30. Tempestade (Por Otávio).

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Já se passavam de uma hora da manhã quando chegamos em casa. Não esperávamos que o casamento terminaria muito tarde, já que desde o início Renato havia afirmado que seria uma cerimônia simples, com poucos convidados e nada muito glamoroso. Apesar disso, tinha sido uma cerimônia bonita. Eu percebi os olhos de Isabela brilhando com as lágrimas que se formavam e sabia que isso se devia ao fato de que sua mãe não estava ali para comemorar aquele momento. Minha vontade era de abraça-la, mas não seria certo. Por mais que Laís dissesse que estava bem, eu sabia que a presença de Isabela não a deixava inteiramente a vontade.

Pra ser sincero, o convite de Renato havia me surpreendido. Nós nos falávamos sempre que nos víamos, ele perguntava como estava meu casamento, eu o perguntava sobre Isabela e sua filha, mas eu não sabia se éramos amigos. Fiquei feliz pelo convite, porque embora os contratempos da vida tivessem nos afastado, aquilo era um sinal de que ele ainda me via como um amigo.

Laís não disse muitas palavras no casamento nem quando chegamos em casa. Eu sabia que ela estava exausta, seu turno tinha sido muito puxado e, ainda assim, ela não contestou em nenhum momento sobre ir ao casamento. Mesmo com os olhos cansados e a aparência exausta, me acompanhou até a cerimônia apesar, também, de não estarmos na melhor fase de nosso casamento.

Não que estivéssemos brigando, porque não estávamos. Na verdade, não discutíamos há um bom tempo. O problema era que com os desencontros provocados por nossos empregos, raramente tínhamos um momento juntos. Geralmente aos fins de semana, mas estávamos ambos exaustos. Eu tinha conhecimento de que aquilo não era nem um pouco saudável para o nosso casamento, mas sentia que não havia nada que eu pudesse fazer.

Estávamos trocando de roupa no quarto. Eu desatava minha gravata e Laís retirava sua maquiagem. Estava passando Mad Max na TV e uma chuva fina começava a cair do outro lado da janela.

─Chuva agora? – Falei quase imperceptivelmente. Ela olhou através da janela.

─Estranho mesmo. – Laís concordou. – Talvez seja o presente celestial para Renato e Marília.

Sorri.

─Talvez seja.

Ela vestiu seu pijama e veio até mim para dar-me um beijo. Segurei sua cintura e me permiti ser beijado. Seus lábios estavam frios e ressecados, suas mãos, geladas. Quando se afastou, percebi que tremia de frio.

─Frio e sono não é uma combinação muito boa. – Falou enquanto caminhava para a cama.

─Você precisa dormir. Já cobrei muito de você hoje.

─Não é cobrança se eu fiz por vontade própria. – Ela disse. – Além disso eu estou precisando distrair minha mente. Viver rodeada de tragédias o tempo todo não está me fazendo muito bem.

─Pois então – falei, beijando-lhe o topo da cabeça – no próximo final de semana vamos viajar. Sempre quis ir pra Mato Grosso. O que acha de Bonito?

Instantaneamente notei a animação em forma de brilho nos seus olhos.

─Acho lindo!

─Então tá tudo certo.

Ela me beijou novamente e não demorou muito para que dormisse. A exaustão estava tão grande que ela sequer disse "boa noite" como costumava fazer. Fui até o banheiro para escovar os dentes e, quando voltei, notei que havia uma mensagem não lida em meu celular. Desbloqueei rapidamente e percebi que era um número desconhecido, mas quando li a mensagem, nem precisei pensar duas vezes para saber de quem se tratava.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora