13.2. Confusão (Por Otávio).

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                                                                            Seis meses depois

   

         Já havia um tempo que Bruna e eu não saíamos juntos. Nos últimos meses, havíamos gastado mais tempo brigando do que qualquer coisa. O que não era tão estranho já que discussões e desentendimentos acompanhava a gente desde o nosso primeiro mês de namoro. Se eu olhasse para a esquerda, eu estava procurando por Isabela. Se eu olhasse para a direita, Isabela havia passado e eu não conseguia parar de olhá-la. 90% de nossas brigas resumiam-se a isso, ou melhor, a Isabela.

No nosso aniversário de dois meses de namoro, fomos ao cinema. Tive que gastar 90 minutos da minha vida para assistir à estreia de Atividade Paranormal 4. Deus era testemunha do quanto eu odiava essa franquia. Na sala ao lado, estavam exibindo Moonrise Kingdom, da obra prima e presente para os olhos de Wes Anderson; mas não fomos assisti-lo porque ela odiava Os excêntricos Tenenbaums. Dizia que era muito parado, "um sonífero", em suas palavras. Eu respeitei, claro, e falei que podíamos ver outro filme. Vimos que 007 – Operação Skyfall também estava sendo exibido nesse horário, mas quando Bela passou correndo pela fila, juntando-se a um cara que eu não conhecia e pedindo duas entradas para ver o filme, eu tinha certeza de que Bruna não o escolheria.

Dito e feito. Terminamos com duas entradas para o filme de terror mais patético que eu já tive o desprazer de assistir. Sério que existem pessoas que acreditam naquilo?

Mas talvez a pior parte não tenha sido o filme. Tive que aguentar os 90 minutos ouvindo Bruna falar que eu estava com ciúmes por ter visto Bela com outro garoto, quando na verdade eu não tinha sequer parado pra pensar nisso. Até então.

Eu achava que era um garoto do curso de inglês. Não me parecia estranho. Tinha uma barba com falhas e sobrancelhas escuras. Éramos quase da mesma altura e ele era sorridente até demais. Eu me sentia feliz com Bruna – quando não estávamos brigando, obviamente – mas eu não pensava que ficaria pensativo ao ver Bela seguindo em frente; o que era uma bobagem. Se eu podia seguir em frente, por que ela não poderia? Eu culpabilizo Bruna por me fazer ficar pensando nisso a noite inteira. Lá se foi o nosso encontro de dois meses de namoro por água a baixo.

Um pouco mais à frente, no aniversário de onze anos das gêmeas, mais um desentendimento. Isabela foi convidada e não lidamos de uma boa maneira com isso. Por mais que as gêmeas dissessem para mim que odiavam a Bela e tudo mais, eu sabia que o diziam simplesmente para me fazer se sentir melhor. No fundo, a adoravam. Conforme meu relacionamento com Bruna fosse se estabelecendo, mostrando-se mais forte, Marina e Melinda perceberam que eu não era mais aquele cara depreciativo e pararam de rebaixar Bela ao pior tipo da espécie humana. Pelo contrário, voltaram a ser amigas. Obviamente, não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. O problema era enfiar isso na cabeça de Bruna.

Constrangimento era uma redundância para definir Bela nessa festa. Ficou jogada no sofá, intuída no canto, bebendo seu refrigerante e dizendo "Olá" para uma ou duas pessoas que passavam. Claro que ela havia notado a neurose de Bruna. Até a mãe, que muito raramente opina algo sobre minha vida, aproximou-se e sussurrou:

─Controle sua garota.

Uns quinze minutos depois disso, cheguei ao meu ápice de baboseiras por um dia. Larguei Bruna na festa e pedi que Mateus dirigisse para o lugar mais distante possível. Acabamos parando na Mister Mix.

─Cara, você vai enlouquecer. – Ele falou no exato momento em que a garçonete trouxe nossos milk-shakes. Ficou olhando a garota se afastar como se não visse uma mulher há dias. Ele e Olívia também não estavam em seu melhor momento.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora