12. Isabela: como conheci João.

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Mudar-se para uma cidade nova é assustador. Você deixou pessoas importantes para trás, teve que se desfazer de lugares e momentos que foram muito importantes pra sua vida e agora tem de se virar pra conhecer novas pessoas, novos lugares e, se tiver sorte, construir novas memórias de momentos inesquecíveis.

A sombra da dúvida te persegue. Será que você vai gostar desse lugar? Você vai encontrar uma nova melhor amiga? Vai demorar muito pra que você conheça várias pessoas? Como se aproximar sem assustar as pessoas ou parecer muito intrometida ou muito inapropriada? Nos piores momentos, nenhuma dessas perguntas te deixam em paz. É um fantasma que vai te perseguir até que, no primeiro dia de aula, na sua nova escola da sua nova cidade, alguém vai se comover com a sua expressão assustada por não conhecer absolutamente na sala, vai chegar de mansinho ao lado da sua carteira e dizer:

─Oi.

Foi assim que João se aproximou. Era o meu primeiro dia de aula em Búzios. Eu tinha falado com Carol logo pela manhã, mas claro que não era a mesma coisa. Eu sentia muito a falta da minha melhor amiga. Eu não sabia se Otávio ouvira falar sobre minha mudança; também não o procurei pra me despedir. Com as circunstâncias em que estávamos envolvidos, eu duvidava que ele quisesse me ver – mesmo que fosse pela última vez.

─Não se preocupe. – Carol tinha dito pela manhã. – Você logo vai encontrar uma amiga. Ela não vai ser mais bonita do que eu, obviamente. E nem vou falar sobre ser inteligente. Mas certamente vai ser uma garota legal.

─Sua autoestima é animadora.

─Tem que ser. Ah! E de cara vai encontrar um gato também. Ouvi dizer que os cariocas são excelentes no que fazem.

Sorri.

─Só você pra me animar.

─Por enquanto. Em breve você vai ser animada por algum moço do corpo dourado do sol de Ipanema. Agora tenho que ir, Belinha! Não se esqueça de que te amo.

Eu sabia que a pior parte de toda essa mudança seria a falta que Carol me faria. Eu amava Brasília, amava meus outros amigos, minha antiga casa, trabalhar na Casa de Repouso; mas Carol era como um pedaço de mim. O que me consolava era um pequeno calendário que havíamos feito juntas antes de eu partir. Se tratava de feriados onde poderíamos viajar uma pra casa da outra. No natal e ano novo, eu ia para Brasília. No carnaval, ela vinha para o Rio. Claro que por esse último ela fez questão. Culpada seja a pessoa que lhe falou bem sobre os garotos cariocas.

João puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado.

─Meu nome é João. Meus pais me chamam de Iago, na verdade; mas já tinha um Iago aqui quando cheguei, então pegou o segundo nome.

Sorri gentilmente.

─Eu sou Isabela. Pode me chamar de Bela, se você quiser.

─É um apelido bem apropriado.

Meu sorriso aumentou.

─Bem, obrigada, João.

─Turma! Desfaçam os grupinhos, voltem para seus lugares. Agora é hora de estudar Química orgânica!

Entre murmúrios e resmungos, meus novos colegas de classe voltaram para seus lugares, enquanto um professor baixinho e calvo anotava algumas coisas na lousa. João mandou uma piscadela e voltou para seu lugar, no outro lado da sala.

As três primeiras aulas passaram rapidamente, diferente do que eu pensava. Nenhum professor me fez ir à frente da turma e dizer meu nome, nenhuma garota havia me encarado com maus olhos, ninguém havia colocado um sapo na minha mochila: estava sendo um primeiro dia de aula até legal.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora