Os pais de Mateus haviam ido mais cedo porque precisariam passar no escritório antes. A desculpa era que precisavam atualizar alguns casos( eram advogados), mas sabíamos que era apenas uma desculpa para "ficarem a sós". Mateus odiava que a palavra sexo fosse aplicada a seus pais, embora soubéssemos que era isso que se tratava. Havíamos descoberto da pior maneira possível: Costumávamos sair aos sábados para beber algumas cervejas longe de casa e de qualquer conhecido que pudesse nos ver e nos dedurar para nossos pais. Geralmente, íamos para o escritório. Nesse dia, o pai de Mateus havia acabado de chegar de viagem e, para comemorar um aniversário de casamento que tinha sido na semana anterior, levou a mãe de Mateus para um jantar num desses restaurantes chiques que pessoas ricas frequentam. Achamos aquela oportunidade perfeita para pegarmos algumas cervejas do frigobar do Sr. Feghali – com a desculpa de que, posteriormente, iríamos devolver, o que era óbvio que não faríamos. A irmã mais velha de Matheus estava em casa e, por mais que pudéssemos nos trancar em seu quarto e colocar música em som alto, ela sempre conseguia nos vigiar através de um buraquinho na parede colada ao banheiro. Ela não sabia, mas nós havíamos descoberto aquele buraco há anos. Pegamos as cervejas e fomos para o escritório. A primeira coisa estranha foi o carro do Sr. Feghali estacionado na entrada. Imaginamos que ele havia passado ali para atualizar algum caso, pegar alguma coisa, então demos a volta no escritório e olhamos por uma abertura da janela lateral. Foi quando vimos aquela imagem... peculiar. Nos afastamos rapidamente e Mateus ameaçava vomitar. Eu apenas fiquei imaginando como a Sr.ª Feghali conseguia ser tão flexível.
Depois daquele trauma, nossas saídas aos sábados acabaram. Mateus ficou realmente traumatizado. Fiquei com medo de que aquilo o afetasse, mas depois percebi que grande parte de seu "trauma", era drama. Ele me fez prometer que aquela história não sairia dali e eu, obviamente, concordei. Morte da história dos pais de Mateus. Se bem que era impossível não lembrar toda vez que eu via a Sr.ª Feghali sorrindo gentilmente para mim.
Primeiro passamos na casa de Olívia. Combinamos que iríamos busca-la às 19:30 e já faltavam dez minutos para às 20:00. Mateus passou o caminho inteiro resmungando que havia atrasado por minha culpa, mas eu sabia que Olívia não se importaria nem um pouco. Eu a conhecia muito bem para saber que ela tinha um conceito próprio que dizia que atraso é sinal de elegância. Eu já imaginava a cena que aconteceria no casamento daquelas dois: Olívia se atrasaria duas horas, Mateus ficaria estressado, o casamento atrasaria por mais quarenta minutos porque eles iriam ter uma longa discussão e, por fim, casariam e se beijariam como se nada daquilo tivesse acontecido.
─Ela vai me matar. – Ele disse assim que estacionamos o carro.
─Relaxe, cara.
Só foi preciso buzinar uma vez e ela já abriu a porta. Mateus esperava uma Olívia furiosa, olhos sangrando e caninos expostos, mas nos deparamos com uma Olívia sorridente, tranquila e linda. Ela deu um beijo na mãe – que era igual à ela – e caminhou até nós. Entrou no carro com o mesmo sorriso e se inclinou para dar um beijo em Mateus.
─Vamos lá, garotos.
Eu não olhei para ter certeza, mas podia jurar que Mateus suspirou aliviado. Acenamos para a mãe de Olívia e voltamos à estrada. Dessa vez, em direção à casa da Bruna.
─Seus pais não vão? – Mateus perguntou à Olívia.
─Vão sim. Mamãe está esperando papai tomar café. Sabe como é.
O pai de Olívia era uma personificação de 200 quilos do sedentarismo. Tudo o que fazia na vida era comer e beber cerveja. Era difícil imaginar que Olívia havia sido gerada com a ajuda daquele cara.
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Eu, você e o tempo entre nós
Teen FictionOs romances vitorianos só existem na literatura e Isabela tinha plena convicção disso. Ponto. Ao menos era o que achava ao pôr um ponto final em seu namoro com Otávio, após dois anos de um relacionamento que passeou por uma montanha-russa de emoções...