu tínhamos feito na sala, uma ideia me ocorreu. Considerando que, todas as vezes que Laís ia visitar os pais insistia para que eu fosse junto, será que era lá mesmo que ela estava? Rezei para os deuses para não estar enlouquecendo, mas uma ideia ainda mais maluca veio em minha cabeça. E foi aí que eu peguei as chaves do carro e dirigi até a Asa Sul, onde seus pais moravam.

Pensei em ficar parado em frente à casa, mas além de ser muito estranho, mais parecido com um desses filmes de psicopata, também seria bastante suspeito, já que os vizinhos me conheciam. Estacionei do outro lado da rua e toquei a campainha, esperando que Laís viesse atender, como era de costume. Bem lá no fundo do meu consciente, eu torcia para que ela atendesse.

E ela atendeu.

─Otávio? – Perguntou, confusa. – O que está fazendo aqui?

Uma onda de alívio me consumiu ao mesmo tempo em que eu me sentia o cara mais estúpido e idiota da face da tarde.

─Só queria te ver. – Falei, ao que ela sorriu e me deu um beijo.

─Venha, entre.

Após isso eu precisei escutar um diálogo chato e entediante sobre o último jogo do Palmeiras contra o Corinthians. Eu já estava acostumado com aquilo, a família de Laís era uma dessas fanáticas por futebol, desde o patriarca, seu pai, até às crianças que só não corriam feito malucos pela casa quando se iniciava a partida. Por mais que aquele fosse quase um sacrifício por mim, eu conformava pelo fato de que Laís estava ali e, provavelmente, não estava me traindo. Ou talvez estivesse e apenas naquele momento não estava.

Cara. Qual era o meu problema?

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora